quinta-feira, 30 de janeiro de 2014


Hoje não se anda. Corre-se. Não se saboreia. Engole-se. Não se vê. Olha-se. Não se procura. Não é preciso. Defendo a vida pelos sentidos, mas hoje venho falar do excesso de estímulos. Somos sensorialmente bombardeados e a máquina que aguente! É a estimulação inconsciente, a estimulação desligada que me preocupa. Ocupa-nos tanto espaço que corremos o risco de perder o essencial em prol do acessório. A multi-estimulação é barulhenta e não nos permite de facto sentir nada em concreto de tão abstracta, mas é na abstracção que penso estar a resposta. Quando tento dessensibilizar-me, encontro-me com os meus pensamentos e sentimentos e encontro tão somente um espelho de tudo o que vivo quando me afasto deles: correria, inquietação, ritmo, barulho. Não digo que desgoste da vida agitada – gosto da vida a palpitar - mas digo que o nosso mundo interior reflecte o exterior e vice-versa. Ontem peguei num livro antes de dormir e pensei “Que silêncio!” Por que é que sinto um livro como silêncio e o computador como barulho? Que estímulos vos evocam a paz e que estímulos vos evocam o ruído?




Creio que o estímulo que conduz à paz é aquele que permite contemplação. E a contemplação requer tempo. E a contemplação requer espaço. E a contemplação requer amor. Tão pouco é necessário assim tanto tempo ou assim tanto espaço ou um amor devoto. 5 minutos para dar e receber.  Espaço interior. E amor-próprio. E a vida não nos escapa. Acontece. 


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Bom, a vida acordou! Acordámos uma para a outra... E connosco regressam as várias ritas... A Rita que de manhã dá aulas de Pilates, de tarde é secretária, à noite dá uns passos de dança - ora de hip hop, ora de clássico, ora de jazz, ora ora... - de madrugada ainda faz relatórios como formadora, nos intervalos ainda faz telefonemas como psicóloga e termina o dia como blogger/escritora. Qual barbie qual quê! 




domingo, 26 de janeiro de 2014


Se formos bem a ver, ensinam-nos a viver por partes. O tempo é dividido por anos, dias, horas e minutos e o espaço é dividido por estradas, muros e paredes. Desde o início nos ensinam a viver por partes e em partes. São partes que existem dentro de partes maiores. Ainda assim o tempo é contínuo, ainda assim o ar é para todos. Em alturas difíceis, ir por partes dá muito jeito. Organiza-nos. Como armários. E gavetas. Um passo. E depois o outro. Primeiro a saúde, depois o trabalho. Primeiro um dia. Depois o outro. Primeiro gatinhar. Depois andar. Um dia correr. Um dia parar. Até a música se divide em tempos e o corpo é analisado por partes e especialistas diferentes, consoante nos doa o pé ou o coração. Até eu tenho várias partes. Habituei-me a funcionar com várias partes em simultâneo - dizem que as mulheres têm mais facilidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo - e a dividir-me e/ou multiplicar-me porque não gosto apenas de uma coisa nem uma coisa apenas me serve. Veste, despe, tira, põe, troca, entra, sai. O contra-senso de nos dividirmos tanto é o risco de ir perdendo partes por aí e sobretudo de perder o todo que somos nós e que pouco tem a ver com a soma das partes. Não há operação aritmética que resolva isto. Na esquizofrenia da vida, quando se perde todas as partes - aí sim - está-se ainda mais perto de reencontrar o todo. Despe-te. Talvez te encontres.


Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014

A paixão é um dos ingredientes da felicidade. Eu diria que o amor é o ingrediente principal mas, dado a que possui por si só uma natureza mais elevada, comecemos pelo princípio. E onde começa qualquer história de amor? Pela paixão… Então, para mim, uma vida plena e feliz é uma história de amor, apimentada por paixões que nos conduzem e nos mantêm vivos e saudáveis.

Como reconhecer a paixão? O brilho nos olhos, as mãos a tremelicar, as borboletas no estômago, a pele arrepiada? Sim, a paixão é sensorial e autónoma; não tem uma fórmula exacta, mas percorre-nos. Às vezes é discreta, outras vezes mais assolapada, mas acredito que a paixão certa é aquela que nos permite sentir em casa e felizes por regressar a casa, daí que todos os receptores nervosos respondam em consonância. Há um re-conhecimento. É isto. Ou será isto o amor? 

A paixão não existe sem alegria e entusiasmo. São primos-irmãos, emparelhados. Nem a felicidade. O que na vida te dá alegria? Quando te vês entusiasmado? O que te permite manifestar o melhor de ti? O que te surge das entranhas? Não há paixão que não se entranhe ou desentranhe! Não há paixão que não seja visceral! Não há paixão que não seja orgânica! A paixão mora no sistema nervoso autónomo e não no central. É tão periférica que nos abraça e nos leva a abraçar o mundo. 

Acredito que o principal problema dos desapaixonados pela vida que andam deprimidos pelos cantos – sempre têm as paredes para os amparar caso aconteça alguma coisa – é a perda dessa ligação com o mais simples e barato da vida: o que lhes dá PRAZER, o toque, o cheiro, o sabor, o som, a imagem, a intuição, exponenciadas em múltiplas experiências. Está tudo na Mãe-Natureza e na nossa natureza e está ao nosso alcance diariamente! O que te desperta para além de um balde de água fria? (nada contra os baldes de água fria nas alturas certas, quando nada mais funciona.)

Vivemos numa sociedade desapaixonada que acredita que viver é trabalhar para pagar as contas, fazer acontecer para agradar e corresponder a determinados padrões e expectativas, procurar alcançar objectivos que são coisas que ainda não existem para perderem o que vai existindo pelo caminho, ganhar dinheiro, ter títulos universitários e pós-universitários, ter e ter. Depois anda meio mundo, senão o mundo todo, à procura do que já foi mas não se lembra do que é.

Saber o que se é implica saber do que se gosta e vice-versa e só a paixão pela vida e as borboletas intraviscerais podem guiar-nos pelo caminho certo, sendo que é preciso sair do casulo para se reaprender a voar. Não esperem grandes alaridos e montanhas-russas, mas calem-se porque a voz é silenciosa e não se faz gritar. Sem silêncio não se sente, não se ouve, não se saboreia, não se vê, não se vive. Deixem o silêncio manifestar-se e o bichinho falar.  

P.S. Não falo da paixão prima do medo, aquela que faz o mundo acabar; falo da paixão prima do amor, aquela que faz o mundo começar. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014


Subtítulo: E agora? O meu relacionamento afectivo com a vida e comigo mesma

I.                    Homeostase emocional

Modo “Sempre assim, em baixo em baixo em baixo”
Mantenho me muito tempo em cima, contrariando, contornando ou confrontando-me com as minhas dificuldades e frustrações – consoante os momentos – e, quando venho abaixo, bato no fundo para voltar a subir à tona de água. Angústias. Medos. Ansiedade. O pacote-todo-das-coisas-que-não-queremos-manifestar-e-que-tomam-uma-forma-ainda-mais-assustadora-de-tanto-as-tentarmos-esconder. Chorar, lamentar, zangar, pedir ajuda. Modo não-gosto-de-me-ver-assim-mas-se-não-me-assumo-assim-nunca-mais-ando-para-a-frente! Eu zangada com a vida. A Rita injustiçada, lamentada.

Modo “Sempre assim, em cima em cima em cima”
Este são aqueles momentos em que me encontro a sorrir com toda a razão e sem razão alguma, aqueles em que me sinto agradecida por todos os encontros e desencontros da vida, aqueles em que sou criativa, espontânea e poderosa na forma de ser e na capacidade de transformar para ser ainda melhor, aqueles em que dou o melhor de mim, a coisa mais fácil do mundo porque só tenho de Ser. Eu apaixonada pela vida. A Rita grata, responsabilizada.

Desafios:
     1. assumir todas as dificuldades e frustrações do recomeço para que essa experiência seja integrada – e não clivada – na experiência maior de ter toda uma vida pela frente para reinventar, escolher e criar, oportunidade que nem todos têm ou se permitem ter.
     2. transformar a paixão pela vida em amor, aceitando que a frustração faz parte e que o ego tem sempre uma palavra a atrapalhar no meio disto tudo.

Nota: No meu caso, o modo em baixo tem uma duração curta e um bocadinho dramática – juízos de valor feitos a posteriori - mas acredito que o objectivo último do nosso corpo, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista emocional, seja sempre a homeostase, o equilíbrio. Overdrama emocional depois do overdrama físico, que nem sempre ou quase nunca são síncronos. Que saia o que tiver de sair. Que entre o que tiver de entrar.

II.                  Regresso à vida real e ao que era e ainda sou

A doença ajuda-nos a baixar a guarda. Quando estamos doentes, não temos energia e força para nos defendermos ou resistirmos. Na verdade, a doença é uma fantástica experiência de entrega. Entrega ao outro que é cuidador, entrega à fé e à sensibilidade, entrega ao próprio medo que até fica pequenino por não encontrar resistência, entrega ao amor que surge de todos os lados, mas sobretudo dentro de nós. Sem entrega não há cura.

Volta a saúde, voltam as defesas, os medos, as resistências, a vida como ela era, a Rita como ela é. Não será igual, mas será mais do mesmo, porque – voilác’est moi! Se eu pensava que de repente ia transformar-me num ser iluminado vacinada contra as dores e as patetices da vida? Nem do tio Patinhas me livrei! Se já estás a refilar muito, esquece a doença, porque: estás curado!

Desafios:
     1. Não me esquecer de tudo o que experienciei e continuar a aplicar as aprendizagens que fiz durante o processo da doença/crise, na minha vida, nas minhas relações, no meu trabalho, com as minhas pessoas e sobretudo comigo mesma.

Nota: Há alturas em que parece que não aprendemos nada! Nada que uma chapadinha da vida não resolva. Inha, universo, inha!

III.                Desamparo

Depois da doença, qual o sistema de suporte? Acabam-se os médicos, as visitas, os mimos, o circo. E que faz o palhaço quando o circo termina? E o artista quando a fama se esvai? A verdade é que há todo um processo de reinserção na vida real que é negligenciado pelo sistema de saúde, que se preocupa mais com a doença do que propriamente com a saúde. O regresso a uma rotina, à vida profissional, à vida pessoal, a todos os papéis que deixámos de assumir durante o tempo em que estivemos privados dessa possibilidade. E acrescento que o sistema de saúde que temos reflecte as pessoas que somos: preocupadas na doença, negligentes na saúde. Por que só temos tempo uns para os outros quando estamos a morrer? Por que somos tão sensacionalistas? Pois é, pessoas doentes/curadas, a doença é dura, mas a depressão pós-doença é uma realidade. E tratar e entender este desamparo é fundamental para prevenir recidivas. O cancro não volta repetidamente se o entendermos, se soubermos ouvir. E o corpo é tagarela e não se cala enquanto não o escutarmos.

Por que é que é difícil voltar à vida real? Bom, começando pelo corpo, levou uma tareia tal que não há nada que esteja nos sítios conhecidos e devidos; passando pela cabeça, levou uma lavagem tal que as ideias têm de ser todas reabilitadas e realojadas; terminando no coração: esse é o máximo, porque ainda bate depois de tudo isto! (Falta a alma, mas essa… não é pequena, já se sabe!)

Desafios:
1. Muita calma nessa hora.
2. Olhar para dentro e reconhecer que esse desamparo provavelmente já cá estava antes da doença e que está na hora de o abraçar se queremos dar o passo em frente e não voltar para trás. É tempo de confrontar e desenvolver estratégias e mecanismos internos para lidar com a realidade, recorrendo a mecanismos externos se necessário, mas sempre conscientes de que somos as estrelas do nosso campeonato, para o bem e para o mal.

       IV.     Crise de identidade

Com quem me identifico? Quem sou agora? Como estou? Onde estou? E para onde vou? São as mesmas pessoas? A mesma rede de amigos? O que mudou? Mudaram as pessoas, mudei eu? Não voltamos ao ponto de partida porque o tempo entretanto continuou e, como tal, também poderá ter mudado o ponto de chegada. Há conversas que já não nos fazem sentido ter, pessoas que já nem nos apetece ver, pessoas que já não nos querem ver, coisas que já não queremos aturar. Às vezes queremos isso tudo, outras vezes não queremos nada disso. Ninguém nos entende! Ninguém! E nós, sabemos explicar?

Desafios:
1. um dia de cada vez! Baby steps e confiança. Tudo vai ao lugar e, se o lugar não for o mesmo de antigamente, é bom sinal. Avançámos.
2. Como dizia uma amiga minha no meu último devaneio: “nós – os outros - não temos de entender, só temos de aceitar”. E nós – os eus – também não temos de entender tudo, mas aceitar que, agora, é assim.


Nota final: Há pessoas que experienciam a doença de uma forma menos limitadora, com sintomas físicos menos condicionantes e que podem manter intactas a capacidade de exercerem as actividades diárias e manterem os seus relacionamentos, mas acredito que a doença não se apresenta e não se vai embora sem deixar pelo menos as marcas de um tufão. Se a doença não se quer ir embora de maneira nenhuma, desculpem-me pessoas doentes, que venha o tufão! 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Este foi o programa do último Sábado. O público-alvo desta associação e desta formação são os doentes evacuados de Cabo Verde, principalmente os que colaboram também como voluntários. Estou a assistir a esta formação, no primeiro dia sobre as doenças cardiovasculares, no segundo sobre a doença renal - faltam dois - para aumentar os meus conhecimentos e estar mais e melhor preparada para trabalhar na área da psicossomática.

E quando se fica com vontade de abraçar toda a gente numa sala?

domingo, 19 de janeiro de 2014


Se há coisa que um bebé traz, é: Esperança. Se há coisa que uma mãe traz, é: Amor. Se há coisa que uma amizade traz, é: Segurança. Se há coisa que uma mulher traz, é: Mil Sentidos. Se há coisa que a vida traz, é: Oportunidade. Se há coisa que eu trago, é: Gratidão. Se há coisa que a Joana me traz, é: Inspiração.

Tudo é possível e passível de acontecer. No tempo certo. A quem sonha.

sábado, 18 de janeiro de 2014


   
Re-make de 7 de Julho de 2013, para o espectáculo CRIO da Arte Move, Academia de Artes:


O meu coração fala sozinho. Tenta falar comigo. Eu não oiço. Tenta falar contigo. Tu não estás. Parece que as palavras do coração rimam em versos de chorar. Tenho medo de ser levado e nunca mais amar. Não vou contigo. Ainda aqui estás? O meu coração fala sozinho. Porque não pode calar-se, mas não encontra ouvidos destapados para as palavras mais bravas. Palavras abafadas que às vezes dançam, às vezes cantam... mas os males não espantam... porque o meu coração fala sozinho. Não encontra interlocutor. Nem em mim… quanto mais em ti! “Cala-te um bocadinho… Deixa-me sozinho… Sozinho…”



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014




Os amigos são assim como bruxinhas boas que nos antevêem um futuro risonho. Este foi o post da Ana no dia 31 de Dezembro de 2012, depois do primeiro ciclo de quimioterapia, que me deixou no limbo. No mesmo dia, um ano depois, estava a linfobabe Dani na corda bamba, na fronteira das grandes decisões - ir ou ficar - mas a profecia que se confirmou para mim, confirma-se para ela também, que sai hoje do isolamento do IPO, de volta à vida que escolheu. Hoje celebramos porque sabemos o valor que temos, o valor que têm as pessoas que nos rodeiam e o valor que têm os créditos de vida que recuperámos.

E até a Lua se encheu de sonhos e esperanças. E até Lisboa se cobriu de branco. E até quem sabe um dia, não hoje, mas eventualmente, nos possamos sorrir disto tudo...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014


Como a vida é dualidade para lá da unidade, vou falar de tristeza e de estar triste. Podia falar de estar zangado, furioso, magoado, incomodado, mas vou falar de estar triste porque a tristeza se esconde atrás de várias máscaras, até de muitos sorrisos. A tristeza é uma óptima companhia, deixa-nos chorar, dá-nos colo e abraça-nos para não irmos a lado nenhum. Se não fosse a tristeza, como seria a solidariedade? E a amizade? A tristeza visita-nos e chateia-nos muito se não a deixamos entrar. Não vem sozinha. Traz vários amigos que nos ajudam a expressá-la: lágrimas, palavras, gritos, silêncio... Sim, o silêncio ajuda-nos a ouvir a tristeza... E o sorriso. A tristeza traz-nos o sorriso para que não fiquemos sós quando se vai embora. 

Terça-feira, 14 de Janeiro de 2014

Hoje saí da "Padaria Portuguesa" a sorrir e do restaurante vegetariano "Jardim das Cerejas" com um sorriso rasgado na cara que só desfiz quando me apercebi de que estava a rir sozinha no meio da rua. Com isto percebi que, na balança das pessoas que me rodeia ou de que me faço rodear, quero aumentar o lado das pessoas que me fazem sorrir, sejam elas muito íntimas ou perfeitas desconhecidas.Tão simples quanto isso. Para que 2014 me sorria, vou sorrir a 2014. E é tão barato sorrir que não acredito na desculpa da crise para não o fazer.

domingo, 12 de janeiro de 2014


Um cancro não passa pela vida de uma pessoa sem varrer tudo o que lhe aparece à frente, se fizer jus à fama que tem de devastador e engolidor de vidas das pessoas como elas as conheciam até então. Há bichos-papões que se materializam e papam papam tudo, ainda mais se não ousarmos deixá-los famintos. E mais do que o cancro em si, a quimioterapia é um bicho-papa-tudo, o alegado mau e o sempre bom. E assim, com a inibição do crescimento celular, traz com ela a menopausa, engolidos ovúlos, estrogénios, progesteronas ou qualquer potencial de criação ainda vigente. Ainda acredito ser um verdadeiro milagre a forma como o corpo sobrevive a tratamentos tão destrutivos e como o corpo nos perdoa pelo mal que lhe fazemos acreditando num bem maior.

Com a menopausa induzida pelos tratamentos, vêm todos os sintomas de que ouvimos falar e que, no meu caso com 32 anos, tinha guardados a umas décadas de distância. Fertilidade, sexualidade, intimidade, hormonalidade e emocionalidade... Tudo em causa fora da idade! 9 meses a debater-me com valores de sobrevivência que se levantaram e que me fizeram sentir assexuada, sem género ou categoria, remetida para uma fase embrionária de não-menino, não-menina e apenas pessoa ou projecto de pessoa.

9 meses depois do primeiro tratamento e 4 meses depois do último, nasce o bebé menstruação-de-volta, como se de uma porta se tratasse, de um quarto escondido e encerrado a 7 chaves, redescoberto e reaberto. Abre-se a porta e regressam todos os sonhos. Abre-se a porta e espreitam os medos. Abre-se a porta e saiam da frente que atrás vem tudo da gente! Hormonas a circular, trânsito de emoções engarrafadas, altos e baixos, pára-arranca's, nada certo a não ser a vida de volta, mas com força, porque isto não acontece por simpatia.

E 9 meses depois, os ciclos estão mais curtos, os períodos maiores e... aguenta coração! Se o corpo não é mágico, o que é? A esta velocidade, 2014 vai querer recuperar o tempo congelado de 2013 traduzindo-se em mais ciclos do que era suposto, como se tratasse de um processo de homeostase e busca de equilíbrio, que eu não encomendei mas que impera. E vamos que vamos! Em contrapausa, observando tudo o que me está a acontecer... e eu que não gosto de montanhas-russas!

Não encomendem um cancro se vos faltar emoção no vosso filme. Façam qualquer outro desporto radical menos este!

sábado, 11 de janeiro de 2014

"To see the world, things dangerous to come to, to see behind walls, draw closer, to find each other, and to feel. That is the purpose of life."

"Beautiful things don't ask for attention."

Banda sonora: Jose Gonzalez "Step out":

"Heart's on fire, leaving all behind
Dark as night, let the lightning guide you"

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

"O que se passou nestes dias comigo? Bom, nem eu sei descrever bem, porque muita coisa a memória decidiu não reter" - Daniela Amaral, auto-transplante de medula, linfoma

Desafiei a Dani para partilhar um bocadinho do seu diário-do-transplante, enquanto está internada e isolada nestes dias que tão dificeis têm sido. Depois de uns dias sem conseguir escrever, ao 24º dia, a memória é traiçoeira. Ou fiel?
A memória pode atraiçoar-nos mas as mentiras que nos conta são piedosas e as omissões são actos de amor. De que serve lembrarmo-nos da dor senão apenas para não nos esquecermos de que lá estivemos e de como não queremos lá voltar? As nossas células não se esquecem certamente, mas não temos de revisitar o absurdo da nossa existência que, de tão louco, se desordenou, amontoou e até tentou desaparecer no nosso cérebro. Está tudo lá e apita mais tarde, em várias situações da vida:
1. Quando outra dor se apresenta, é relativizada.
2. Quando outra dor se aproxima, permitimo-nos escolher outro caminho.
3. Quando damos conta de que estamos a infelicitar-nos, recordamo-nos de como somos fortes e felizes.
4. Reconhecemos o amor porque é o que somos, o que merecemos e o que nos afastou a dor do caminho.
Recordar tudo e ao certo do que nos aconteceu seria perversidade e maldade do nosso cerebro. Está tudo pensado. E sem memória, só existe o agora. Agora és feliz.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


Eu posso não ter nada de material neste momento na minha vida mas o meu património imaterial é inestimável!  Eu olho para algumas coisas que vejo os meus amigos fazerem por mim e fico parvamente feliz, primeiro por receber tanto amor e depois por estar rodeada de pessoas que todos os dias se tornam seres melhores para si e para os outros,  fazendo-me acreditar,  de alguma forma, que a fórmula para melhorarmos o mundo à nossa volta passa fundamentalmente por sermos o melhor que podemos ser. Há qualquer coisa de mágico nisto, embora seja uma regra muito simples, a da atracção. Hoje também vivenciei outro passe de mágica, o truque do equilíbrio.  Quando alguma coisa nos falha, se estamos alinhados, há sempre um movimento compensatório que mantém a balança no sítio.  Por isso, ser amor compensa sempre, sempre que seja incondicional,  o único que tem um verdadeiro retorno, sendo que o retorno pode vir de qualquer lugar, não exactamente de onde deixamos a semente,  porque fazemos parte do todo-aldeia-universal. É preciso desapegar-nos do retorno para que este possa ter lugar. 

domingo, 5 de janeiro de 2014



Conto-te pelos dedos para não me escapares pelas mãos
Toco-te bem baixinho para não desafinar a ilusão
7 pecados e +1 de satisfação
Há certos caminhos que se erram – por que não?

Counting you on my fingers so this can't get out of hand
I'll play you low, don't want the illusion to be out of tune 
7 sins plus one for satisfaction
We meander along right paths - why not?


Boomerang #5
                                                                                                                               Boomerang #4
Boomerang #3

                                                                                                                               Boomerang #2
                                                                                                                               Boomerang #1

sábado, 4 de janeiro de 2014


EU AMO

Realizado a 31 de Maio de 2013, uma semana antes da última quimioterapia

Não há forma melhor para responder ao medo do que lembrarmo-nos do que somos feitos e de onde vimos; aceitar todas as emoções que ainda nos prejudicam em vez de lutar contra elas e aumentar a vibração de amor para que o corpo responda em consonância; recordar todas as razões pelas quais quero continuar por cá durante mais uns tempos...

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014





























A Dani encontra-se no IPO a recuperar de um auto-transplante de medula e precisa de muitas mãozinhas dadas em curação para "não se esquecer de lembrar" dos nossos planos para 2014! 

Ver-te hoje como eu já estive. É um filme. Assustador. Mas é só um filme.

P.S. "Não esquecer de lembrar" está escrito na parede do quarto onde se encontra internada e isolada há cerca de 15 dias.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014


Terça-feira, 31 de Dezembro de 2013

Não são as resoluções apenas a repetição das soluções que querem para vocês todos os anos, mas que andam tantas vezes empatadas e enroladas nos 365 dias do ano? Re-solucionamos as nossas questões com a determinação e a firmeza esgotadas no ano transacto e renovadas pela expectativa de uma nova oportunidade. 


A vida é uma sequência de oportunidades. 
A sorte é o encontro do vento com o mar. 
A felicidade está nos sentidos. 
O norte às vezes está no sul. 
A tristeza é o descanso da alegria. 
O sol não aparece sempre, mas brilha sempre.
O amor não escolhe, existe.

Mais uma ficha, mais uma volta. 

P.S. Descansa em paz, 2013...

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