segunda-feira, 29 de setembro de 2014


Neste caminho, ponho muitas coisas em causa, as questões são mais que muitas, as dúvidas ainda maiores do que as perguntas... A única coisa que supera a dúvida é a convicção. Sobretudo a convicção de que o que tem de ser tem muita força, não porque o povo diz, mas porque é essa a força que me move.

O caminho é solitário na sua essência porque não há forma de alguém viver, sentir e fazer por mim o que só eu posso viver, sentir e fazer. É em si um caminho de amor em que a vida me pede que seja, ao mesmo tempo, a pessoa que ama e a pessoa que é amada, sujeito e objeto do meu amor, o próprio.

Não quero com isto desvalorizar a minha necessidade de ser amada pelos outros, mas esse é um direito que assiste a cada pessoa a quem dão a luz quando nasce. Gostava de sublinhar isto.

Numa cultura de tradição judaico-cristã, onde tanto se fala de merecimentos e castigos - os bons vão para o céu e os maus para o inferno - acredito que todos nascem merecendo o melhor e morrem merecendo o melhor. Diferentes escolhas levam a diferentes caminhos, mais ou menos difíceis, com diferentes resultados, objetivos e desafios.

A quem está a passar por uma provação na vida, posso apenas dizer que merece o melhor, seja o que for que fez até aqui. Merece o melhor. E a culpabilidade talvez seja o primeiro monstro a enfrentar no caminho da reconquista da vida. O que fiz de errado? Por que não fiz diferente? Merece o melhor. Escolhe o melhor para ti, para viveres da melhor maneira, para seres o mais feliz que está ao teu alcance ser. Mais nada. Porque só isto é tudo.

Dou por aberta a segunda parte desta minha aventura. De coração aberto.

(foto tirada hoje na Arte Move, no dia de aulas aberto ao público)





quinta-feira, 4 de setembro de 2014


3.9.2014

De todas as pessoas que têm partido desde que entrei no mundo desencantado da oncologia, esta é a mais difícil das despedidas. Não tenho palavras, pensei. Mas, às voltas sem dormir, lembrei-me de que as palavras são realmente o que me resta depois das lágrimas. 

Março de 2014, a última conversa que tive com a Nonô. Fiz questão que ela me fosse vendo, desde a Rita-careca até à Rita-cheia-de-caracóis, para que soubesse que era esse o caminho, era para aí que deveria ir, com mais ou menos caracóis. Por tretas de adultos, afastei-me durante os últimos meses, tendo passado a acompanhar o processo dela como a maior parte dos seus seguidores, à distância. 

De natureza comunicadora, artística, sensível e única - principesca - falou-me algumas vezes da doença e dos tratamentos, de doente para doente, e, do alto dos seus 5 anos, ensinou-me a determinação, o valor do
momento presente e as leis tortas da vida ou de Deus que estão sempre certas. Hoje não parece certo. Amanhã também não vai parecer. Mas sei que é o caminho. O teu caminho. 

Os meus sentimentos estão principalmente com a Vanessa, o Jorge, a Lara, o Fábio, o Martim e o Henrique. Uma dor que não consigo imaginar. Uma dor que, assim como Leonor, também rima com amor. 



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