sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Põe e Diz-Põe #3

"O que se passou nestes dias comigo? Bom, nem eu sei descrever bem, porque muita coisa a memória decidiu não reter" - Daniela Amaral, auto-transplante de medula, linfoma

Desafiei a Dani para partilhar um bocadinho do seu diário-do-transplante, enquanto está internada e isolada nestes dias que tão dificeis têm sido. Depois de uns dias sem conseguir escrever, ao 24º dia, a memória é traiçoeira. Ou fiel?
A memória pode atraiçoar-nos mas as mentiras que nos conta são piedosas e as omissões são actos de amor. De que serve lembrarmo-nos da dor senão apenas para não nos esquecermos de que lá estivemos e de como não queremos lá voltar? As nossas células não se esquecem certamente, mas não temos de revisitar o absurdo da nossa existência que, de tão louco, se desordenou, amontoou e até tentou desaparecer no nosso cérebro. Está tudo lá e apita mais tarde, em várias situações da vida:
1. Quando outra dor se apresenta, é relativizada.
2. Quando outra dor se aproxima, permitimo-nos escolher outro caminho.
3. Quando damos conta de que estamos a infelicitar-nos, recordamo-nos de como somos fortes e felizes.
4. Reconhecemos o amor porque é o que somos, o que merecemos e o que nos afastou a dor do caminho.
Recordar tudo e ao certo do que nos aconteceu seria perversidade e maldade do nosso cerebro. Está tudo pensado. E sem memória, só existe o agora. Agora és feliz.

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