domingo, 12 de janeiro de 2014

Quimioterapia, menopausa e contrapausa


Um cancro não passa pela vida de uma pessoa sem varrer tudo o que lhe aparece à frente, se fizer jus à fama que tem de devastador e engolidor de vidas das pessoas como elas as conheciam até então. Há bichos-papões que se materializam e papam papam tudo, ainda mais se não ousarmos deixá-los famintos. E mais do que o cancro em si, a quimioterapia é um bicho-papa-tudo, o alegado mau e o sempre bom. E assim, com a inibição do crescimento celular, traz com ela a menopausa, engolidos ovúlos, estrogénios, progesteronas ou qualquer potencial de criação ainda vigente. Ainda acredito ser um verdadeiro milagre a forma como o corpo sobrevive a tratamentos tão destrutivos e como o corpo nos perdoa pelo mal que lhe fazemos acreditando num bem maior.

Com a menopausa induzida pelos tratamentos, vêm todos os sintomas de que ouvimos falar e que, no meu caso com 32 anos, tinha guardados a umas décadas de distância. Fertilidade, sexualidade, intimidade, hormonalidade e emocionalidade... Tudo em causa fora da idade! 9 meses a debater-me com valores de sobrevivência que se levantaram e que me fizeram sentir assexuada, sem género ou categoria, remetida para uma fase embrionária de não-menino, não-menina e apenas pessoa ou projecto de pessoa.

9 meses depois do primeiro tratamento e 4 meses depois do último, nasce o bebé menstruação-de-volta, como se de uma porta se tratasse, de um quarto escondido e encerrado a 7 chaves, redescoberto e reaberto. Abre-se a porta e regressam todos os sonhos. Abre-se a porta e espreitam os medos. Abre-se a porta e saiam da frente que atrás vem tudo da gente! Hormonas a circular, trânsito de emoções engarrafadas, altos e baixos, pára-arranca's, nada certo a não ser a vida de volta, mas com força, porque isto não acontece por simpatia.

E 9 meses depois, os ciclos estão mais curtos, os períodos maiores e... aguenta coração! Se o corpo não é mágico, o que é? A esta velocidade, 2014 vai querer recuperar o tempo congelado de 2013 traduzindo-se em mais ciclos do que era suposto, como se tratasse de um processo de homeostase e busca de equilíbrio, que eu não encomendei mas que impera. E vamos que vamos! Em contrapausa, observando tudo o que me está a acontecer... e eu que não gosto de montanhas-russas!

Não encomendem um cancro se vos faltar emoção no vosso filme. Façam qualquer outro desporto radical menos este!

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