domingo, 14 de junho de 2015

Adoecer


Acho que há todo um engarrafamento dentro do meu cérebro, o trânsito está congestionado e, como é de esperar, a impaciência é mais do que muita, as buzinadelas ensurdecedoras e há até lugar para acidentes. Esta semana tive o meu primeiro drama fisiológico do ano, com enxaqueca e enjoos à séria. Claro que já me perguntaram se estou grávida, mas por acaso não foi por causa dos enjoos que me fizeram a pergunta, o que também não interessa nada agora (deixemos a minha barriguita em paz). 

É incrível como sobrevivi 5 meses a passarem por mim todo o tipo de viroses e bicharocos - reparem nos dramas fisiológicos à vossa volta, nas doenças e na quantidade de coisas que as pessoas transportam e depositam umas nas outras, quando se queixam, descrevem e enfatizam os seus sintomas e a sua sorte - e, quando finalmente o corpo me cede, culpabilizo-me por estar a "adoecer", a falhar na minha missão de cuidar de mim e me manter fiel a mim mesma. Ainda mais porque, depois do cancro, qualquer sinal de fraqueza está associado à fragilidade de quem teve cancro e andou nas drogas pesadas, mesmo quando, heroicamente, beijo todas as pessoas gripalhadas - obviamente as que são minhas amigas e faço questão de beijar ou abraçar precisamente porque, se estão doentes, precisam mais dos beijos e dos abraços, se for de seu gosto e sua vontade - e, até agora, tem corrido bem e, desde gripes a viroses e infecções, vão passando por mim várias pessoas adoecidas.

Adoecer é doer no corpo o que se esconde na alma, às vezes tão bem escondido que não se descobre. Mas adoecer é sempre doer. A dor traz sempre o medo porque é dele que vem. O medo pede sempre amor, não há outra resposta para o medo. Esta semana dei 28 aulas de Pilates e passaram-me muitas dores pelas mãos e pelos ouvidos. Nas dores dos outros sinto muitas coisas: medo, resistência à mudança, irritação, tristeza, solidão... Nas minhas claramente um stop para olhar para tudo isto. Não faz mal não controlar tudo porque, em última análise, não adoecer nunca também é manter o corpo calado. E é batota calar o corpo com tanto ruído na cabeça... E é batota calar sem ouvir. E sentir. 


P.S. À procura das férias...




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