domingo, 26 de janeiro de 2014

O bichinho da paixão

Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014

A paixão é um dos ingredientes da felicidade. Eu diria que o amor é o ingrediente principal mas, dado a que possui por si só uma natureza mais elevada, comecemos pelo princípio. E onde começa qualquer história de amor? Pela paixão… Então, para mim, uma vida plena e feliz é uma história de amor, apimentada por paixões que nos conduzem e nos mantêm vivos e saudáveis.

Como reconhecer a paixão? O brilho nos olhos, as mãos a tremelicar, as borboletas no estômago, a pele arrepiada? Sim, a paixão é sensorial e autónoma; não tem uma fórmula exacta, mas percorre-nos. Às vezes é discreta, outras vezes mais assolapada, mas acredito que a paixão certa é aquela que nos permite sentir em casa e felizes por regressar a casa, daí que todos os receptores nervosos respondam em consonância. Há um re-conhecimento. É isto. Ou será isto o amor? 

A paixão não existe sem alegria e entusiasmo. São primos-irmãos, emparelhados. Nem a felicidade. O que na vida te dá alegria? Quando te vês entusiasmado? O que te permite manifestar o melhor de ti? O que te surge das entranhas? Não há paixão que não se entranhe ou desentranhe! Não há paixão que não seja visceral! Não há paixão que não seja orgânica! A paixão mora no sistema nervoso autónomo e não no central. É tão periférica que nos abraça e nos leva a abraçar o mundo. 

Acredito que o principal problema dos desapaixonados pela vida que andam deprimidos pelos cantos – sempre têm as paredes para os amparar caso aconteça alguma coisa – é a perda dessa ligação com o mais simples e barato da vida: o que lhes dá PRAZER, o toque, o cheiro, o sabor, o som, a imagem, a intuição, exponenciadas em múltiplas experiências. Está tudo na Mãe-Natureza e na nossa natureza e está ao nosso alcance diariamente! O que te desperta para além de um balde de água fria? (nada contra os baldes de água fria nas alturas certas, quando nada mais funciona.)

Vivemos numa sociedade desapaixonada que acredita que viver é trabalhar para pagar as contas, fazer acontecer para agradar e corresponder a determinados padrões e expectativas, procurar alcançar objectivos que são coisas que ainda não existem para perderem o que vai existindo pelo caminho, ganhar dinheiro, ter títulos universitários e pós-universitários, ter e ter. Depois anda meio mundo, senão o mundo todo, à procura do que já foi mas não se lembra do que é.

Saber o que se é implica saber do que se gosta e vice-versa e só a paixão pela vida e as borboletas intraviscerais podem guiar-nos pelo caminho certo, sendo que é preciso sair do casulo para se reaprender a voar. Não esperem grandes alaridos e montanhas-russas, mas calem-se porque a voz é silenciosa e não se faz gritar. Sem silêncio não se sente, não se ouve, não se saboreia, não se vê, não se vive. Deixem o silêncio manifestar-se e o bichinho falar.  

P.S. Não falo da paixão prima do medo, aquela que faz o mundo acabar; falo da paixão prima do amor, aquela que faz o mundo começar. 

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