sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Manobras de ReANIMAção


Estava na dúvida entre ReanimAção, ReAnimação ou ReANIMAção. O que quero eu destacar? Ação, Animação ou Anima? A resposta está dada no título. Aviso que vou escrever isto sem saber bem o que vai sair, por isso é possível que saia bastante rebuscado. E que a minha cabeça seja uma seca. 

Hoje o meu carro não tinha sinais de vida, nem um som, nem uma luz - nem um sinal vital, portanto. Teve de ser reanimado; os fios foram condutores de energia eléctrica que passou da bateria de outro carro para o meu e pude vê-lo regressar à vida - o seu ânimo voltou. Não, não fiquei à espera que o meu carro renovasse a sua própria energia sozinho. Não ia acontecer!

Quando alguma coisa morre em nós ou na nossa vida, se os laços são fortes e se o investimento, a dedicação ou a expectativa foram significativos, segue-se, naturalmente, um desânimo. Depois de uma desilusão, uma perda ou um desgosto, "andamos desanimados",  É como se nos fosse retirada energia vital. Talvez a zanga e a revolta constituam estratégias para mantermos essa energia, essa animação que nos mantém no fluxo da vida. Não queremos desaparecer ou morrer com o que morreu. Tenho, aliás, algumas dúvidas de que seja possível sobreviver sem ânimo. A agressividade poderá ser, então, uma estratégia de sobrevivência.

Num relacionamento, vivemos muito da energia vital do outro, que mais não seja porque as duas energias se fundem. É muito difícil que os ânimos não se confundam porque estamos a falar, a um nível mais profundo, de uma ligação de almas. E é disto que falo: anima e animus, em latim, têm esse significado: alma, espírito. 

Também pode acontecer vivermos desanimados (desalmados) em várias áreas da nossa vida porque deixámos que a nossa alma se perdesse noutras ou porque vendemos a nossa alma em projetos/relações que não nos representam. Neste caso, uma separação/mudança pode ser o caminho para recuperar essa anima, a energia ou o chi que vem connosco quando somos dados "à luz", à vida. Acredito que as coisas certas nos animam, nos potenciam o ânimo, nos alimentam a alma. Se não nos anima, é porque nos rouba energia, em vez de nos dar.

Quando penso melhor em tudo isto, todas estas questões nem se deviam colocar se tivéssemos consciência de que as ligações de alma não respondem a questões como o tempo e o espaço. Num plano - digamos - mais espiritual, há tempo e espaço para todos: a energia, assim como o amor, é só uma, chega para todos e não temos de andar a competir por ela. As ligações de alma, literalmente animadas, vão sempre existir para além do tempo e do espaço. Então de onde vem o desânimo? O desânimo vem das guerras, das mágoas, das feridas, das expectativas e das exigências do ego. Vem do apego, da ilusão, da perda de controlo, da incompreensão, da sensação de injustiça, da frustração, de sentir algo como violento. Vem da tristeza que mora no fundo de quem se abandona ou se sente abandonado. 

Isto para mim é válido tanto quando perdemos alguém por morte, como quando perdemos alguém porque nos separamos em vida. A separação física precede sempre a separação das almas porque estas não obedecem a tempo e a espaço, mas a uma missão que têm para cumprir juntas. Comunicamos todos telepaticamente (a um nível inconsciente), daí que seja sempre muito mais demorado sentir que outra pessoa desabita esse espaço dentro de nós. Estamos tão longe e às vezes tão perto (e o inverso também acontece, numa tentativa de manter a individualidade). Tantas vezes continuamos à procura dessa energia, a anima que procuramos incessantemente no outro. Respeitar a separação física, os caminhos diferentes, aceitando a presença do espírito desse fantasma que ainda nos assombra ou desse anjo que ainda nos guia - por vezes, as duas coisas juntas - não é nada fácil. A separação a um nível mais profundo demora e não sei se chega mesmo a dar-se. Talvez, quando o que têm a fazer, a um nível superior, seja lá o que for, se cumpra.

Mas uma coisa é certa (esta é para a A.): uma dor mantém-nos presos, o amor mantém-nos livres. Enquanto doer, não há separação. A dor mantém por perto. E tantas vezes queremos que doa para não deixarmos ir, para não perdermos de vez. As memórias, ai as memórias! As saudades, ai as saudades! Tantas perguntas por responder... Deixemos que a vida nos mostre as suas manobras de reanimação sob a forma de oportunidades, lugares, sons, tempos ou pessoas porque, nisto dos primeiros socorros dos afetos, cada palavra amiga, cada sorriso, cada momento e cada lágrima valem a pena. Não há MESMO almas que sejam pequenas, ainda que habitem pessoas desanimadas ou desalmadas

Haja cabos para estabelecer ligações e vontade de, um dia, voltar a ser dia. 


Primeiros socorros, manobras de reanimação, boca-a-boca. Vale tudo menos morrer.

P.S. O meu dia acabou por ser uma animação entre carros, bancos e um agente da P.S.P. que me telefona a meio da tarde. "Desculpe... quem?" Era o que me faltava acabar o ano numa esquadra! 






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