domingo, 29 de junho de 2014

Escrita Criativa #5


Quarta-feira, 25 de Junho de 2014

Desafio
O contrato estava assinado. 
Explore o enredo, usando no máximo 400 palavras. 

Era um dia como o de hoje… Cinzento, com raios de luz que timidamente nos tocavam, uma brisa fria que combinava com o nervoso miudinho que se impunha… e a tua expressão, indecifrável, cinzenta para não descortinar e fria para não aquecer os ânimos. Sempre disseste que o papel reduziria o sonho e que, amarrado, não conseguirias amar. Sempre te disse que o papel legitimaria o sonho e que nos permitiria voar. Juntos. Há dias cinzentos que nos permitem pensar e há dias cinzentos que nos param o pensamento. É assim uma terra do meio, onde impera o talvez. Talvez para sempre. Penso eu. Talvez nunca. Pensas tu. Também tenho esta estranha mania de achar que sei o que tu pensas ou, pior, de achar que pensas muito para além do que dizes, como eu, como se soubesses o que é esconder as palavras atrás das nuvens, à espera da tempestade.

Acordei cansada. Já sabia que não teria energia para te argumentar. A tempestade já fora, mas o sol ainda não chegara. Há dias assim, em que a mudança fica suspensa e o ar preso na inspiração. Falta uma assinatura. Falta um papel. E o sonho acabará para a vida poder continuar. O fim dos sonhos não é triste, é só um acordar, e aprendi contigo que se fecha os olhos para se poder amar. Fechei os olhos aos sinais, não queria ver nem saber demais.

Chegaste primeiro, esperavas sentado e recto no banco corrido. Se a tristeza é fria, estavas triste, mas ainda hoje não sei. De fato cinzento, sem cor nem dor. Nem amor. Cruzei-me contigo, mas deixámos a boa educação de parte – há alturas em que de nada serve, a não ser mentir. E o silêncio não sabe mentir.

Usaste a esferográfica que te ofereci, com o teu M (de maldição?), como que a dizer que vou contigo, ainda que não. A mesma do dia dos votos. A mesma para a separação. O contrato, um dia assinado, foi neste dia desfeito. Disseste que não havia outro jeito.

Sem contratos, a vida é simplificada ao ponto da experiência. Não me poderia apegar sem assinar. Ele não se poderia apegar assinando. Ainda hoje os dias cinzentos me obrigam a chorar o que as nuvens seguram. Parece que o mundo se cala para ouvir. E o silêncio não sabe mentir. 

(silêncio)

O contrato estava assinado, porra!


(chove lá fora… finalmente

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