terça-feira, 23 de junho de 2015


Tem um sorriso de menina que ficou congelado dos tempos em que lhe roubaram a meninez para a atirarem para a vida adulta sem pré-aviso. Tem os nervos tão rijos como frágeis, porque é de força e sensibilidade de que são feitas as melhores pessoas. Tem a gargalhada mais contagiante, sem medo de existir, e os olhos mais assustados quando não sabe por onde e como ir. Mas ela vai. Quando amua, ninguém a demove, quando não gosta, também não finge, mas se a conquistam - pode demorar um segundo ou uma vida - dá tudo: o que tem, o que não tem... Nunca a vais ouvir dizer que não tem porque tem sempre. Mas não a lixes porque aí, sim, não há nada para ninguém! Nunca vai perder o ar de menina, aos 10 ou aos 59 - que completa hoje - porque é a sua criança a fonte da sua alegria. É por isso que quando vê uma criança se ilumina, porque se reconhece. Ela sabe das injustiças. Ela sabe das tristezas. Ela sabe do brincar. Ela sabe do rir. Ela sabe do chorar. Foi do seu colo que renasci há 2 anos porque a sua maior virtude é a do serviço, a do amor que às vezes custa a verbalizar, a da entrega ao que se propõe, a do arregaçar as mangas e pôr a mão na massa, a do ficar quando escolhe um lugar... Sem parar. Isso ela não sabe o que é. Deem-lhe festa que ela gosta é de paródia! Vamos dar-lhe festa! Deem-lhe colo que é a sua vez de o receber. Vamos dar-lhe colo! Abraço-te. Obrigada <3


segunda-feira, 22 de junho de 2015


Quem é que não passa o Inverno todo a sonhar com o Verão? Hoje, quando abordei alegremente o tema da chegada do Verão - também o fiz com a Primavera - algumas pessoas comentaram logo que depois chega o Inverno e estamos quase no Natal! Tão difícil que é ficarmos nas coisas boas. É bom, foge-se a sete pés! Tão difícil ficar no presente... Se não me ponho a pau, já já o Verão acabou! Eu toda contente com 3 meses inteirinhos de Verão pela frente e, de repente, já tinha de estar ansiosa com o fim do Verão e o frio e a chuva e as mil camisolas que acabei de levar de volta para o meu quarto na casa dos meus pais para ganhar espaço no meu castelinho!

No Verão tudo é mais leve, parece que a vida sai à rua e se celebra! Eu fiquei doente no Inverno e "boa" no Verão, pelo que ainda associo mais esta estação à cura, à receptividade, à abertura, à celebração. Parece que se sorri mais, que as cores da Primavera se abrem em flor e que os corpos aquecidos pelo sol perdem a rigidez que traz o frio e libertam a hormona da "pouca-vergonha", diriam alguns, da felicidade, diriam outros. 

Eu nasci na Primavera mas sou, decididamente, do Verão, até porque nasci dois meses e meio adiantada e devia ter desembarcado na "Normandia" só em Julho. Não sou muito expansiva, nem sou a pessoa mais "aberta" do mundo, por isso a minha personalidade estaria mais para meia-estação, mas gosto da estação inteira e deixo-me embalar nas ondas e aquecer pelo sol. Pelas fotos, até adivinho que as minhas californianas vão voltar e deixar-me mais parecida com o período pré-histórico que precedeu a quimioterapia. Haja sol! E vida para celebrar! 



















sábado, 20 de junho de 2015


O J. ofereceu-me uma leitura de aura no meu aniversário, porque ele, no fundo, sempre achou que eu não podia estar no meu juízo perfeito para lhe achar piada e pensou que seria, por certo, um desalinhamento nos chakras que me estaria a perturbar a visão. Solução: ir ao endireita dos chakras, pôr uns óculos na alma e os pés no chão. Bom, a verdade é que o J. continua a ser engraçado com os chakras mais afinados (ora bolas!), mas estou mais criteriosa...

Na aura, confrontei-me com uma Rita muito desequilibrada - mais do que o normal - e apercebi-me de que convém ir pondo as peças outra vez no sítio, conferir se não falta nenhuma e usar super-cola-3! (txiiii, antiga que eu sou! :P)

Falta de estrutura, cabeça no ar, desenraizamento, instabilidade, amarras, não houve nada que não aparecesse na minha aura, entre coisas boas também, que isto da cura ainda rende! Na verdade são padrões meus que me vão revisitando e que às vezes estão mais para um lado, às vezes mais para o outro. Há alturas em que estou alinhadíssima e outras em que é tudo ao lado por falta de foco e estabilidade. Como isto tem implicações em todas as áreas da minha vida e senti que tinha de fazer alguma coisa para me "segurar", propus-me um desafio de 40 dias, nos dias que faltam até ao espetáculo da Arte Move no qual vou dançar, para me pôr em forma física, mental. emocional e espiritual ou apenas retomar os carris da minha saúde física e mental.



Comer - Escolhi começar pela alimentação e pelo corpo porque mais terreno seria difícil. Eliminei o pão e os doces da dieta porque são os responsáveis pelos meus yo-yos na balança e na vontade de comer. Até ao dia do espectáculo quero perder 5kgs e ganhar força e resistência com os ensaios e os treinos no ginásio, porque estar à espera que a quimio saia do corpo com o tempo é mentira! E sem estar em forma também não consigo fazer o que a dança e o espetáculo exigem de mim, quando a dança foi tão importante para eu me pôr boa mais depressa!

Orar - Esta é a metáfora para a parte do enraizamento e do alinhamento com os meus propósitos. Não tenho nenhum ritual mas vou estando mais atenta aos meus pensamentos, ao tempo de que necessito para descansar e recuperar, à minha intuição, ao que quero e ao que sou. E agradecer.

Amar - Este é a síntese dos outros dois, mas com foco no equilíbrio entre o dar e o receber, em qualquer relação que estabeleça na minha vida, seja de que carácter for; e com foco no amor para não perder para o medo.

Já passaram os 10 primeiros dias, faltam 30. Já se foram 2kgs e já me sinto mais forte nos ensaios. Nos primeiros dias, ressaquei com uma crise de enxaqueca e andei enjoada mas já me restabeleci e a ansiedade diminuiu significativamente. Dei descanso ao corpo e à alma, dei uns mergulhos e respirei. Ainda estou "em trabalhos", ainda tudo mexe cá dentro mas confio no processo.

Agradeço ao J. e à N. as coisas que me mostraram, de formas diferentes. Embora eu já soubesse antes de os conhecer que estava em ponto de rebuçado e banhada a cristal, ajudaram-me a que me confrontasse com o caminho que ainda tenho para percorrer na reconstrução.

https://www.facebook.com/wonderlandstar1?fref=ts (para consultas de leitura de aura)

sexta-feira, 19 de junho de 2015


Rita e Dani. Já vamos para o terceiro Verão juntas. O nosso cabelo cresce e o amor também, mesmo com todos os dias mais difíceis pelo meio. Ela tenta meter-me a cabeça no sítio, eu tento tratar-lhe do coração inquieto, ainda que o meu não seja muito sossegado. Organização, diz ela. Confia, digo-lhe eu. E só o que me ocorre agora é recuperar este fado da Amália: Estranha Forma de Vida. É isto:

Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda minha a saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração:
Vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
Coração que não comando:
Vive perdido entre a gente,
Teimosamente sangrando,
Coração independente.

Eu não te acompanho mais:
Pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
Porque teimas em correr,
Eu não te acompanho mais.

Falta aqui a linfobabe Sara, mas ela está sempre connosco de alguma forma e, hoje, vou citá-la, quando diz que, se perdêssemos o medo, "não conheceríamos a coragem. não doía. deixava de tudo de saber a valer-a-pena." 

Arte: Alan Silveira

terça-feira, 16 de junho de 2015



"Deixei de existir..." (J., 70 anos)

A herança do "Penso, logo existo..." que se transformou num "Produzo, logo existo..." é muito pesada... De repente não se existe quando não se trabalha, não se enchem os dias todos com tarefas e afazeres com prazos e objetivos, de repente é inútil simplesmente ser. É assustador simplesmente ser. Eu estive lá e sei como os papéis que representamos nesta vida se transformam na nossa identidade e que a identidade devia estar para lá das máscaras que vestimos para que continue a existir quando a capa cai. 

A reforma, o desemprego e as baixas profissionais deviam ser oportunidades para usufruir do outro lado da vida, a morte do "fazer" para a vida do "prazer", o despertar dos sentidos e o sentido da existência na sua origem, que começa para todos nós no toque, na apreensão, no morder, na sucção, no choro e no sorriso, no gatinhar, no cair, no levantar... no berro! 

Eu não dei o berro quando nasci, já vinha meia grogue, já vinha meia. Comecei logo a aprender a lidar com o vazio. Como se existe pela metade? Curiosamente acho que assumi sempre que a minha metade não anda por aí porque, das duas duas: se existe, é inalcançável e, a existir, não é preciso alcançar porque ficou em mim, na minha pele. Curiosamente quando me ligo a alguém, ando com essa pessoa, não no coração, mas precisamente na pele. A pele, o maior órgão do nosso corpo. É mesmo muito espaço para entregar a alguém mas não há amor sem o corpo inteiro. 

Hoje acho que o Descartes deveria saber que pensar não define a existência mas amar sim. Pensar é fundamental para atribuir significado às experiências, mas amar é viver as próprias experiências. Começa antes e termina depois. "Amo, logo existo." devia ser este o mote para a 'nova era'. 

Ama quem és, abraça os teus defeitos, olha nos olhos de quem está triste, sorri a quem está zangado. O amor não se poupa e não nos poupa. Amor é querer ver um sorriso de quem se ama, amor é não querer menos do que um sorriso no espelho. Viver pela metade é desamor. Viver a meio gás é medo. Amar aos bocadinhos é batota. Mas não saber amar também é humano. Amar é descobrir.

O amor é a única forma de nos permitirmos querer continuar quando o mundo desaba, é a força motriz da existência, a par da alegria. O amor tem de ser visceral e espiritual, ao mesmo tempo, o encontro do corpo com a alma. E, no vazio da existência, nos tempos mortos da vida, descobrimos afinal se o amor e a capacidade de amar se definharam nos afazeres, nos outros, nas coisas, no que nos aconteceu. E não faz mal se definhou porque o amor pode morrer na cruz mas ressuscita ao terceiro dia, por um novo eu, uma nova oportunidade, pela simples esperança que existirá enquanto houver vida e pelo tão simples direito ao berro quando se renasce. Seja em que tempo da vida for. 

domingo, 14 de junho de 2015


Acho que há todo um engarrafamento dentro do meu cérebro, o trânsito está congestionado e, como é de esperar, a impaciência é mais do que muita, as buzinadelas ensurdecedoras e há até lugar para acidentes. Esta semana tive o meu primeiro drama fisiológico do ano, com enxaqueca e enjoos à séria. Claro que já me perguntaram se estou grávida, mas por acaso não foi por causa dos enjoos que me fizeram a pergunta, o que também não interessa nada agora (deixemos a minha barriguita em paz). 

É incrível como sobrevivi 5 meses a passarem por mim todo o tipo de viroses e bicharocos - reparem nos dramas fisiológicos à vossa volta, nas doenças e na quantidade de coisas que as pessoas transportam e depositam umas nas outras, quando se queixam, descrevem e enfatizam os seus sintomas e a sua sorte - e, quando finalmente o corpo me cede, culpabilizo-me por estar a "adoecer", a falhar na minha missão de cuidar de mim e me manter fiel a mim mesma. Ainda mais porque, depois do cancro, qualquer sinal de fraqueza está associado à fragilidade de quem teve cancro e andou nas drogas pesadas, mesmo quando, heroicamente, beijo todas as pessoas gripalhadas - obviamente as que são minhas amigas e faço questão de beijar ou abraçar precisamente porque, se estão doentes, precisam mais dos beijos e dos abraços, se for de seu gosto e sua vontade - e, até agora, tem corrido bem e, desde gripes a viroses e infecções, vão passando por mim várias pessoas adoecidas.

Adoecer é doer no corpo o que se esconde na alma, às vezes tão bem escondido que não se descobre. Mas adoecer é sempre doer. A dor traz sempre o medo porque é dele que vem. O medo pede sempre amor, não há outra resposta para o medo. Esta semana dei 28 aulas de Pilates e passaram-me muitas dores pelas mãos e pelos ouvidos. Nas dores dos outros sinto muitas coisas: medo, resistência à mudança, irritação, tristeza, solidão... Nas minhas claramente um stop para olhar para tudo isto. Não faz mal não controlar tudo porque, em última análise, não adoecer nunca também é manter o corpo calado. E é batota calar o corpo com tanto ruído na cabeça... E é batota calar sem ouvir. E sentir. 


P.S. À procura das férias...




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