terça-feira, 31 de março de 2015


A semana passada diziam-me:

"Há pessoas que têm de sofrer. Em Portugal há muito disso, de pessoas que têm de sofrer. Não há nada a fazer. Não há nada a fazer. É como uma rendição. Não há nada a fazer."

"Pois, mas arrastam os outros com elas..."

"É esse o objetivo!"

A frase "Não há nada a fazer" causa-me uma angústia que não consigo pôr em mais palavras. Nem sequer é impotência, é mesmo tristeza.

o meu elefante-zebra, afogado em água, salvo seja...
https://www.humana-mente.com/index.aspx?p=ProdDetail&ProdId=49

quinta-feira, 26 de março de 2015



As conversas e as perguntas que me vão fazendo ajudam-me na minha definição de quem sou hoje e também no desenvolvimento das minhas teorias.

Sempre tive um lado inteletual muito marcado, não por ter gostos elitistas, mas porque sempre gostei de pensar, fazer perguntas, procurar respostas, ler e aprender. A minha estratégia para lidar com a realidade é compreendê-la. Quando lhe dou um sentido, tudo se acalma em mim e não sou atropelada pelas emoções. A Psicologia tem muito disto, categorizar, encaixar, nomear e controlar. Isto é por causa disto que é por causa daquilo e bate tudo certo. Adoro escrever sobre os afetos porque sinto na minha vida e na história dos outros que são o que nos aproxima e afasta, mas não falo neles. Ainda me lembro da pergunta do terapeuta: "Então e o que sente por este homem?" ... Bloqueio.

Sempre tive um lado sentimental tão visível quanto escondido. Durante algum tempo fui incontinente, chorava horas seguidas porque ninguém me compreendia. Com terapia, fui conseguindo elevar paredes para esta inquietação, com portas, janelas e chaminés como saídas. A expressão não-verbal é a minha especialidade, porque acredito mesmo na criatividade como veículo privilegiado de cura (desde que não se fique só nesse registo) mas também porque foi no corpo e nas artes que fui encontrando a minha forma de estar de forma honesta. Ainda hoje as palavras me escondem tudo. 

Com o tempo fui descobrindo outro lado em mim, que nunca ninguém me ensinou que tinha: o intuitivo, o sensitivo. A intuição está mais perto do instinto, da sensação, do sensorial do que do sentimento, mas também do espiritual. É aqui que eu me sinto, é aqui que quero estar. Se fizesse um desenho, talvez representasse a intuição como a síntese do físico com o espiritual. As decisões integram todas as dimensões, física, emocional, mental e espiritual, mas o que me guia nas escolhas é a intuição, é o sentir, um sentir que sabe sem saber como sabe, que mora nos instintos e nos sentidos, os que apreendem a realidade sem a compreender. E tanto mora no coração, como no estômago ou na barriga, no sistema nervoso autónomo e tantas vezes na cabeça, quando nos surge um pensamento ou uma imagem, repentinamente. 

Nunca fui precipitada, sempre fui de pensar e ruminar muito antes de fazer. Claro que tenho de dar a volta toda pelos pensamentos e pelas emoções antes de fazer ou enquanto faço. Não perdi isso, mas escolhi guiar-me pelo coração, não pelas emoções mas pela intuição, porque senti e experiencio todos os dias que é assim que a vida se dá de forma mágica. Esse foi o meu caminho para começar a apaixonar-me pela vida e pelas pessoas. 

Energeticamente falando, posso dizer que o meu chackra cardíaco me faz chegar às pessoas certas e dou por mim a estabelecer relações empáticas à velocidade do não-tempo e do não-espaço, sem razão. A intuição pede entrega e, quando o medo é maior, entram os pensamentos e as emoções para centrifugar o turbilhão. Será que sim, será que não? É isto, não é isto? É o que é, mais nada. E era tudo muito mais simples se deixássemos que as coisas fossem apenas o que são para serem tudo o que podem ser. Eventualmente. 
  




Utentes do CRID


"As pessoas não mudam."

As pessoas têm medo de mudar e escolhem não mudar porque é assustador fazer diferente. Ou simplesmente não querem. E quando não se quer, não há nada a fazer. 

Acredito que as pessoas não mudam a sua essência porque essa não deve sequer ser questionada, mas quebram-se barreiras, fazem-se aprendizagens, o ego perde protagonismo e cresce-se - se houver consciência, vontade e alma que não seja pequena. Portanto, para mim mudança é simplesmente a evolução natural das coisas. 

Por outro lado, acredito que a natureza é equilibrada ou, pelo menos, visa o equilíbrio. Nesse sentido, a mudança também nos permite vivenciar o outro lado das nossas coisas, um lado que também é nosso mas que não se manifesta até que o despertem. 

Ninguém muda ninguém a não ser o próprio, mas só através do outro (e dos eventos da vida, para os mais teimosos) pode haver mudança, porque é no outro e nas suas reações que nos revemos, é com o outro que nos identificamos, diferimos ou complementamos. Sem espelho não há reflexo/ão, não há consciência. E sem amor então, não há razão nenhuma, nem para mudar, nem para viver (venha ele de onde vier)!    

As pessoas mudam porque eu mudei e teria de mudar de profissão se assim não fosse. "Quem te viu e quem te vê!" é a célebre frase que prova isso. Um dia estas descobrem que não mudaram, mas só ficaram mais elas próprias porque se descobriram muito mais completas. É esta a magia da mudança, ser-se mais do que se era. 

Foi o que me aconteceu com o cancro - e muitos outros desafios da vida. Não mudei, fiquei mais eu do que nunca, mas hoje sei que ser mais eu é também mudança. E é também não me reconhecer muitas vezes. E é também sentir-me a meio caminho entre o que era e o que sou. Mas é sobretudo abrir-me a outros lados meus, sendo que os antigos estão todos cá, sem tirar nem pôr.  

O meu maior medo sempre foi o de me entregar num relacionamento afetivo, mas era pior ainda do que isto: não conseguir ligar-me, apaixonar-me. E invejava todas as minhas amigas que se apaixonavam perdidamente, ao jeito da Florbela Espanca, como a R., que até morava na Rua Florbela Espanca, para não haver dúvidas! Nunca tive um namorado que não tivesse de partir pedra para que o namoro se desse - todas as pedras que eu fazia questão de pôr no caminho e cada pedra que eu me lembrasse de levar na mão! Nunca acreditei no casamento, mas honestamente acho que sempre tive esperança de que alguém me viesse um dia provar o contrário! 

Hoje sei, por experiência própria, que sou mais infeliz se não conseguir amar do que se não for amada. Hoje sei que não são os outros que têm de me provar nada, mas hoje também sei que sou eu que quero que me provem tudo. 

(imagem google)







terça-feira, 24 de março de 2015


Aguardava-te, Primavera. 
Em sol, luz, risos e calor em mim. 
Aguardava-te, Primavera. 

Tão bonita quanto incerta, 
Tão amante quanto desconcertante
És a janela do Inverno aberta
Quisera eu prolongar-te num instante.


No Sábado fui assistir a uma performance da responsabilidade da produtora À Carta, apresentada por quatro jovens artistas que deram movimento, música, interpretação e humor à Poesia.

A proposta deste projeto é a de dinamizar espaços com atuações multifacetadas que integram diversas áreas artísticas: teatro, dança, música, artes visuais, técnicas circenses e comédia. O grupo consegue fazê-lo de uma forma tão natural quanto original: de um menú performativo o público deve escolher a mini-performance a que quer assistir, sendo-lhe dada a possibilidade de ver todas as propostas, numa sequência aleatória para os artistas. Cada performance é criada de raíz no e para o espaço parceiro, constituindo este o cenário das peças que apresentam. Neste dia a apresentação aconteceu no BUS - Paragem Cultural, nos Anjos, em Lisboa. 

Era o dia Mundial da Poesia e, em cada performance, foram revisitados vários poetas portugueses, de épocas e características distintas, entre eles: João Negreiros, Matilde Campilho, António Aleixo, António Botto, Fernando Pessoa, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Mário de Sá-Carneiro. Com apenas alguns adereços de cena e figurinos, conseguiram que a simplicidade os aproximasse do público que, sendo envolvido na escolha do alinhamento, não conseguiu distrair-se dos versos entoados, representados e dançados durante a noite. 


Arte é construção e desconstrução num (des)romance permanente. Reside na capacidade de transformação pelo impulso criativo o compromisso de permitir que a vida te crie e recrie alegremente, mesmo nos dias em que não estás para brincadeiras, aqueles em que a realidade se impõe. A arte para mim fica a meio caminho entre o sonho e a realidade, é a ponte que me permite ir visitar uma margem e a outra, sem desistir de nenhuma delas. Dizia o Freud que o sonho é a manifestação de um desejo. E o produto criativo tem essa magia, a de tornar legítimos todos os desejos, justos todos os sonhos, abraçando todos os fantasmas. Não há arte sem fantasmas. 

E assim começou esta Primavera, de forma poética...

sexta-feira, 20 de março de 2015



Parece que estamos todos de acordo com a ideia de que é importante ser feliz ou permitir-se ser feliz. Diz-se também que a felicidade é uma escolha. Eu acrescentaria um escape. Vejamos: a vida está difícil, vou ali ser feliz e já venho! E resulta! 

Hoje eu consigo entender a felicidade como independente do que nos acontece na vida porque, objetivamente falando, sou muito mais feliz aos 30 do que era aos 20 e, desde os 30, os desafios têm vindo a aumentar exponencialmente. Quer isso dizer que, à medida que me acontecem desgraças, aumenta o meu quociente de felicidade. Porquê? O escape. "Vou ali ser feliz e já venho!"

Eu, para ser feliz, tenho de saber:

- distanciar-me, observar a minha vida como se fosse um filme;
- aproximar-me, diluir-me em cada momento que vivo;
- brincar com o que me acontece;
- confiar;

Sou mais feliz hoje porque estou mais feliz com a pessoa que sou hoje, não me persigo tanto, não me julgo ou culpabilizo como antigamente e não passo a vida a pensar que devia ser tudo diferente do que aquilo que é. E quando é tudo muito, "vou ali e já venho!" que é o mesmo que dizer "Espera aí que eu vou mesmo deixar de ser feliz porque... Jesus morreu na cruz!" 

A responsabilidade é irmã da felicidade. Nos dias em que me sinto a morrer na cruz, sei que posso ressuscitar. Também sei que o drama, a maldade, a dor e o sofrimento fazem parte da vida (e de mim e de todos), mas escolhi aceitar isso e ser feliz. E, no dia em que não tiver mais vidas para gastar aqui, acredito que, no outro lado, vai ser tudo mais pacífico. Aqui, no entanto, parece tudo mais animado...

P.S. A felicidade permite chorar porque ser feliz é poder ser o que se é. Se os outros não aguentam, responde "Vou ali ser feliz e já venho!" Aos soluços, claro. 


quinta-feira, 19 de março de 2015


Hoje é o dia do Pai. Andei à procura de fotografias com o meu pai e percebi que tenho poucas. Tenho poucas porque era ele que ficava atrás da câmara! E é assim o Pai Toy, pouco dado às luzes da ribalta, com uma presença discreta mas constante: os outros que brilhem. Foi assim que eu recebi a Luz que herdei do seu nome, a que me permitirá continuar a ver o caminho, seja qual for o desafio que a vida nos apresente. Luz minha que é dele, o Pai Toy.  

quarta-feira, 18 de março de 2015


O post anterior era para se chamar "Das dores e dos amores" mas acabei por separar o tema em dois artigos diferentes, até porque foram inspirados em duas pessoas diferentes. 

O amor está na moda, mas está sobretudo na moda o amor próprio. Tenho de gostar de mim, se eu não gostar de mim, quem gostará, bla bla bla, whiskas saquetas. Se não estamos bem connosco próprios, não vamos estar bem com mais ninguém. A nossa felicidade não pode depender dos outros and so on...

Eu também já devo ter escrito tudo isto e assino por baixo. Eu sou aquela que diz "Contigo sou feliz. Sem ti também.", o que não quer dizer que não tenha morrido e renascido várias vezes de desgosto! Eu sou aquela que diz "Tristeza, podes vir porque eu sei que sou feliz!" mas também andei de careca pintada pela rua - dê-se um desconto!

Mas hoje vou exatamente para o lado contrário. Claro que é importante que gostem de nós e, principalmente, sermos importantes para alguém! Como alguém gosta de si se nunca sentiu que alguém realmente gostasse? Vale a pena lutar por mim se mais ninguém lutar comigo? Da mesma forma que vamos ganhando autonomia na vida, de bebé até à vida adulta, o amor só se torna próprio com o crescimento. Primeiro depende-se, depois autonomiza-se: interioriza-se, torna-se intracelular. Depois é um permanente jogo de dependência/independência. 

O amor começa dependente e só depois se torna próprio e andamos nesta dialética pela vida fora. Não há cura sem saber receber, depender, entregar. Não há cura sem o outro, muito embora só dependa de ti. (Agora parecia o meu amigo Gustavo! Respect!) 

No que realmente acredito é que o amor não está em lado nenhum e está em todo o lado. É um direito que assiste a vida, por si só. Nascer só pode ser um ato de amor e coragem e chora-se a plenos pulmões. Mas dá-me um abraço, já diz a música. 


Autoria: Eugeniu (CRID - Centro de Reabilitação e Integração de Deficientes)

terça-feira, 17 de março de 2015


Abracei a missão de acolher a dor dos outros através do amor. Por conta disso, acontece muitas vezes a dor ser o tema de conversa, seja porque não há muito espaço para falar no que dói nas vidas do do-ente, seja porque a sociedade já está cheia de marias das dores, seja por ser mais prestigiante ser forte e otimista.

"Disse que hoje é assim.", disseram-me, em jeito de "como se noutro dia fosse ser diferente!" Na verdade não sei. Só sei do dia de hoje. Eu não sei se a dor vai deixar de doer mas também não sei se não vai deixar de doer. Por que não?

Eu não sou um receptáculo das dores, eu contacto com o lado afetivo da dor, aquele que procura o amor. Na verdade acho que um do-ente, aquele que dói, não precisa de mais nada. Mas eu sou aquela que acha que o amor é o melhor remédio para a humanidade.

A verdade é que, quando as pessoas falam da dor com honestidade, estão a falar de amor, porque estão a abrir o coração. Fazer queixinhas e culpabilizar a vida e os outros não é honestidade, é uma manobra de diversão.

A dor ocupa muito espaço na vida de uma pessoa, tanto que às vezes a primeira coisa que faço é perguntar por "ela". A verdade é que eu acredito mesmo (e sei) que pode deixar de doer, mas muitas vezes a dor é a maior das companhias e a dor, ainda que de uma forma pervertida, permite sentir a vida todos os dias.

Não posso dizer que vai deixar de doer porque eu não sei e não me cabe a mim saber: o futuro simplesmente não existe. Paradoxalmente, acho que acreditar é mesmo a única forma de garantir o futuro, ainda que o presente não nos ofereça qualquer garantia. E eu sei, por experiência própria, que é possível viver sem garantia. É de resto a única forma de viver sem amarras.

Por que não?

Por que não ser feliz?










terça-feira, 10 de março de 2015


Em comum nos blogs e nos projetos que vão surgindo no âmbito da oncologia, por parte de doentes e ex-doentes oncológicos, há a criatividade, o otimismo, a visão construtiva, o amor e tudo o que está nos antípodas da dor, ainda que de mãos dadas com a mesma. Todos queremos cor, boa-disposição, energias positivas e esperança à nossa volta, excepto nos dias em que não queremos nada disso. Excepto esses, até porque a dor vem para doer (e não há dor que deixe de doer sem doer). Mas... e rir, será o melhor remédio?

No passado dia 18 de Fevereiro, conheci a Marine Antunes do Cancro com Humor - ou o Cancro com Humor é que é da Marine Antunes, não sei muito bem - uma mulher pro-cri-ativa e arrebatadora, que já acompanho virtualmente desde 2013. Tenho sempre algumas reticências relativamente a discursos todos-positivos, porque muitas vezes constituem uma negação do que de mais doloroso existe em nós e isso simplesmente não corresponde à verdade. Com a Marine sempre senti verdade. E humanidade.

De uma forma muito simplista, para mim o humor pode ser ódio e pode ser amor; pode destruir, mas também pode desarmar; pode ser destrutivo ou criativo; pode ser o que se quiser que seja. Brincar com coisas sérias tem de ter a rebeldia do menino que quer partir tudo, principalmente quando já tudo o partiu, juntamente com a bondade do mesmo menino que só quer ser feliz. Por isso disse simplista. Porque a fronteira se dilui. 

Foi no espaço Atmosfera M, entrevistada pela jornalista Fernanda Freitas, que a Marine partilhou connosco um bocadinho da sua receita. Juntamente com ela, a ilustradora Cristiana Costa, para apresentarem o cancro aos quadradinhos. Não, não é o cancro atrás das grades, mas, sim, banda desenhada com uma Careca Power como protagonista, uma senhora toda-muito-ela que, se um dia encontrar o cancro outra vez, vai perguntar: "Quantos são??"

Quando brincamos com o cancro - eu também o faço - nós não brincamos com o fulano cancro (eu só brinco com pessoas de quem gosto), nós brincamos com o cancro-em-nós, que é o mesmo que dizer com uma parte nossa, connosco, ainda que nos possamos referir a ele como um intruso. Mas toda a gente sabe que todas as nossas partes desagradáveis são intrusas porque nós nascemos lindas! E a celulite é voodoo! 

Por outro lado, com os inimigos não se brinca; goza-se à grande! Muito embora eu não sinta o cancro como inimigo - sinto-me assim para o cancro como talvez as vítimas para os raptores, meia ligada, bonded - a verdade é que o humor negro e o sarcasmo são excelentes veículos de expressão da raiva que partiria 3 tijolos juntos, com uma só mão, e de uma vez só! E que ninguém nos retire esse direito! Riam-se mais e matem-se menos!

O humor é uma atitude que se vai desenvolvendo ao longo do tempo.
Uso o humor porque quero ser feliz.
Só posso brincar porque já estou resolvida.
(Marine Antunes)




A Cristiana, eu e a Marine, com a Careca Power a espreitar atrás de nós!

segunda-feira, 9 de março de 2015


Às vezes para escrever devia desligar o pensamento. Sei que preciso das palavras para me fazer chegar até aí, mas às vezes queria ligar só o sentimento. Ou nem isso, porque o sentimento é sentir com mente. Queria só sentir. Ou nem isso. Queria só ir. Só ir sem julgamento. 

Está implícito que ser mulher não é fácil. Mais manifesto ou mais latente no discurso das mulheres com que me cruzo, há sempre um espírito de luta inerente. Seja pelos filhos, pelo companheiro, pela saúde, pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo corpo, pela voz, pelo lugar ao sol, é preciso lutar, arregaçar as mangas e cozinhar uma vida. E não há vida de uma mulher sem fantasia, sem esperança, sem carência de um abraço que lhe permita parar de lutar por uns momentos. E só ir.

Está nas mãos de cada mulher dar a mão a outra para que ambas saibam que não estão sozinhas. Está nos braços de cada mulher o abraço que não chegou. Está no coração de cada mulher a entrega, não ao outro, mas a si mesma: ao seu direito de ser, de ir. 

E por cada mulher que deixe de ter de lutar, nascerá outra que só terá de ser.

Às vezes para viver devia desligar o pensamento. Sei que preciso das palavras para me fazer chegar até aí, mas às vezes queria ligar só o sentimento. Ou nem isso, porque o sentimento é sentir com mente. Queria só sentir. Ou nem isso. Queria só ir. Só ir sem julgamento. 

Obrigada Andreia pelo colo e pela verdade!
Obrigada Carol pelo abraço e por tudo o que não precisas de dizer!
Obrigada Girls Lean In Lisboa e Mezzanine Creative Restaurant! Foi um almoço 5*!
Obrigada mulheres, não pelo empreendedorismo, mas por darem as mãos!
Obrigada mãe pela vida!

sábado, 7 de março de 2015

Fotos 1 e 2 - Antes
Foto 3 - Durante
Foto 4 - Depois, com o Miguel e a Fátima
 
 
Hoje, em jeito de premier do Dia da Mulher, viemos (eu e a mãe Nobre) cuidar da beleza!  
 
E o cabelo continua a crescer alegre, forte e bastante mais disciplinado, ainda que com personalidade, que é o que se quer! Entreguei mais uma vez o cabelo nas mãos do Miguel Garcia e estou pronta para ir aproveitar os ares da Primavera, que já espreitam!

Agradecimentos: Miguel Garcia Cabeleireiro

quinta-feira, 5 de março de 2015



O mais importante de uma viagem é a própria viagem. Como ouvi a atriz Maria do Céu Guerra dizer: "Viajar é ir." O destino era o workshop de Sábado, mas fomos na 5a feira e cada momento constituiu a magia de IR... e nós... fomos!


Era uma viagem de 3 ex-carequinhas a sair da toca, para celebrar a vida. Viajar ganha o significado de liberdade quando se tem ou teve a vida condicionada por sintomas, tratamentos, cuidados e acontecimentos inesperados e inusitados a cada minuto; viajar ganha o significado de normalidade quando os dias são a pura da anormalidade entre cateteres, agulhas, plaquetas, citotóxicos, médicos e exames periódicos; viajar ganha o significado de distância de um passado que ficou para trás; viajar ganha o significado de encontro com o que ficou de nós; viajar ganha o significado de descoberta de uma nova vida; viajar ganha o significado de sonhar com o futuro que merecemos; viver, partilhar, rir e ser tal e qual o que somos.


A Dani ficou em terra, mas sentimos a sua presença em cada esquina das nossas aventuras! Big Ben, Camden Market, London Bridge, Buckingam Palace, Hyde Park, Soho...


Desde perder o telemóvel e andar um homem atrás de mim no metro para mo devolver, passando por estar "à rasca" à porta de uma casa-de-banho com torniquete, a tentar decifrar libras e a acabar por passar de gatas por baixo do torniquete, até estar dentro do metro, à porta, com um copo do Starbucks entre braços, a porta abrir e o copo saltar para a plataforma, ficando eu a assistir à porta fechar e a Vera a rir da cara que fiz. Também podia falar do chemo brain e das mil e uma coisas de que me esqueço, mas isto só acontece porque tenho guardado as energias para dar cores ao lado cinzento da vida.


Conheci a Vera e a Dani graças ao cancro e, de repente, ganhei duas novas pessoinhas na minha vida que me inspiram e me devolvem o sorriso!


Obrigada Verinha pela companhia e por teres exponenciado a minha experiência! Há ir e voltar... e voltar a IR!


quarta-feira, 4 de março de 2015



I was loved because I existed. (Anita Moorjani)


Vivemos numa sociedade que nos educa para o amor por mérito e, como tal, temos de fazer tudo para merecer o amor dos outros. A Anita Moorjani vem desmistificar esta ideia a partir do que vivenciou na sua experiência de quase-morte. (Céticos, é agora que têm de mudar para um site fidedigno!)

Li o livro pela primeira vez em Junho de 2013. Tinha feito o primeiro ciclo de quimioterapia em ambulatório e em poucas semanas teria de fazer outro e decidir se avançava ou não para o transplante de medula. Foi tão importante o que o testemunho da Anita fez por mim naquele momento que nunca lhe vou conseguir agradecer o suficiente.

Como tenho vindo a conhecer em Portugal as pessoas cujo testemunho me inspiraram nessa fase, por que não viajar para conhecer mais uma dessas pessoas?

A Anita nasceu em Singapura, os pais são indianos e vive em Hong Kong, pelo que é raro vir à Europa. Eu e a Vera aproveitámos o seu workshop em Londres, organizado pela Hay House e voámos para lá! Em espírito estávamos 3, porque a Dani só ficou em terra por motivos de saúde, mas estivemos com ela no pensamento o tempo todo.

De 2002 a 2006, a Anita teve um linfoma que chegou a uma fase terminal, entrou em coma e os órgãos começaram a entrar em falência. Do coma surge a tomada de consciência: o sentido da sua vida, a causa da doença, a sua missão de vida, o amor incondicional e a necessidade de se libertar do medo para viver a cura e a vida na sua plenitude. 5 semanas depois de acordar do coma, estava a sair do hospital livre de cancro. Para saberem mais, o livro em inglês chama-se "Dying to be Me" e, em português, "Nascer de Novo".

Nas 36 horas de coma, experienciou aquilo que será a vida depois da morte e, entre muitas outras conclusões, retiro estas que partilhou no workshop/palestra a que assisti, em Londres, no passado dia 28 de Fevereiro:

All the suffering was gone. Todo o sofrimento tinha desaparecido.

Cancer wasn't karma. O cancro não era karma.

In the other realm, we lose gender, race, body, beliefs, values, religion..., filters and layers accumulated over lifetime. No outro "mundo", não temos género, raça, corpo, crenças, valores, religião... filtros e camadas acumulados ao longo da vida.

I felt Pure Love, Pure Empathy. Senti Puro Amor, Pura Empatia.

When it's time for us to die, it's the perfect time. Quando for o tempo de morrer, é o tempo certo.

Voltou do coma para experienciar a vida sem medo e partilhar a sua experiência como parte da sua missão.





A plateia, a Anita no palco, eu e a Vera na plateia e nós com a Anita, durante o tempo que disponibilizou para assinar livros e tirar fotografias.





Cada slide destes dava um post diferente, mas resumindo:

1. Estamos todos ligados, como os dedos de uma mão.

2. É muito melhor ganhar a nossa própria aprovação (o que significa seguir o coração) do que ter de ganhar a aprovação dos outros.

3. Gastamos tanto tempo e energia a lutar contra as doenças, quando o nosso corpo está a tentar comunicar connosco.

4. É mais importante sermos nós próprios do que sermos positivos, porque há a ideia de que, para se ter saúde, tem de se se sempre positivo. Mais importante do que isso, é ser-se verdadeiro.

5. O dinheiro é importante. Se não há condições financeiras, vamos estar tão preocupados com coisas básicas que não vamos ter disponibilidade para sermos nós mesmos.

Ri, chorei, regredi no tempo, sorri, revalidei o caminho e dei mais um passinho na minha cura.

Deixo-vos com mais frases que apontei:

What is driving your actions is more important than your actions. Am I doing it - whatever it is that you're doing - out of fear or out of love? O que conduz ou motiva as tuas ações é mais importante do que as ações por si só. O que estou a fazer em determinado momento resulta de uma escolha baseada no amor ou no medo?

If you want to change the world, share what people shoud be doing and not what people should not do! Se queres mudar o mundo, partilha com os outros o que deveriam fazer em vez do que NÃO devem fazer.

BE AS YOU AS YOU CAN BE! Sê tu próprio o mais possível!

What you do in life is a side effect of who you are.
As coisas que tu fazes na vida são um reflexo, um efeito secundário da pessoa que tu és.

The best you can do for other people is to be HAPPY.
O melhor que podes fazer pelos outros é seres feliz.

Accept the truth about what you're feeling. Don't worry about your thoughts. Allow them. It's not about the thoughts, but the way I feel about myself. Aceita o que estás a sentir. Não te preocupes com os teus pensamentos; permite que surjam. O mais importante não são os pensamentos, mas a forma como te vês e sentes a ti próprio.

Tell yourself: I am done with cancer!
Diz a ti próprio: o cancro já era!

We just have to honour and be who we are and our purpose will unfold before us!
Não temos de procurar um propósito de vida. Devemos honrar que somos e ser quem verdadeiramente somos e o nosso propósito revelar-se-á naturalmente.

Ask yourself:  What I'd be doing today if i'd love myself?
Pergunta a ti mesmo: O que faria eu em determinado momento e contexto se me amasse a mim mesmo?

Laughter heals you faster than prayers, chanting or meditation does.
Rir cura-te mais depressa do que rezar, cantar/orar ou meditar.

Your life is your prayer.
A tua vida é a tua oração.

Do what is fun!
Faz o que te diverte!

Does this enhances who I am?
Pergunta-te: Isto realça quem eu sou?

Your body knows how you feel about yourself.
O teu corpo sabe como te sentes contigo mesmo.




Por cada pessoa que se cura "espontaneamente", existem milhares de outras para quem pode ser possível, até ao último minuto; aliás, para além de qualquer tempo ou espaço. Tudo é possível.

3.3.15

Hoje foi dia de consulta no IPO, a que faço trimestralmente. Correu tão bem, como rapidamente! Para dizer a verdade, nem aqueci o lugar! Cada vez sinto mais que a realidade nos espelha! Só no domingo confirmei que tinha análises ontem e consulta hoje. Sinto a realidade hospitalar cada vez mais distante, pelo menos, como paciente... e a verdade é que cheguei, sentei-me, em 5 minutos fui chamada e em outros 5 minutos estava despachada! Tudo ok, vai-te lá embora e "Bom Verão!" Já me estou a imaginar esparramada na praia, a trabalhar para o bronze, e a lembrar-me, de repente (na véspera, provavelmente), de que tenho de voltar ao IPO para mais uma visita ao pessoal médico, de enfermagem e auxiliar!

Depois o almoço com a A. que foi ter comigo à sala de espera para, contrariamente ao que tem sido habitual nas minhas consultas que são marcadas para uma hora e concretizadas duas horas depois, não ter de esperar! Que bom que pudemos falar num ambiente mais simpático; é porque merecemos!

Escolher não é fácil. A tomada de decisão remete-nos para um futuro que nos assusta. Diz o terapeuta Alain Jezequel que o cancro é uma doença que diz respeito ao futuro, ainda que tenha premissas no passado, como muitos autores evocam. O medo do futuro tolda-nos o discernimento na hora de decidir. Eu escolhi o presente que queria e o futuro, esse, imaginava-o! Se o Futuro é imaginAção, criemos cenários que nos representem no melhor que temos e somos. Depois, é só acolhe-lo como Presente!

Agradeço todos os telefonemas e mensagens. Hoje não consegui retribuir mas.... estamos juntos!

terça-feira, 3 de março de 2015







28.02.2015


Às vezes é preciso o longe para chegar mais perto. Cá estou eu no puff do hostel, no Soho, em Londres! Assim, de Londres, olho para Portugal e vejo tudo mais claro. "You're free to do what you want to do", diz a música que toca nas colunas da sala, com a animação do Sábado-à-noite-de-quem-não-quis-ir-para-a-confusão-dos-pubs. Esta música era a preferida da Mónica, a minha primeira professora e referência no hip hop, que adoeceu com cancro também do foro hematológico, na altura em que me dava aulas, e morreu em Dezembro de 2001. Chorei essa noite toda sentada no sofá da sala dos meus pais. Estava muito longe de entender o que era na verdade o cancro; só entendia que ela se tinha ido e que me deixava muito triste perder pessoas importantes para mim. Chorei desalmadamente. Dançaram esta música no seu funeral, dançamos esta música num espetáculo em sua homenagem... Será que ela está aqui?






"You got to live your live and do what you want to do..." (Ultra Nate, Free)






Somos mesmo livres para fazer o que queremos em determinado contexto e em determinadas circunstâncias. Se não sabemos o queremos, quem somos ou para onde vamos, já são outras questões que nos enchem de desculpas para não fazer o que nos apraz e para nos sentirmos presos ao que nos obrigamos a fazer porque "a realidade assim o exige". Não fiquei imune a esta armadilha por ter visto a morte de perto! (Estou a dar largas ao drama porque eu não vi a senhora nem mais magra!)



Assim ao longe, vejo que chego às 40000 visualizações com um longo caminho percorrido, com o objetivo transversal de #serfeliz. Todas as ações em que me envolvo são um mergulho no processo de ser mais eu do que nunca, para o bem e para o mal. E é só isso que é o #curaçãoemconstrução... E tenho a sorte* de encontrar pessoas lindas no caminho.













*não é só sorte: faço questão de as escolher para a minha vida!

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