terça-feira, 31 de janeiro de 2017


Anda para aí uma campanha financiada pela DGS que nos manda - a nós, mulheres! - cuidar da nossa fertilidade. Em tom de ameaça, manda-nos pensar muito bem na nossa vidinha, não vá o nosso prazo expirar e depois querermos ter filhos e... ups, já foste! Está aberta a caça-ao-homem-para-fazer-filhos-antes-dos-35-anos! E uma época especial para quem se atrasou e não acasalou antes dos 35, uma época especial que não tem garantia - como se os casais que tentam ter filhos "atempadamente" tivessem garantias algumas...

Ah, falamos de probabilidades... Ui, vamos falar de probabilidades! A minha probabilidade de estar aqui, hoje, a falar com vocês, era muito reduzida. A probabilidade de engravidar depois dos tratamentos de quimioterapia que fiz, para um cancro no último estadio, é reduzida (30% ou lá o que é!). Juntando a isso o facto de ter 36 anos, ainda pior! Juntando ainda o pormenor de não querer produzir um filho de forma independente e não ir para o Tinder procurar um homem que diga que procura parideira, as probabilidades já estão praticamente no chão. Bem feita! Devia ter pensado nisto antes, devia ter revisto as minhas prioridades, devia ter escolhido melhor os meus parceiros, devia ter querido ser mãe no tempo "certo"!

De uma certa maneira, responsabilizo-me e vou sempre responsabilizar-me por não ter filhos com a idade que tenho, assim como me responsabilizo por várias áreas da minha vida e por várias escolhas que fui fazendo, bem como pelas escolhas que continuo a fazer. Não preciso de campanhas que me venham responsabilizar pela baixa taxa de natalidade do meu país! Não preciso! E digo-vos porquê. 

Não preciso do estigma de que uma mulher da minha idade que encontre um companheiro vai querer filhos ou de me cruzar com homens que vão pensar automaticamente: "Txi, deixa-me fugir desta que, com esta idade, vai querer ter filhos!" Convenhamos que um cancro pode ser um espantador de homens mais eficaz!

Não preciso do estigma de que a culpa é das mulheres! As mulheres querem ser modernas, fazer as mesmas coisas que os homens fazem, ter carreiras, andar na-boa-vai-ela e lixam o esquema todo! 

Não preciso do estigma de que a culpa é sempre das mulheres! E, se ele for infértil, mudo de marido? 

Não preciso do estigma de que as mulheres é que querem sempre ter filhos! (Há realmente muita gente por aí que parece obra do espírito santo!)

Não preciso do estigma da idade! As mulheres envelhecem e já não são férteis, por isso vamos lá, homens, procurar meninas com metade da vossa idade, ainda dentro do prazo de validade! Claro, porque eles andam aí loucos para fecundar meninas frescas e fofas, justamente, no seu período fértil!

Não preciso de me preocupar com o número de óvulos que os meus ovários têm. Não tenho controlo sobre isso. Até ver, acho que o espermatozóide é um tipo monogâmico! Se um óvulo meu um dia tropeçar num espermatozóide, a ver vamos... Antes disso, preciso eu de tropeçar num homem com tom****! E, depois disso, precisamos os dois de querer ter filhos!

Felizmente, há muitas mulheres aí para provar que esta campanha está completamente desatualizada! E as mulheres - ou os casais - que tentam engravidar durante anos e só conseguem depois dos 35, senão mesmo 40? Qual seria o discurso para estes? Por certo, muitos homens também não se revêem nesta campanha! A cultura do medo ainda tenta ganhar terreno à custa destes assuntos sensíveis, através de discursos paternalistas que continuam a visar controlar e massificar comportamentos e populações. 

Acredito eu que somos muito mais férteis em criatividade e que conseguimos muito melhor do que isto (se queremos MESMO ajudar em vez de desajudar, emitindo juízos de valor e culpabilizando)!


À procura da melhor fotografia para iniciar a caça-ao-homem!


domingo, 29 de janeiro de 2017



Turmas de Modern Jazz e de Contemporâneo da Arte Move, com coreografias de Paula Careto e Débora Ávila


Mais uma oportunidade de, através da Arte Move, dançar num espectáculo de cariz solidário, desta vez a favor da Re-Food - Aproveitar para Alimentar. 

No facebook da Refood Cascais, explicam-nos: 

"O projecto pretende assegurar a distribuição imediata dos excedentes dos restaurantes àqueles que mais necessitam e se encontram junto destas. Torna-se assim possível criar uma “ponte humana” que liga quem tem uma “sobra diária” com quem tem uma “necessidade diária”."

Para além do casamento do fado com a dança, apesar de terem tido espaços e tempos diferentes durante o espetáculo, a interação entre colegas e voluntários, nos bastidores, dá lugar a momentos de partilha únicos, com o denominador comum da contribuição e da importância de cada um, num movimento conjunto. Teria gostado de assistir a este espetáculo na plateia! Ficam algumas imagens dos bastidores!





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017


(Escrevi isto em Dezembro de 2015 e estava nos rascunhos...)

Está muito na moda dizermos, enquanto mulheres, que não precisamos de um relacionamento, não precisamos de um homem. É uma coisa que eu acho que deve dar lá para os 30, quando percebemos que somos capazes de tanta coisa! Na verdade, eu acho que é fantástico que nos redescobramos sozinhas para nos voltarmos a relacionar afetivamente. Sim, porque amor é preciso. E amor é diferente de nos enfiarmos num relacionamento para não estarmos sozinhas. Ah e tal, o amor está em toda a parte. Pois, também estamos na fase da indiscriminação do amor. Tudo pode ser amor, o amor é omnipresente e, portanto, homens para quê? 

Ah e tal... "Estou contigo porque quero e não porque preciso!"

Pára tudo! Eu também já ouvi isto da minha boca. E, como só tenho uma boca, não me pude mandar calar a seguir! E ele também não o fez! Claro que é sempre bom esperar que um homem que ouve que não precisamos dele para nada se comporte como se precisássemos! 

Então, pah, e as minhas necessidades afectivo-psico-endo-morfológicas? É um neologismo que inventei agora e que eu traduzo: "Eu preciso de amor!!!" (leia-se: "do teu amor!") Em que é que ficamos, ladies? Não precisamos mas exigimos?

Qual é o problema de precisar? Precisar significa depender? Precisar significa não ser capaz se a pessoa nos foge? Precisar significa fraquejar? Precisar significa não ser capaz de estar sozinho? Não. Precisar é só precisar, eventualmente uma peça num puzzle maior. É tão importante saber estar sozinho como saber estar acompanhado! Não faz mal precisar. 

Os homens precisam de que precisemos deles e nós precisamos de que precisem de nós, porque, no dia em que não precisarmos mais uns dos outros para amar, dedicamo-nos todos a causas filantrópicas para amar o mundo todo e não amarmos ninguém. Ou à prostituição. 



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017


Oiço pássaros aqui perto a cantar, galos ao longe a acordar. O dia começa antes de ter começado, porque o sol ainda não nasceu. O dia começa antes do anterior ter terminado porque ainda não dormi. Não fosse o cansaço e diria que se, durante a noite, a minha criatividade está ao rubro - é como se houvesse um entusiasmo qualquer que leva a que ideias se atropelem e que o cérebro não pare - então alguma coisa não estou a fazer bem durante o dia. 

Escrevi estas palavras a meio de uma insónia. Na verdade, a insónia foi um monstro enorme que ocupou muito tempo do meu 2016. Três anos depois de terminar os tratamentos, por causa da insónia, procurei apoio psicológico, que encontrei na Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), que presta serviços gratuitos de psico-oncologia (mais informações no site). Continuo a ir com uma frequência quinzenal. Entretanto, em 2017, quatro anos depois do diagnóstico, vou à primeira consulta de psiquiatria no IPO. Muito mais tarde do que é habitual, mas tudo comigo demora muito tempo! Na verdade, é a primeira vez na vida que recorro à psiquiatria! E o que quero eu dizer com isto? 

Quero dizer-vos que as coisas não terminam no dia em que terminam. Há um processo, há marcas, há trigger points, há feridas que vão abrir em determinadas alturas ou perante determinado estímulo. Há acumulação de experiências que podem ir sendo mais ou menos processadas e integradas. E há a fase em que tudo pode aparecer simplesmente porque o pior já passou. Se esse tudo se manifestasse na fase aguda do processo, não teríamos a mesma capacidade de ação, de sobrevivência.

Peçam ajuda - gosto de lhe chamar acompanhamento, porque é disso que se trata - e olhem de frente para os vossos próprios preconceitos. A saúde mental é um parente pobre em Portugal e a manifestação das emoções é julgada e reprimida. A fase das noites em branco já passou, mas o meu próprio médico de família dizia-me: "Mas está com boa cara!!!" 

Às vezes não está na cara nem está no dia. Mora cá dentro e acorda de noite. 

*canção da Anabela



domingo, 22 de janeiro de 2017


Caro Sou-Doutor,

Como tem passado? Não lhe escrevo há quatro anos e por isso muita coisa tem ficado por lhe dizer. Hoje, em particular, queria dizer-lhe que o Sou-Doutor tem muito mais importância na vida dos seus pacientes do que imagina, principalmente quando estão doentes! Sim, porque nem sempre um paciente está doente mas, na verdade, cada vez mais, é preciso que este seja uma pessoa verdadeiramente paciente consigo! E, convenhamos, no seu consultório, alguém está a ser pago para ter paciência e não é a pessoa que o visita! (cof, cof, com a mão na boca para não espalhar germes...)

Já destilei a minha irreverência - veneno era o antibiótico que me prescreveram anteontem e não saíu do saco - e, agora, passo à reverência em si. 

Sou-Doutor, o Sou-Doutor é importante na vida da pessoa que procura a sua ajuda e, como tal, é importante olhá-la nos olhos e estar disponível. Sabe? A pessoa que procura a sua ajuda está, muitas vezes, com dores ou em sofrimento. A forma empática - e até simpática, por que não? - como é atendida pode fazer a diferença. A ansiedade que possa estar associada à gestão da dor e do mal-estar potencia o próprio sofrimento e a sua disponibilidade pode mesmo ser logo a primeira terapêutica a aplicar, com resultados muitas vezes visíveis ao nível da sintomatologia apresentada. 

Sou-Doutor, o Sou-Doutor é importante e aquilo que diz tem impacto na vida da pessoa que o ouve, porque o Sou-Doutor estudou e tem conhecimentos válidos. É, por isso, importante a forma como comunica, como fala, como se expressa, como passa esses conhecimentos. Muitas vezes, as suas palavras vão ficar a ecoar na cabeça do seu paciente e vão ter repercussões maiores do que as que julga, à partida. 

Sou-Doutor, o Sou-Doutor é importante - caso contrário, não o procurariam! Um doente que o questiona não quer, de todo, retirar-lhe valor ou poder; quer apenas dizer-lhe que pensa, que sente e que carrega com ele o corpo que vai ser examinado e levar com as drogas que lhe receitar. É ele que tem as dores, é ele que vai conviver ou não com os efeitos secundários, foi ele que carregou aquele corpo desde que nasceu e é ele que vai morrer no mesmo.

Sou-Doutor, o seu paciente vai responder às suas crenças, aos seus medos, às suas fragilidades, à sua pessoa, porque, felizmente, as máquinas ainda não substituiram os médicos nos hospitais. Com isto, quero dizer-lhe que um paciente pode sair pior do que entrou no seu consultório por alguma coisa que lhe tenha dito, inadvertidamente. Não há verdades absolutas e a franqueza pode ser veiculada de várias formas. 

Por último, Sou-Doutor, uma pessoa doente está vulnerável e, por vezes, a palavra de conforto, a aproximação, o toque, o saber ouvir, o respeito e o não-julgamento podem ser terapêuticas mais eficazes do que muitos fármacos. Use o poder que tem para ajudar pessoas sendo pessoa. Temo que seja tão importante e apenas não o saiba.

Sem outro assunto de momento,
Rita Nobre Luz, ativista das soft skills no SNS




sábado, 21 de janeiro de 2017

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017


(Julho 2016)

Não me imagino sem ti, sem a tua presença incondicional
Foste sempre luz no caminho...
e, agora, como faço isto sozinho/a?
Vais viver na memória, na minha pele
Continuamos juntos/as neste amor fiel
Perder... Faz parte de amar saber continuar
Coisa que não sei... continuar
Quero o teu colo, a tua voz, o teu cheiro
Quero-te com todos os sentidos, todos eles perdidos
Só já te posso sentir de coração... 
Partiste para me ensinar que há amor para além da morte
E isto sou só eu a fingir-me forte. 
Vou ali chorar. Para te abraçar. 






Fotos Instant Bulb. Espetáculo Arte Move. Texto CurAção.

Amor. Energia Criativa #1
Amor. Energia Criativa #2
Amor. Energia Criativa #3

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017



Entrei no ano a abrir e começo a segunda quinzena com uma travagem brusca, com o que parece ser uma infeção urinária, mas que estou a tratar com chás e doses extra de vitamina C. Quando o corpo manda abrandar, ando mais pelo escritório de casa, principalmente porque está ao lado da casa de banho! E eis que encontro um saco com papelada que veio da casa onde vivia em Cabo Verde. Como eu vim primeiro para ser internada, as minhas coisas foram chegando, aos poucos, por intermédio de amigos. Hoje encontrei este desenho e pareceu-me bem que o tivesse encontrado no dia Internacional do Riso. Não está assinado e, a esta distância temporal, não tenho forma de saber que criança o fez. Apenas me relembrou das coisas simples, de cabelos que pode ser pétalas, de rostos que podem ser flor, de corações que podem ser folhas, de vidas que podem ser caules e sonhos que podem ser raíz. Fez-me So-Rir. Rir não é para ser remédio, é para ser feliz. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017







Poucas vezes piso o palco, mas 2017 começou logo com o desafio por parte da Arte Move e do Festival de Dança de Lisboa, organizado pelo Ginásio Clube Português, para dançar com a turma "de sempre", no Teatro da Trindade, no passado Domingo, dia 15/01. É sempre um privilégio! A Paula Careto comanda e nós damos o melhor, com mais engano ou menos engano, mas sempre com alma! Sou sempre a pirosa das fotografias, mas não me arrependo de ficar com registos que vou sempre recordar! 









domingo, 8 de janeiro de 2017




Senti necessidade de um boost de novidade na primeira semana do ano, principalmente para olhar logo para uns quantos medos de frente! A minha saúde tem sido muito instável nos últimos dois anos e como tal, também o trabalho para recuperar a condição física não é regular. Há dificuldades que eu sei que são específicas e decorrentes da neuropatia causada pela toxicidade dos tratamentos que fiz em 2013. Não tenho nenhuma limitação física diagnosticada, mas sinto as diferenças, nomeadamente instabilidade nos pulsos, nos tornozelos (fiz inclusive uma rotura de ligamentos o ano passado) e nos joelhos e hipersensibilidade ao nível fascial que faz com que tenha mais dores ao contato do que antigamente. Noto, em comparação com as outras pessoas, que sinto dificuldades que todos sentem, mas tenho outras que são muito específicas. 

Se pensar que, durante os tratamentos, cheguei a não conseguir segurar numa garrafa de água de 0,5L e que, passados três anos, uma frigideira ainda me parece um objeto pesado, sei que, apesar de estar ótima, para não sentir tanto a gravidade - quiçá o peso da vida -, é mesmo imperativo o reforço muscular e manter-me flexível. A vida pede força e uma frigideira pode dar sempre jeito para dar na cabeça de alguém que se meta comigo! 

Pois, então, e que tal pôr-me em cima de um trapézio quando odeio tirar os pés do chão? Nada como aumentar logo a fasquia para não andar com mariquices, porque as mariquices são muito perigosas: apegamo-nos e depois é uma treta para conseguir livrar-nos delas! E foi assim! Fui fazer uma aula experimental no Jaya Aerial Lab. Já tinha experimentado uma aula Anti-Gravity - contei aqui - mas era tudo o que eu tinha de conhecimento de atividades aéreas. Odeio desportos radicais! 

Hoje estou toda partida, mas fiz o teste da frigideira. Venha o 2017 que eu estou pronta! Quantos são?

#saudeecriatividade #empowerment #workhardplayhard

 



sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


Queria tanto ser amor, todos dias amor... fulgor
Paixão de meia-noite, alegria de viver
Queria tanto ser tudo, cheia do mundo
Sorrir ao te ver, tão somente agradecer
Gratidão é amor a acontecer

Paixão que desvanece é coração que entristece
Queria tanto tudo o que não me acontece
Entre o amor e o ódio, a fronteira é frágil
Sai! Vai! Para perto... Não há destino mais incerto
Sai! Já não aguento tudo o que levo dentro

Queria tanto ser amor e só consigo ser raiva
Ninguém nos disse que ia ser assim, 
que nos perderíamos por fim
Não quero lutar consecutivamente
Mas desiste tu primeiro… vai tu à frente…







Fotografias Instant Bulb
Espetáculo Arte Move, com direção artística de Paula Careto

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