sábado, 31 de dezembro de 2016




Gosto de fotografias porque são auxiliares de memória e porque me recordam das coisas BOAS. As noites sem dormir, a ansiedade, os medos, as lágrimas e as perdas não têm registo visual. Assim sendo, terminamos em bom! Que as melhores vivências estejam inscritas nas minhas células! 

Podia ter escolhido outras fotografias, mas fui pela facilidade, uma vez que não estou em casa e não consigo aceder a todas as fotografias tiradas este ano. Aqui vai...


Neste quadro, começamos em Torres Vedras, a brindar ao ano novo mas logo vamos para Lisboa, ao aniversário da Suse, ainda sob o espírito do Carnaval, relembrar que os heróis moram dentro de nós, como cantou, um dia, a Mariah: "There's a hero if you look inside your heart.". Em Março, temos uma fotografia da viagem a Salamanca, tanta vida condensada num fim-de-semana comprido! Saltamos Abril, o mês da maior conquista deste ano, a mudança de casa, a segunda na minha nova vida! Passamos para Lisboa, para o presente que a Joaninha me deu pelos meus 36 aninhos - inhos! Esta miúda espelha-me sempre coisas de que nos esquecemos tantas vezes, tais como: o poder da intenção, o potencial criativo e a completa estupidez que são as zangas de família, ao pé do que poderiam realmente representar os laços de sangue! Saltamos para o Estoril, no 60º aniversário da mãe Nobre. "Do Alentejo para o Mundo", diz lá atrás. Resume a sua história e a inspiração que me traz todos os dias a alegria que o seu sorriso transporta. Acabamos na vitória do EURO2016, a relembrar a importância do coletivo. Somos muito pequenos sozinhos e enormes quando reunimos as nossas forças!

Neste quadro, temos logo duas perdas, uma profissional e outra pessoal/afetiva. Mas, em imagens, temos duas vitórias, dois projetos que tive oportunidade de viver depois do cancro, uma história de amor atribulada e a passagem por uma instituição onde pude trabalhar no que mais gosto, com amor e criatividade. Tanto o relacionamento como o projeto profissional tiveram um fim, este ano; encerraram um ciclo deste caminho. Neste quadro, vamos do Estoril ao Algarve e passamos pela Mata dos Medos, na Caparica. Começamos com pele, o maior órgão do nosso corpo, o único capaz de abraçar, de colar para não perder, de amar para (sobre)viver; temos a minha vida em palco e temos uma nova vida prometida para 2017, gente a caminho de um lugar de esperança. De mudança.

Aqui começamos em Ponte de Lima e acabamos em Vila Nova de Milfontes. Temos amor, dança, música, trabalho, Natal e magia. Se eu te pego, não te largo mais. Ou então largo. Ou então não te peguei. Este ano iniciei um projeto numa nova instituição. Restituíram-me a alegria. Este ano o pai fez quimio e fez 64 anos. Prefiro mostrar-vos a celebração. Este ano os olhos custaram a fechar e a descansar, mas prefiro mostrar-vos a introspeção: "Vou dançar como se tivesse dormido!" E dancei. A Arte Move - uma casa, o projeto We Move - amor e energia criativa em movimento.

Termino com a fotografia que escolhi para resumir este ano. Perdi mais ou menos 6kgs, também uma conquista, com falta de apetite, suor e lágrimas. Sei que se segue um ano mais leve. Dos jardins do Palácio de Belém, na imagem, digo-vos para serem exigentes. Queiram vida de príncipes e princesas e sejam felizes para sempre!


quinta-feira, 29 de dezembro de 2016


Só pode ser bom presságio para 2017, mas foi uma conquista do 2016, um ano difícil que me ensinou que a vida é para simplificar e que importa saber recuar para avançar. Ou, pelo menos, abrandar. Talvez só daqui a vinte anos haja a hipótese de passar dos 3 dígitos para os 4, por isso celebro as 100 mil visualizações como uma forma de me despedir deste ano com um sentido de gratidão que tantas vezes se dilui no meio das dificuldades. Neste cantinho, nunca se perde. Sei de onde venho. 

Ao pé do 2013, qualquer ano é lucro, mas este ano aprendi uma coisa sobre este caminho: depois de bater no fundo, existe o perigo de baixarmos a fasquia, a fasquia do que se merece, do que se exige, do que se sonha. É diferente valorizar as pequenas coisas ou desvalorizarmo-nos ao ponto de nos contentarmos com o que fica. Contentar é abdicar do que se merece. Não se trata de voltar à vida, trata-se de voltar à vida que se quer, ainda que a paisagem tenha mudado. 2016 foi o ano de procurar o son(h)o. 2017 vai ser o ano de o encontrar.

Para 2017, vou. Obrigada!


100 000 e 1, o número de todos os começos

terça-feira, 27 de dezembro de 2016



O almoço de Natal é tradicionalmente mais desmantelado porque há outras famílias para assistir. Por enquanto, tenho esta, na noite de 24 e no almoço de 25. À tarde, vamos dar uma volta. O ano passado foi assim. Este ano também, mas junto ao rio. Na manhã de 26, ainda me aventurei a ir de bicicleta comprar o bilhete do Expresso para regressar a casa, à minha casa. Há dois meses atrás, meti-me, pela primeira vez depois da doença, em cima de uma bicicleta mas ainda não me aventurava a ir para a estrada. Desta vez fui. E voltei! :)





Publicaram hoje as fotografias oficiais do meu encontro com o Pai Natal, na página do facebook Viver Milfontes. Fica aqui o registo!








segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


"Sabes uma coisa?"
"O quê?"
"Eu voo!"



Desde que me conheço que respeitamos o ritual de esperar pela meia-noite, a ansiedade, a expetactiva, a excitação, o saber esperar e preencher esse tempo com todos estes ingredientes. A capacidade para a espera está cada vez mais escassa nos dias de hoje, em que impera o imediato. 

Tenho para mim que esta capacidade para esperar - neste ritual ou em qualquer situação do dia-a-dia - está ligada diretamente a outro ingrediente essencial à vida: a esperança. Eu até acredito que quanto menos capazes formos de esperar, menos capacitados vamos estar para a esperança, que mais não é que a espera pela bonança

Voltando à consoada, aquelas duas horas entre o jantar e a abertura dos presentes são um tempo que não existe noutra noite do ano. Ninguém se disfarça de Pai Natal, sabemos apenas que existe - aliás, encontrei-o durante o dia - mas temos entretenimento. Este ano a Joaninha fez um sorteio de uns bombons pela família (última das fotografias acima) e depois, juntamente com o pequeno Tomás, apresentou-nos a peça de teatro: A Rena Voadora. Este ano os fantoches de papel foram a inovação. Seguiram-se as cantorias alusivas ao Natal e muitas gargalhadas por parte do público. Contámos em conjunto 3 vezes até 60 - os 180 segundos que faltavam para abrir os aguardados presentes - com a velocidade que pede que o tempo passe depressa! E depois foi a alegria que já se sabe, de miúdos e graúdos. 

Impagável a simplicidade das crianças, principalmente se nos deixarmos ir no seu tapete voador. E, como os adultos se esquecem de voar, estes momentos são também a consolação de corações tantas vezes apertados que se atrevem a sonhar.





domingo, 25 de dezembro de 2016


Foi um mês cheio de obstáculos mas o Natal tradicional acabou por sair! Estive quase para meter os meus pais com febre a caminho "da Lapónia", mas lá se empinaram! Já chega de doenças!

Gosto do Natal e do ritual. Da escolha dos presentes à decoração, passando pelo convívio familiar, pela comida que adoça o espírito até à produção de todo o evento que constitui a noite da consoada. Como a cozinha fica com a mãe, a tia e as primas, ocupo-me da decoração da mesa e dos últimos embrulhos. Não faço planos nem compramos nada para o efeito. A ideia é agarrar no que há em casa e inventar. Já tinha visto algumas coisas na televisão e nas redes sociais, por isso foi procurar um jarro, copos, folhas do jardim, adereços da árvore da Natal e da decoração que já tinham em casa, guardanapos que sobraram do ano passado e pôr mãos à obra. A neve, por exemplo, é feita de sal da máquina de lavar loiça! A Joaninha, que tem 9 anos, quis fazer umas estrelas em tecido que segurassem os guardanapos e coube ao meu pai a tarefa de passar a tarde a cortar 12 estrelas, o número de pessoas à mesa, enquanto ela finalizava os seus presentes DIY (do it yourself).

Houve bacalhau cozido, tradicional, mas também bacalhau espiritual para os mais gulosos. Depois a mesa dos doces, enquanto a Joaninha também nos presenteava com uma surpresa que tinha preparado mas conto mais amanhã! De-coração, sem dúvida! 



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016


Há 4 anos atrás. estava marcado o "fim do mundo", o tão falado 21/12/2012! Eu estava a começar a fazer quimioterapia pelo que marcaria mesmo o fim de um mundo como eu o conhecia até então. Para além disso, simbolizava para mim a derrota por me ter rendido aos tratamentos convencionais. Era mesmo o fim de uma vida que ficou para trás daquele momento. A Ana postava no meu facebook que seria um "novo começo". 



Este ano, estando ela a atravessar um momento díficil - um Natal de pé estendido na sequência de uma intervenção cirúrgica - resolvi registar mais palavras que me disse, desta vez, sobre ela própria. Publico porque ela tornou público:

Mas é assim que vejo a vida: fazer um gesto que faça alguém feliz ou ajude alguém! que esse alguém possa fazer o mesmo por alguém e tudo é melhor à nossa volta. mesmo com baterias a ir abaixo e pés no ar. e insónias.

Respondi-lhe: imprime e põe na parede! Às vezes é importante registar para quando nos esquecemos de quem somos e para onde vamos. Aprendi isto com este blog. Apalhaçamos muito, mas, às vezes, é a sério! 




Como é que tu vês a vida? E o mundo? Como te vês a ti próprio?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016


Natal, também conhecido por época do enfardanço! Jantares e presentes antes da consoada, dizia o L. que "Natal é quando o homem quiser!" e eu acrescentaria que "É Natal, ninguém leva a mal!" Pensei precisamente nisto quando ontem passei por uma senhora a cantar num palco de rua, num mini-mercado de Natal, tão divertida quanto desafinada! Fizeram-me mais velha do que aquilo que sou ou a minha memória mostra que sou mais velha do que penso que sou, porque não me lembro desta caixa de chocolates da Regina "vintage". E, pronto, o que faz uma pessoa que vive sozinha com tanto chocolate em casa? A borracha do "Mega Mistakes" já entra num terreno perigoso (eu? asneiras?), mas deve ser para apagar os efeitos nefastos do enfardanço! 



No jantar da Arte Move, animámos o "Páteo dos Petiscos"! E foi muito um bocadinho disto e muito mais! Estou muito contente por ter uma agenda de 2017 que inclui o mês de Dezembro de 2016. Já está on!





Legendas para a expressão da Paulinha Careto :P


domingo, 18 de dezembro de 2016



Andei à procura de uma expressão para o título deste post para dizer que as pessoas fortes também adoecem, também quebram, também sentem, mas todas me pareceram curtas para o que quero dizer. Há uma tendência para olhar para algumas pessoas como "duras" porque passaram por muito e continuam ali sempre "firmes e hirtas" porque a vida assim obriga e porque têm almas de gigante - ainda que, por vezes, os centímetros em altura escasseiem. Mas, meus amigos, elas não são "como uma barra de ferro". 

"Dar de si" é uma expressão que também assumiu o significado de ceder, entregar os pontos. E vejam como é bonito: uma pessoa que cede é uma pessoa que "dá de si", dá daquilo que é em prol do outro. Do ponto de vista positivo, é uma pessoa que está ali para o que der e vier, com quem se pode contar, dá o melhor de si aos outros. Do ponto de vista negativo, é uma pessoa que põe tantas vezes os outros à frente de si mesma, ultrapassa muitas vezes os seus limites e tem dificuldades em dizer "NÃO"! 

Os fortes dão de si. Querem ser sempre o que toma conta, o que resolve, o que controla, o que cuida, o que vigia. Tendemos a olhar para eles dessa forma: "Eles aguentam!" porque é assim que se mostram ao mundo. Não mostram o lado da fragilidade, não que esta não lhes assista, mas por proteção, por defesa, por estratégia de sobrevivência - é assim que conseguem. Eles dão de si, entregam-se para servir o outro, com tudo o que isso tem de nobre. Perdem-se muitas vezes entre a servência e a subserviência porque a fronteira é ténue. 

Eu hoje quero sublinhar que os fortes dão de si e que o mundo não tem de confundir isso com outra coisa. Não é fraqueza, não é desistência, não é "podes passar por cima", não é, de todo, permissividade. É que os fortes dão de si e vão querer continuar a dar. Porque lhes está no ADN, na morada da alma, naquilo que são. Cabe-nos o respeito (desenvolveria todo um outro post sobre o que quero dizer com respeito). E a aprendizagem. 


Boas energias para a mãe Nobre que está a chocar uma bem grande! É a única forma de a ter colada ao sofá por uns tempos! Pouco tempo será, já se sabe...



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016


Meu Querido - tão querido! - Pai Natal,

Tenho-te já a dizer que meteste água na poça! Podes até dizer que a culpa não é tua e que as passas é que estavam estragadas, mas há umas quantas coisas que não correram bem este ano. Mesmo nada bem! Apesar disso, ainda vais a tempo de te redimires! Faz isso como quiseres mas há umas quantas coisas que eu acho que deviam ser proibidas no Natal! Ouve bem que eu não vivo para sempre - só tenho algumas vidas e já gastei algumas! 

Devia ser proibido:

- Morrer! - Quem é que se lembra de morrer no Natal? Desculpa, mas acho que podias dar uma ajudinha nesta parte. Toda a gente sabe que morrer é na Páscoa!

- Terminar relacionamentos - A menos que estejamos a falar de violência doméstica, acho que violência é mesmo permitires que isto aconteça! Depois é levar o mês inteiro com o "Last Christmas I gave you my heart..." em todo o lado! Ninguém merece! 

- Estar sozinho - seja em que situação for, mas num hospital, num lar, na rua, em casa... Eu sei que há pessoas que não gostam do Natal mas, porra, algumas talvez nunca tenham tido as razões certas para gostar!

- Haver crianças tristes - Agora muito a sério, apanha aí um avião - deixa lá as renas! - e vai para a Síria fazer alguma coisa! A gente, aqui, safa-se!

No sapatinho, quero um 2017 em condições! A minha mãe costuma dizer que "quem não pede não ouve Deus!" E eu estou a pedir, pronto. Obrigada! Vemo-nos na noite de 24!

Beijinhos, meu querido - sempre querido e (em)prestável! - Pai Natal! 

Rita

Estive com as renas


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016



(Em dia de última Lua Cheia do ano...)



Tantas luas brilham em mim que nem eu própria me reconheço. Há dias vazios e dias cheios. Há dias que sou metade de alguma coisa que nem sei. Não gosto de mim sem lei, desgovernada. Às vezes zangada. Muitas vezes cansada. Expirada. Longe de tudo o que quero ser, quero voltar. A mim. Sei ir e voltar, abrir e fechar, recolher-me e desaparecer, renascer e continuar a viagem. Sou feita de matéria que se contradiz, como a vida que nem sempre é bela, mas que, por bela ser, te faz feliz. 




Ensaios


Foto Instant Bulb

Bastidores






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Palco

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Foto Instant Bulb

Depois do espectáculo



Julho 2016

terça-feira, 13 de dezembro de 2016


O facebook gosta de memórias que já não moram cá.




Aliás, há muita coisa de que não me lembro porque a memória é amiga. Era cliente do IPO havia 4 dias - já lá vão 4 anos de má pagadora, porque sou isenta e só dou despesas -  e já escrevia coisas aparentemente lúcidas. Eu tenho este registo S.O.S.-calma-que-o-teto-só-desabou-e-o-chão-desandou-mas-ainda-ninguém-morreu-e-se-morreu-ainda-estás-viva, que vem sempre em meu auxílio nos piores momentos. Por isso as reações vegetativas ou viscerais são sempre tardias. E inevitáveis. O nosso cérebro é tão assustador, como genial. Quantas vezes eu não me enganava para dizer "hotel" em vez de hospital? Na verdade, foi o hotel onde estive mais vezes e onde fiquei mais tempo. Era uma maravilha o serviço de quartos! Bom, estaria mais para hostel do que para hotel porque fiquei sempre em quartos de 4 e mistos... mas sempre em bom! O serviço de despertar funcionava muito bem e o pequeno-almoço era sempre na cama, luxos que duraram seis meses. Agora, 2017, também quero uma vida de luxo: sem "medos, merdinhas e paneleirices"! E, só isso, já faria de ti um grande ano!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Miúdas giras

Encontrei umas renas especiais. Já passei alguns natais esquisitos e posso recordar 3: o de 2001 cuja consoada passei fechada no quarto depois de uma discussão com a minha mãe (ainda vivia com os meus pais); o de 2011, que passei numa aldeia "perdida" nos confins da ilha de Santiago, em Cabo Verde, com uma família que conhecia havia um mês; o de 2012, numa enfermaria do IPO. Este Natal também tem um sabor agri-doce porque carrega os grandes desafios que 2016 trouxe, mas, em nenhum desses natais atípicos, o espírito se perdeu. Porque o espírito não se perde. Às vezes é o que nos faz precisamente reencontrar. Se o teu Natal este ano for diferente, entrega. Há tanta gente que está sempre numa situação mais difícil. Se ainda há sorrisos de crianças à nossa volta, ainda está tudo certo!



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016


Estava na dúvida entre ReanimAção, ReAnimação ou ReANIMAção. O que quero eu destacar? Ação, Animação ou Anima? A resposta está dada no título. Aviso que vou escrever isto sem saber bem o que vai sair, por isso é possível que saia bastante rebuscado. E que a minha cabeça seja uma seca. 

Hoje o meu carro não tinha sinais de vida, nem um som, nem uma luz - nem um sinal vital, portanto. Teve de ser reanimado; os fios foram condutores de energia eléctrica que passou da bateria de outro carro para o meu e pude vê-lo regressar à vida - o seu ânimo voltou. Não, não fiquei à espera que o meu carro renovasse a sua própria energia sozinho. Não ia acontecer!

Quando alguma coisa morre em nós ou na nossa vida, se os laços são fortes e se o investimento, a dedicação ou a expectativa foram significativos, segue-se, naturalmente, um desânimo. Depois de uma desilusão, uma perda ou um desgosto, "andamos desanimados",  É como se nos fosse retirada energia vital. Talvez a zanga e a revolta constituam estratégias para mantermos essa energia, essa animação que nos mantém no fluxo da vida. Não queremos desaparecer ou morrer com o que morreu. Tenho, aliás, algumas dúvidas de que seja possível sobreviver sem ânimo. A agressividade poderá ser, então, uma estratégia de sobrevivência.

Num relacionamento, vivemos muito da energia vital do outro, que mais não seja porque as duas energias se fundem. É muito difícil que os ânimos não se confundam porque estamos a falar, a um nível mais profundo, de uma ligação de almas. E é disto que falo: anima e animus, em latim, têm esse significado: alma, espírito. 

Também pode acontecer vivermos desanimados (desalmados) em várias áreas da nossa vida porque deixámos que a nossa alma se perdesse noutras ou porque vendemos a nossa alma em projetos/relações que não nos representam. Neste caso, uma separação/mudança pode ser o caminho para recuperar essa anima, a energia ou o chi que vem connosco quando somos dados "à luz", à vida. Acredito que as coisas certas nos animam, nos potenciam o ânimo, nos alimentam a alma. Se não nos anima, é porque nos rouba energia, em vez de nos dar.

Quando penso melhor em tudo isto, todas estas questões nem se deviam colocar se tivéssemos consciência de que as ligações de alma não respondem a questões como o tempo e o espaço. Num plano - digamos - mais espiritual, há tempo e espaço para todos: a energia, assim como o amor, é só uma, chega para todos e não temos de andar a competir por ela. As ligações de alma, literalmente animadas, vão sempre existir para além do tempo e do espaço. Então de onde vem o desânimo? O desânimo vem das guerras, das mágoas, das feridas, das expectativas e das exigências do ego. Vem do apego, da ilusão, da perda de controlo, da incompreensão, da sensação de injustiça, da frustração, de sentir algo como violento. Vem da tristeza que mora no fundo de quem se abandona ou se sente abandonado. 

Isto para mim é válido tanto quando perdemos alguém por morte, como quando perdemos alguém porque nos separamos em vida. A separação física precede sempre a separação das almas porque estas não obedecem a tempo e a espaço, mas a uma missão que têm para cumprir juntas. Comunicamos todos telepaticamente (a um nível inconsciente), daí que seja sempre muito mais demorado sentir que outra pessoa desabita esse espaço dentro de nós. Estamos tão longe e às vezes tão perto (e o inverso também acontece, numa tentativa de manter a individualidade). Tantas vezes continuamos à procura dessa energia, a anima que procuramos incessantemente no outro. Respeitar a separação física, os caminhos diferentes, aceitando a presença do espírito desse fantasma que ainda nos assombra ou desse anjo que ainda nos guia - por vezes, as duas coisas juntas - não é nada fácil. A separação a um nível mais profundo demora e não sei se chega mesmo a dar-se. Talvez, quando o que têm a fazer, a um nível superior, seja lá o que for, se cumpra.

Mas uma coisa é certa (esta é para a A.): uma dor mantém-nos presos, o amor mantém-nos livres. Enquanto doer, não há separação. A dor mantém por perto. E tantas vezes queremos que doa para não deixarmos ir, para não perdermos de vez. As memórias, ai as memórias! As saudades, ai as saudades! Tantas perguntas por responder... Deixemos que a vida nos mostre as suas manobras de reanimação sob a forma de oportunidades, lugares, sons, tempos ou pessoas porque, nisto dos primeiros socorros dos afetos, cada palavra amiga, cada sorriso, cada momento e cada lágrima valem a pena. Não há MESMO almas que sejam pequenas, ainda que habitem pessoas desanimadas ou desalmadas

Haja cabos para estabelecer ligações e vontade de, um dia, voltar a ser dia. 


Primeiros socorros, manobras de reanimação, boca-a-boca. Vale tudo menos morrer.

P.S. O meu dia acabou por ser uma animação entre carros, bancos e um agente da P.S.P. que me telefona a meio da tarde. "Desculpe... quem?" Era o que me faltava acabar o ano numa esquadra! 






quinta-feira, 8 de dezembro de 2016


Ainda a reportagem do espectáculo da Arte Move "Amor. Energia Criativa", de Julho de 2016. Vou partilhando textos e fotografias nesta secção.

Tudo começa na semente. Ou será na chuva? Ou será no sol? A semente que plantas é o amor que levantas, a semente que recebes o amor que alimentas. E, se te deixas semear, haverá sempre ir e voltar.

Semear é amar, é ainda mais do que acreditar... e em que acreditar. É sobretudo cuidar. É onde o amor começa, é onde o amor se funde, é onde o amor se multiplica. Nas pessoas, na natureza, nos animais e em qualquer um dos teus ideais. 

Um dia o sol aquece e voas para um mundo que te abraça. Um dia o vento arrasa e partes ferido na asa. Haverá sempre ir e voltar quando o amor mora na tua casa. Em cada casa. Omnipresente. Tudo começa na semente. 

Ensaios



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Bastidores









Palco



Foto Instant Bulb

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016



Quem fala muito do amor, não sabe muito dele porque amar é amar - não é falar.  Às vezes é tão bom encontrar quem pense por nós, quem sinta por nós. Como quem fica a olhar...

(...)

Náusea. Vontade de nada.
Sento-me à beira da estrada,
Cansado já no caminho
Passo pra o lugar vizinho.

Mas náusea. Nada me pesa
Senão a vontade presa
Do que deixei de pensar
Como quem fica a olhar...

(Fernando Pessoa)

"Passar para o lugar vizinho" é dos exercícios mais difíceis que a vida nos traz mas é tão fácil ires lá parar. O lugar vizinho é sempre também o teu lugar, de onde vens e para onde vais. Não se sabe sem lá passar, não se sabe sem experimentar, não se cresce sem tropeçar. 

Nunca se conhece bem o lugar vizinho sem lhe calçar os sapatos (do vizinho), mas pode ter-se a humildade, à partida, de assumir esse lugar vizinho em nós, aquele lugar que está tão perto como longe, tão acompanhado como só... é tão grande quanto pequeno, tão pouco e tão muito, tanto, tanto que não cabe na voz.

Cartaz da Residência Adaptada Boa Vontade, nas celebrações do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (Cascais)

Deixei de pensar. Como quem fica a olhar.


sábado, 3 de dezembro de 2016


Este ano pedi recursos decorativos de Natal aos amigos do facebook - sabendo que há sempre "tralha" nas arrecadações que não são aproveitadas - e o resultado foi este! Por questões de saúde, desde Julho que não estou a trabalhar "a full", o que me tem feito pensar em soluções viáveis que não me comprometam financeiramente, sem deixar de usufruir desta quadra. Por outro lado, é o primeiro ano depois da doença - e desde que tenho o blog - em que estou numa casa onde cabe uma árvore "à séria", por isso não tinha nenhuma desde 2010. A primeira árvore da minha nova vida tinha de ser especial!

Esta árvore foi "empoderada" pela Marta Reprezas (e a sua Stella), a Rita Pires e os meus pais. A mãe refilava por estar a reaproveitar bolas que deitaria fora e o pai ajudava a reabilitá-las. Peguei em tudo o que me deram e que já não queriam e saíu qualquer coisa assim, nos tons da bandeira francesa. Por mais liberdade, igualdade e fraternidade neste Natal. Por menos consumismo e mais criatividade. Agradeço aos patrocinadores da árvore CurAção! Já está plantada na minha sala! 

Obrigada, obrigada, obrigada!!! Obrigada também à Maria Barroso que me disponibilizou uma árvore mas era demasiado grande para a minha sala! Estou aqui para o que precisarem! :) 


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016


Eu tenho alguma resistência quando chega à parte de passar à ação. Talvez por isso este projeto se chame CurAção, para puxar por esse lado meu e por reconhecer que há muitas formas de agir. Uma das aprendizagens que tenho feito, também pelo meu caminho de auto-conhecimento (ou de auto-reconhecimento), é a de que eu avanço muito por "epifanias", momentos criativos que se desenrolam por si só. É quase uma porta que se abre. Isto exige um respeito pela minha intuição difícil de conseguir, porque posso passar 300 e tal dias do ano a pensar que "devia estar a fazer isto" ou "devia estar a fazer aquilo". Uma epifania só pode ser sempre o resultado do trabalho desses dias todos em que não estamos a concretizar, mas exige o respeito pelo tempo, pelo momento certo. Se esse momento não chega, há muito caminho ainda a percorrer. Quando um projeto vem das entranhas e quando o material de trabalho é a própria história - mesmo que se cruze com competências profissionais - há que respeitar esse caminho e esse tempo em que tantas outras coisas ainda estão a acontecer. 

No dia 2 de Dezembro de 2012, voei da cidade da Praia, em Cabo Verde, para a cidade de Lisboa. O vôo foi de madrugada por isso fui para o aeroporto ainda no dia 1, cheguei a Lisboa por volta das 6h do dia 2 e fui internada, nesse mesmo dia, no Hospital de Cascais. Um ano depois, fiz uma sessão fotográfica na "Prainha", na minha viagem de regresso ao país onde adoeci; dois anos depois estava a mudar, pela primeira vez, o layout do blog e este ano, 4 anos depois, estou focada no projeto "Saúde & Criatividade", que tem de sair de mim: faz parte de mim mas pode vir a fazer parte de quem assim o sentir. 

Talvez seja esta a importância das efemérides: chamar-nos a atenção para coisas importantes que, se tiverem impacto em nós no momento presente, vão desencadear algum processo criativo. Até mesmo um ritual, na sua repetição, encerra em si algum material criativo porque nos mantêm em contacto com alguma essência, uma raíz, uma ponte entre passado, presente e futuro. 

Seja este um ritual para manter a celebração e potenciar a mudança que não é mais do que a continuação do caminho. Porque uma mudança não é mais do que seguir caminho. 

Foto Instant Bulb - Espectáculo "Amor. Energia Criativa" - Arte Move

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