domingo, 30 de março de 2014


Primeiro é assim: sinto-me um bocado roubada... Mas, por outro lado... 

  • Pessoas em sofrimento, passámos à frente uma hora dolorosa, o que significa que os tempos difíceis estão mais perto de terminar! 

  • Pessoas a vibrar na alegria, não se preocupem, que têm mais 23 horas para tirarem partido da vossa alegria e eventualmente ajudarem alguém que esteja a precisar de uma mãozinha. 
  • Pessoas com insónias recorrentes, amanhã acordam e pensam: "ena, consegui dormir mais uma hora!" 

  • Pessoas que dormem muito: A culpa é do relógio! 

  • Pessoas com a angústia do inverno-que-nunca-mais-se-vai-embora: o Verão está a chegar! 

  • Pessoas que não precisam do relógio para nada: continuem a vossa vida, porque a verdade é que dizem que o destino não marca a hora!



Sábado, 29 de Março de 2014

E como eu estou farta de fotografias minhas, hoje estou de fotógrafa e a modelo é a Dani, com um look-primavera, chapéu como alternativa aos tradicionais lenços-com-cara-de-quimio e uma paisagem paradisíaca! Porque ela pode :)

E porque a impotência perante a dor dos outros se traduz no poder que temos apenas de sermos nós próprios e de sermos a melhor versão de nós mesmos ao pé de quem queremos ajudar, ajudando-nos também a nós mesmos. A união faz a força porque são várias as forças que se juntam. Venham connosco!










Fonte da Benémola, perto de Querença, Algarve

Sexta-feira, 28 de Março de 2014

Hoje falava com uma amiga que esteve 6 meses fora de Portugal e, ao regressar, constata que se ouve falar muito menos de crise hoje do que se falava então. Não será nas notícias, mas na rua, nos cafés, nas conversas de circunstância. E eu acrescentaria nas redes sociais, que hoje em dia constituem um barómetro social ou sociológico relevante. Eu quero arriscar dizer que a crise torna as pessoas mais felizes. E porquê? Porque, ainda que veja posts a parodiar os políticos que temos – e que também somos nós – e ainda que veja posts de pessoas a lamentarem-se das suas existências rodeadas de outras pessoas que não prestam para nada, a verdade é que as imagens paradisíacas com frases motivacionais – mesmo que oásis em certos desertos que constituem os momentos que as pessoas que as partilham poderão estar a passar – multiplicam-se e tornam-se virais. E mais, arrisco dizer que anda por aí o vírus da felicidade! É que a felicidade e ser feliz estão mais que na moda! Qual Indiana Jones, andamos todos à procura do Santo Graal! Parece que a diminuição de recursos externos está a obrigar-nos a recorrer aos internos e, ainda que para muitos constitua uma miragem – mero bla bla bla – só o facto de sermos tocados por essas frases iluminadas, não resistindo a partilhar algumas delas, já demonstra uma vontade e um desejo, lugar onde se iniciam as mudanças.


Nem todas essas frases que se multiplicam cabem no mesmo saco. Há as ressabiadas, as sarcásticas, as cómicas, as trágicas… mas é certo que a felicidade anda por aí – até as grandes marcas já perceberam isso e usam-na nas suas campanhas publicitárias! A felicidade anda à solta! Feliz de quem a apanhar!

E agora vou ao meu feed de notícias apanhar a primeira frase destas que aparecer:


Alright... :)

quinta-feira, 27 de março de 2014




E este foi um post que ficou por escrever. No compromisso de publicar 365 dias, este falhou. Adiantei o título e não escrevi o conteúdo. É, portanto, uma farsa, a melhor forma que arranjei de homenagear o teatro hoje. Porque às vezes, na vida, fazemos de conta. Claro que teatro é muito mais do que isso, é fundamental na capacidade de observar, de pensar, de sentir, de tomar consciência e de crescer. 

quarta-feira, 26 de março de 2014

(aviso desde já que eu um dia vou ser condenada por ser a mais acérrima advogada do Diabo!)

Diga-se o que se disser ou pinte-se como se quiser pintar, o cancro é um bicho mau no consciente colectivo de todos nós. No inconsciente é o monstro que nos vem roubar as bolachas, até não haver mais migalhas para contar a história. Mas pior que o monstro das bolachas, que até tinha um ar simpático, este tem um ar aterrador. Demolidor. Invencível. É o bicho papão fisicalizado dentro de nós. Ele existe, materializa-se. O bicho papão da nossa infância aparecia aos meninos bons? E os meninos bons, será que insconscientemente se acham mesmo bons quando dão de frente com o papão?

O cancro está representado desta forma na nossa sociedade e basta vermos uma careca, um lenço, uma boina denunciadores que - “uhhhhh” - somos assaltados por todos estes fantasmas. O cancro é ele próprio uma representação fantasmagórica. CANCRUUUUHHHHHHH!

E o que se faz com os maus da fita? Combate-se até ao final e reza-se para que o final seja a nosso favor. Medem-se as forças. É assim um “eu sou mais forte do que tu!” “não, eu é que sou mais forte!” É um bicho que nos diz “Não” e nós fazemos birra até que ele nos diga que “Sim, ganhámos!”

Um cancro representa um grande limite, manifestado em limitação na vida da maior parte dos doentes cancerosos – quem não se sente em nada limitado, tem um cancrinho e não um cancro! Para além disso, o cancro é espaçoso, alastra-se dentro do doente e alastra-se pela família toda, a família cancerosa. Principalmente nas famílias que precisam de limites. Os limites não chegam a quem não precisa deles. (Ou será que chegam a quem já se sentia (i)limitado? Outros quinhentos...)

O cancro é assim um bicho que vem pôr a ordem pela desordem. É normal que não se lhe atribua grande crédito (apenas débito directo), porque vem destruir a ordem vigente, mas a verdade é que vem instituir toda uma nova organização que obriga a novas regras e novos limites. Novos sim’s e novos não’s. Os nim’s não nos servem para nada, não temos tempo para isso - o cancro ocupa-nos muito tempo! E é sobretudo tempo de limpar e arrumar a casa-corpo!

Pode ser que um dia se entenda a agressividade de um cancro como assertividade. “Eu não te vim atacar, eu vim ajudar-te.” diria o Sr. Cancro. Neste dia talvez o bicho-papão perca força e os pais precisem de procurar novas estratégias para assustar os filhos quando eles próprios estão assustados. Neste dia, talvez um lenço na cabeça seja só a representação de uma grande aprendizagem. Neste dia, talvez a palavra cancro seja destronada. Neste dia, talvez as mortes por cancro diminuam drasticamente. Mudam-se as crenças, mudam-se as realidades. 

P S. Mas assim como um NÃO nunca será bem aceite a não ser quando os ânimos acalmarem, o cancro também só será entendido e aceite quando o sentirmos bem longe de nós, com a certeza omnipotente de que o vencemos. Não vá o DIABO tecê-las!


Célula cancerosa no livro para crianças "Rui-Rádio" da Associação Acreditar . Talvez o Cancro seja um Sr. Zangão dentro de nós - doentes cancerosos - a precisar de se manifestar! Que tal ajudar as crianças a manifestar o Sr. Zangão em vez de lhes dizer que têm o bicho papão dentro delas? É que afinal este cancro da fotografia não parece assim tão assustador! Eu estava capaz de lhe dar um abraço, mas eu... sou maluca!





segunda-feira, 24 de março de 2014


Um ano depois do diagnóstico, um ano depois de sair de Cabo Verde, celebrando a saúde e o regresso, num exercício de improviso mas, sobretudo, um encontro entre o interior e o exterior. Acredito ser essa a função da arte, a criação de um espaço intermédio entre o dentro e o fora, onde se dá a transição e a transformação. Encontrei nesta música da Alanis Morissette tudo o que queria dizer. Está tudo certo. É preciso confiar na inteligência da vida.


That I would be good
Even if I did nothing
That I would be good
Even if I got the thumbs down

That I would be good
If I got and stayed sick
That I would be good
Even if I gained 10 pounds

That I would be fine
Even if I went bankrupt
That I would be good
If I lost my hair and my youth

That I would be great
If I was no longer queen
That I would be grand
If I was not all knowing

That I would be loved
Even when I numb myself
That I would be good
Even when I am overwhelmed

That I would be loved
Even when I was fuming
That I would be good
Even if I was clinging

That I would be good
Even if I lost sanity
That I would be good
Whether with or without you



(2 de Dezembro de 2013)

Obrigada Young Filo Presents (projecto caboverdiano de fotografia e video) e, em especial, Marcos Semedo!

sábado, 22 de março de 2014


Entro no comboio – hoje é de comboio – e deixo tudo para trás. É uma ilusão. Trago tudo comigo, dentro de mim, mas, como ficaram todos para trás, não vieram comigo, deixei-os lá. Os problemas. Vim-me embora. Na viagem trago as questões, porque essas não me largam. No regresso, espero trazer as respostas, lá do sítio para onde vou. Enquanto se parte e não se chega, mora-se em sítio nenhum, com as perguntas no ar e as respostas por encontrar. 

(vista do comboio da CP)



Sexta-feira, 21 de Março de 2014

As mães vêm com uma programação que as obriga a dizer certas coisas e a ter certos comportamentos que as acompanham na sua vida toda com os seus filhos. É como se dissessem: “esta é a minha função, preocupar-me contigo e proteger-te.” Eu tenho uma mãe assim. É o conteúdo da pergunta ou da resposta que interessa? Não. Interessa cumprir o seu propósito, mostrar que se preocupa e assumir o papel de tomar conta da filha. A minha mãe está farta de saber a resposta à pergunta do “casaco” mas tem de a fazer, sai-lhe de uma parte do cérebro que ela não controla. Está no programa.

As mães devem estar programadas também para se separarem dos seus filhos à medida que estes vão “crescendo e aprendendo”, para conseguir amar deixando-os ir, porque querem que eles sejam felizes, um amor superior ao aperto com que eventualmente ficam no coração. Eu tenho uma mãe assim. Que me ensinou também a amar assim, a procurar em mim um amor suficientemente incondicional que me permita querer a felicidade das pessoas de quem gosto, independentemente dessa felicidade passar por estarem ou não a meu lado. Tenho a sorte de ter uma mãe que não utiliza o seu aperto no peito para me manter ao lado dela, nem ameaça sofrer desalmadamente na minha ausência. Aprendi a não o fazer com as pessoas da minha vida.

Ao longo da sua vida de mãe, as mães vão fazendo actualizações dos seus programas e aplicações, até porque os filhos têm temperamentos e personalidades próprias e é necessário rever atitudes e comportamentos. E por isso as mães não podem ser iguais com todos os filhos. A programação tem de ser ajustada, ainda que as funcionalidades sejam as mesmas. Difícil.

Se para uma mãe é difícil lidar com o sofrimento dos filhos, para os filhos também é difícil lidar com o sofrimento das mães. Fica aquela pergunta a pairar: “o meu amor não é suficiente para tu não estares triste?” E a resposta é que não é, porque cada um de nós tem um mundo próprio dentro de si, separado do mundo dos outros, ainda que em relação com eles. É por isso que é necessário saber dizer não a um filho e saber dizer não a uma mãe, com legitimidade. E transferir essa capacidade para todas as outras pessoas com quem nos relacionamos. Amor incondicional é aguentar a dor de uma mãe, de um filho e de seja quem for sem ceder naquela que é a nossa verdade. Não é: não. Para o bem de todos.

Quando um filho adoece, o sistema de alerta das mães é accionado e volta tudo ao princípio. À simbiose, à não-separação, à ausência de limites, ao sim. E, se volta tudo ao princípio, tem de passar tudo pelo meio para chegar outra vez a um determinado fim. O que não é propriamente fácil para ninguém, sobretudo quando já se anda, já se fala, já se é adulto e já se foi independente.

Se as mães não devem chantagear os filhos para que não saiam da sua beira, os filhos também não devem chantagear as mães para que lhes dêm a atenção que alegadamente merecem, não porque não a mereçam, mas porque a chantagem emocional começa no sofrimento de alguém e termina no sofrimento de outro alguém. De qualquer forma, está nas mãos de cada parte ceder à chantagem ou não, porque a verdade é que o sofrimento, que toca a todos, leva a distorcer o amor e ninguém está livre de ser um grande chantagista ou um grande chantageado, mesmo que das formas mais rebuscadas e inconscientes. Faz parte.


Assim sendo, também faz parte esquecer-me do casaco de vez em quando para poder ouvir um “não  vais levar um casaco?” de quem me quer bem.
Quinta-feira, 20 de Março de 2014

Felicidade é ser feliz e deixar para trás o que não nos serve ou o que nós não servimos, o que dá no mesmo. O problema da felicidade – o problema está em nós porque a felicidade é feliz – é que as coisas mudam, a vida é impermanência e temos de estar sempre a acompanhar o ritmo, na crista da onda ou no agora que se impõe… Se a vida continua e nós ficamos para trás, deixamos a felicidade fugir. Eu sou feliz porque escolhi sê-lo, mas às vezes ainda fico à espera. À espera do quê? À espera do que me faria feliz ontem. Ser feliz é ser hoje o que mereço, escolho e ajo. Às vezes ainda caio no que é suposto, porque tenho princípios, valores e sou portuguesa – ainda espero o D. Sebastião* – mas a vida diz-me todos os dias que a felicidade não está no regresso do rei, nem nos princípios: a felicidade não tem princípio, meio e fim; a felicidade não tem hierarquias; a felicidade não espera nem desespera. Posso ser feliz desesperada? Posso. Porque ser feliz admite todos os estados, mas impermanentes. Posso ser feliz desesperada se escolher não permanecer no desespero. E é assim a felicidade. Sentir, ser e estar no famoso e tão na moda “agora”. Eu, para ser feliz, só preciso da verdade. E primeiro de tudo, descobri-la. Assumi-la. Vou ali ser feliz e já venho.


P.S. O D. Sebastião representa todas as expectativas que pomos no exterior e que permitimos que condicionem as escolhas que fazemos diariamente. Representa a não aceitação - quando queremos que as coisas não sejam o que simplesmente são. 

quarta-feira, 19 de março de 2014


Terça-feira, 18 de Março de 2014

A revista Happy pediu-me um testemunho e eu sou tão concisa que estava capaz de ocupar umas quantas páginas com a minha história e uma revista inteira não chegar. Bom, fica aqui para quem ainda não percebeu o meu percurso da saúde para a doença e da doença para a saúde e, mesmo assim, não sei se desta vez fui um bocadinho mais clara, porque gosto de viajaaaaar.



Contexto

Estava a viver em Cabo Verde quando comecei a sentir dores muito fortes no corpo, que se foram intensificando de dia para dia. Tinha crises de dor que me levavam à urgência do hospital para que fosse administrada uma injecção intramuscular, a única coisa que me acalmava. Por esta altura, Novembro de 2012, as análises de sangue já mostravam uma alteração significativa na quantidade de glóbulos brancos (três vezes mais do que o normal) e as análises da urina também estavam alteradas pelo que, nas urgências do Hospital Agostinho Neto, na cidade da Praia, me encaminharam para a consulta de medicina interna. Diagnóstico: infecção urinária, justificada pela presença de leucócitos na urina, mas sem sintomatologia que correspondesse a esse mesmo diagnóstico. No espaço de duas semanas, sempre a piorar e sem encontrar resposta com aqueles profissionais de saúde, decidi vir para Lisboa e, no dia 2 de Dezembro de 2012, cheguei e fui internada no Hospital de Cascais.

O dia da notícia I

Tendo em conta os exames que trazia das semanas interiores, quadro infeccioso com aparecimento de febre e a continuação das dores inespecíficas, fui internada e, durante cinco dias, fizeram-me novos exames, até que chegou a notícia. Linfoma Não-Hodgkin. Cancro. Recordo-me de que a médica trouxe uma enfermeira consigo para me dar a notícia e também para me dar o testemunho de uma história positiva de uma familiar da enfermeira que tinha tido um diagnóstico semelhante com resposta positiva à quimioterapia. Pintaram-me um quadro muito simpático, tendo em conta o cenário. Não reagi emocionalmente, pareceu-me tudo estranho e lembro-me de pensar que, fosse aquilo que fosse, ia resolver-se. Reagi fisicamente, tendo outra crise de dores, a pior daquela semana. E fui para casa com consulta marcada no IPO.

O dia da notícia II

Quando me apresentei no IPO, no dia 10 de Dezembro, mal sabia que só voltaria a sair de lá em 2013. Seguiu-se a consulta, o mielograma (biopsia à medula) e a versão menos simpática do diagnóstico: Linfoma Não-Hodgkin, grandes células B, estádio IVB, o último previsto, muito agressivo, com implicação medular e do Sistema Nervoso Central. Estava a precisar de transfusão de plaquetas e teria de ser internada. Naquela altura, queria procurar respostas alternativas ao tratamento convencional, mas, tendo em conta o quadro que me apresentaram, mas, sobretudo, a falta de condição física para ir fosse onde fosse, entreguei-me e deixei que cuidassem de mim.

Tratamento

Foram seis meses de internamentos consecutivos, durante os ciclos de quimioterapia e durante as semanas em que os efeitos dos tratamentos se faziam sentir de forma tão agressiva quanto os mesmos. Foram poucos os dias em que estive em casa porque tive sempre quadros infecciosos durante o processo. Por esta altura, sentia-me no meio de um filme de ficção científica. Nada daquilo poderia ser real ou encaixava na minha ideia de vida. Depois do primeiro ciclo, fiquei com uma mucosite que me atingiu todo o sistema digestivo, pelo que tive de fazer alimentação parentérica (pela veia) e controlar as dores com administração de morfina durante algumas semanas, seguindo-se uma infecção fúngica no fígado e no baço e já algumas parestesias (dormência nas mãos e nos pés). Esta foi a fase mais complicada e em que corri maior risco de vida. Todos os outros ciclos – fiz cinco de oito – tiveram de ser revistos e adaptados porque tive sempre efeitos secundários muito fortes, que ultrapassaram as náuseas e os vómitos tão conhecidos. Em 6 meses, fiz quatro ciclos – com duração de uma semana cada – porque não tive condições físicas para cumprir o calendário protocolado, de 3 em 3 semanas, mas já estava mentalizada de que o tratamento seguiria até Setembro de 2013. O ano de 2013 seria para me tratar.

Entretanto, a minha médica assistente propõe-me o transplante de medula como a única hipótese de cura perante o diagnóstico, a agressividade dos tratamentos, o estado em que a minha medula ficaria depois da quimioterapia e os casos clínicos que já tinham tido com o mesmo quadro, que não eram muitos (há muitas variantes e mutações cromossomáticas específicas para a mesma doença). Depois do terceiro ciclo, os sintomas de neuropatia agravaram-se e as dormências atingiram-me as pernas, ficando impossibilitada de andar sem apoio. Encontrava-me paralisada no processo. O que fazer, o que decidir?

Eu já estava mentalizada para aguentar aquele sofrimento até Setembro, mas ainda enfrentar o risco de um transplante, que pressupunha um ciclo de quimioterapia preparatório para destruir toda a medula e depois a aceitação ou rejeição das células de outra pessoa, com todas as complicações inerentes a estes procedimentos? Iria o meu corpo aguentar?

A minha médica entendeu desde o início que fiz questão de ter um papel activo no meu papel de doente. Estava plenamente consciente de que poderia morrer dos tratamentos, como vi acontecer a algumas pessoas que conheci nos internamentos, ou ficar com uma vida limitada, como também vi acontecer e como estava a ver a acontecer comigo mesma. Seria a doença mais cruel do que os tratamentos? O que poderia ser pior do que aquele cenário?

Em Maio de 2013 fizemos o restadiamento da doença; finalmente iríamos saber o resultado dos tratamentos e o estado em que se encontrava o meu corpo. Remissão. Tudo estava a correr como previsto. Os tratamentos surtiram o efeito desejado: já não havia sinais de doença.

Tinha feito quatro ciclos de quimioterapia e faltavam quatro ciclos de manutenção dos resultados e o transplante. Pela primeira vez consegui ficar as semanas que se seguiram em casa, até ao quinto ciclo, que fiz em ambulatório. Durante esse tempo fora do hospital, pude pensar, questionar e sentir o que o meu corpo me pedia e o que me fazia ou não sentido.

O que mudou

Durante o tratamento, deixei toda a minha vida para trás. Não podia trabalhar, não podia dançar nem fazer desporto, a vida social resumia-se às visitas que recebia, a mulher em mim também estava adormecida, mudei de país, voltei para casa dos meus pais aos 32 anos, deixei de ter qualquer rendimento mensal e portanto voltei a ser dependente, física e financeiramente. Careca, de fraldas, sem andar, regredi 32 anos e comecei do princípio. Emocionalmente, tive tempo para pensar em tudo isto e aplicar todos os meus conhecimentos – da mente e do corpo - em causa própria. Entendi e senti – racional e intuitivamente – que, dentro de mim, tinha os recursos necessários para seguir em frente.
Emocionalmente, entendi que tinha chegado a altura de escolher e tomar uma decisão que estivesse de acordo comigo mesma e não de acordo com os outros, mesmo que isso significasse ir contra a classe médica e toda uma sociedade que não põe em causa o que está instituído. O cancro trouxe-me o encontro com o meu poder pessoal, a capacidade de afirmação na pior das circunstâncias, o poder dizer sim e o poder dizer não, a constatação e a fé de que tudo tem um sentido e a convicção de que nós temos as respostas para dar perante cenários de crise, seja qual for a forma como esta se manifeste.  
Cura

Fiz os tratamentos convencionais até o linfoma se encontrar em remissão e depois decidi fazer a manutenção por outras vias, não médicas. Não me fazia sentido continuar a atacar o meu corpo numa fase em que este mostrava que estava a recuperar, ainda que os médicos me tivessem informado da estimativa de 9 meses de vida perante o meu diagnóstico. Já estávamos longe do dia do diagnóstico e o meu corpo queria seguir em frente. Disse que não ao transplante quando surgiu um doador compatível também por acreditar na capacidade de regeneração do corpo humano. Sei que a quimioterapia incide no sintoma, com vista a aniquilar as células cancerígenas, mas, tendo eu uma visão holística do funcionamento do nosso corpo, também defendo que as recidivas podem ter lugar sobretudo se não entendermos a doença de uma forma mais ampla. Tratamentos complementares, alimentação, emoções (entender a doença como manifestação e expressão de um sofrimento reprimido), exercício físico, focar-me no que eu queria fazer na minha vida, resgatar o meu sentido de missão… A cura representa para mim focar-me na saúde e não na doença, levando-me a reavaliar diariamente as minhas noções de vida, de felicidade, de amor e de saúde. No limite, somos obrigados a voltar à base. Foi essa a viagem que fiz e também acredito que essa é a função das crises na nossa vida. Dei um sentido ao linfoma (a minha recuperação incidiu sobretudo na paralelo que fiz entre saúde física e mental, entre dor física e psicológica) e para mim a cura é uma construção diária. Há-de ser sempre um dia de cada vez, não porque tive um cancro, mas porque estou viva.

Fisicamente, recuperei a minha forma através do exercício físico e da dança, ainda me encontro aquém do que era, porque ainda tenho algumas limitações no sistema musculo-esquelético, mas continuo a trabalhar na recuperação.

Emocionalmente, criei o projecto Curação (cura, acção e coração) que visa manter-me alinhada relativamente a este objectivo diário que é a cura e inspirar outras pessoas que possam estar a passar por processos transformadores. Temos de ser criativos quando somos obrigados a renascer. Se a crise chega, pede mudança e novas acções e soluções.

Mensagem

1.       Cada história com o nome de cancro é pessoal e intransmissível no sentido em que existem especificidades inerentes a cada caso e sobretudo uma forma de experienciar e sentir o processo muito particular. Cada decisão é tomada tendo em conta este pressuposto, por isso as minhas escolhas foram as minhas e não as recomendo a ninguém. Posso recomendar ferramentas, mas nunca caminhos. O medo faz muito barulho. Tomem decisões com o coração sossegado.

2.       Não estamos sozinhos. Há sempre alguém a passar por emoções, sentimentos e experiências semelhantes. É difícil encontrar entendimento por vezes em quem não passou por uma experiência que desarruma física e psicologicamente e estamos “carecas” de saber que as intenções são todas boas da parte de quem nos quer ajudar, mas só os outros “carecas” sabem o que é esta loucura de ter um cancro, ter tido um cancro ou vir a passar por um cancro.

3.       Cuidado com o estigma e os clichets. Eles existem, mas pior do que existirem na boca, nos olhares e no comportamento dos outros, é existirem dentro de nós. Libertem-se do estigma (de não ser aceite, de não voltar a ter emprego, de não poder constituir família ou ter um vida afectiva e familiar satisfatória, entre outros) ou têm uma prisão para toda a vida (que vos reste, outro clichet).

4.       Sejam activos e não passivos na doença. Pensem com a vossa cabeça – em consciência e com informação - e sintam com o vosso coração. Partilhem com a equipa médica o que vai acontecendo e o que vão sentindo porque, em última e primeiríssima análise, é o vosso corpo (e a vossa vida) que está nas vossas mãos. Responsabilidade e não vitimização, acima de tudo.

5.       Proíbam frases à vossa volta do género: “não podes ser assim…”. “não te sintas assim…”. “tens de ter força!”, “não chores!” e, se for preciso, recorram ao mau feitio para dizer aquilo que nunca tiveram coragem de dizer. Não nos queremos vítimas, mas dói e custa e deixem-nos dizer uns ais e uns uis de vez em quando!

6.       Façam alguns planos pós-doença, linhas orientadoras, para que o caminho esteja traçado a um nível mais ou menos consciente e não haja margem para grandes desvios. É para a cura que vamos!

7.       Apoia-te nos recursos disponíveis e que te fizerem sentido (médicos, terapeutas, família, amigos) e confia em ti! Estas variáveis não são mutuamente exclusivas!

8.       Não fosse a revista chamar-se Happy… Procura dentro de ti o que te faz feliz e mantém todos os dias o teu quociente de felicidade elevado. O teu corpo está em obras mas continuas a ser tu!

Rita Nobre Luz

33 anos, Psicóloga, pós-graduada em técnicas e metodologias expressivas, instrutora de pilates, praticante de dança e feliz.

Era psicóloga na comunidade de Safende, na cidade da Praia, quando fiquei doente, e, actualmente, faço parte do projecto da Associação Princesa Leonor – Aceita e Sorri, que visa apoiar crianças e jovens (e respectivas famílias) com doença oncológica. Tenho o blog “curação em construção”. Em construção porque este ano é o ano da reintegração na vida activa, pessoal, familiar, social e profissional, o que vai acontecendo lentamente. 

E assim se constrói uma cura.















segunda-feira, 17 de março de 2014

(texto improvisado)

~
constroem-se torres

e pontes

até castelos

com vista para o mar

quando alto se sonha

não há que esperar. ou espera-se sem aguardar


pesca-se um sonho que partiu

mal o vejo

escondeu-se baixinho

mas ainda mora por entre os ninhos

espero que volte

volte livremente

talvez venha com a gente

e com atenção

será vida

multiplicação

domingo, 16 de março de 2014

sábado, 15 de março de 2014


Se me incomoda falar sobre o assunto…


Perguntavam-me se me incomoda falar sobre o assunto, que presumo que seja o cancro. Para dizer a verdade, houve muita coisa que a minha memória seleccionou e mandou às urtigas. Sim, não quero revisitar a dor, mas certo é também que, quando partilho a minha história, falo sobre a vitória do amor sobre a dor, por isso não me incomoda falar sobre o assunto e quero dizer a toda a gente que o amor cura e que cada um de nós tem um poder especial que faz magia! Às vezes cansa-me descrever ou explicar o quê, porquê e como, mas não me custa falar, principalmente se for útil para quem ouve. Ao contrário do cancro, há outras coisas para mim bem mais difíceis de verbalizar. Há dores que se encerram em mim e que procuram a saída, pelo corpo, pela voz, pela respiração… 

Não há dor que não pare de doer sem doer. 
Não há amor que não deixe de amar sem amar. 
Que o amor seja eterno, não enquanto dure, mas enquanto durarmos. 

Já disse. 

sexta-feira, 14 de março de 2014


Quarta-feira, 12 de Março de 2014


Eu tenho uma causa à procura de marido, uma espécie de carochinha à janela dos prometidos. Quero gritar a toda a gente (4 ou 5 pessoínhas para começar) YES YOU CAN! Quero contar a toda essa gente que o poder está dentro de si, que a solução está nas suas mãos e que há um herói dentro de cada coração, como já dizia a Mariah há 20 anos atrás! 

Quiçá a Carochinha precise de ir pelo seu pé, descendo as escadas e saindo à rua, espalhando o seu charme por aí. Ensinaram-nos a esperar príncipes encantados mas não nos disseram que o encanto não está no príncipe mas dentro de nós. 

Eu tenho uma causa. Um dia há-de casar-se com o efeito. Nem janela, nem João Ratão.

P.S. É tão difícil aceitar que não podemos livrar ninguém do caldeirão. A responsabilidade é pessoal e intransmissível. Quem sou eu senão eu e não tu?

terça-feira, 11 de março de 2014


Fico feliz com a felicidade dos outros. E fico feliz com a mudança nos outros. Fico tão feliz quando vejo os outros mudarem para melhor! Se é altruísmo? Não! É inspiração. A felicidade dos outros é ar que me entra pelos pulmões, oxigena o meu sangue e sai sob a forma de sorriso e esperança, que se traduz na fé que move a montanha das impossibilidades. Se os outros podem, eu tenho a certeza confirmada de que também posso. Não é altruísmo. É egoísmo mesmo! Se fico sempre feliz com a felicidade dos outros? Não. Às vezes sinto inveja, às vezes raiva e estupidez. São aqueles momentos em que sei que a minha felicidade foi dar uma volta às ruas da amargura e precisa rapidamente de voltar a casa, como menina mal comportada a precisar de uma boa palmada (ou amor). São aqueles momentos em que me afasto para não contaminar os felizes. São aqueles momentos poucos, porque a minha capacidade de me inspirar supera cada vez mais a necessidade de sugar. Se os outros podem, eu também posso! Sejam felizes e contaminem-se! Eu agradeço. O vizinho também. E o mundo também.

segunda-feira, 10 de março de 2014





Há dias em que sinto vontade de espreitar os próximos capítulos da minha vida, como quando leio um livro e espreito as últimas páginas. Sim, às vezes faço isso, mas a verdade é que não quero saber na realidade o que vai acontecer ou como o livro vai acabar porque é o suspense que me mantém interessada. É quase uma curiosidade infantil de querer saber mas não querer que me digam o final porque a diversão está na reviravolta, no não saber, nas surpresas que cada virar de página tem para oferecer.

Cada nova história, cada novo princípio me deixa inquieta porque não preenche a minha necessidade de controlo – do passado, do presente e do futuro – mas essa inquietação mantém-me o metabolismo emocional acelerado e contribui para o meu não adormecimento no caminho. Sim, só o presente existe. E dizem os mais exigentes que nem o presente existe, só o agora. Imagine-se! Que me interessa saber o que vai acontecer amanhã, um dia que não existe na verdade, mas que temos a fé de que vá existir, por sorte?

Paradoxalmente, não gosto que me perguntem o que vai acontecer, o que vou fazer ou que planos tenho. Aprendi que não posso deixar tudo em aberto, que é preciso ter objectivos, sob pena de ir parar a destino incerto e perigoso. Encontrar o equilíbrio entre ter objectivos, fechando-me um bocadinho, e manter a receptividade e a abertura perante as oportunidades e os novos caminhos que a vida me pode apresentar é o que quero alcançar. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.


Será que vou conseguir exercer Psicologia em Portugal, será que o projecto CurAção vai ganhar asas, será que a Associação Princesa Leonor vai ser uma realidade com tecto, paredes e sonhos concretizados, será que vou voltar a fazer a espargata, será que vou poder ser mãe, será que vou reencontrar um equilíbrio emocional e afectivo, será que a minha curação se vai estender à minha família, será que vou ter o meu espaço e a minha independência financeira de volta, será que vou conseguir escrever o meu livro, será que vou estender a força da minha natureza por todas as dimensões da minha vida e por muito tempo, será que vou ser sempre feliz independentemente de quem me acompanha, do que me acontece e do que ganho ou perco na vida? Será o que eu quiser. Mas será? 

domingo, 9 de março de 2014


Sábado, 8 de Março de 2014

Grata a ti, Senhor, por gostares de mim - creio eu, porque creio em Ti e, se Tu me falhas, estou tramada... Recomeçando... Grata a ti, Senhor, por gostares de mim maluca, perdida, aos caracóis ou sem cabelo, sem rumo ou com rumo, certo ou incerto - sei lá eu! - perto ou longe, fiel ou infiel, gordinha ou magrinha - sempre "inha" porque é um assunto sensível -, de todas as formas e de jeito nenhum... Podias era aparecer! Sei que estás sempre aí, mas o céu é longe com'a porra e eu não quero ir para aí tão cedo!

Também sei que estás nas plantas, na água do mar, no vento, nos rochedos e até dentro das pessoas, lá no fundinho, para não ocupar muito espaço... És Tu que fazes o coração bater e o desligas quando chega a hora, és Tu que pões o sol a andar de um lado para o outro, és Tu que geres e planeias isto tudo com uma bestialidade surpreendente. Sim, és uma besta! Quadrada! Está tudo tão certo que até a Terra fizeste sem arestas! Dizer-Te que tens razão não é fácil, mas dei-Te o comando para a mão e agora olha... Falta-me carregar no botão! Mas qual?

A fé é uma coisa duvidosa. Duvida-se com tanta força que se passa a acreditar só por desejo. E necessidade. Só porque sim sem razão. Vai correr tudo bem. E Tu estás aí para me dar a mão.

Mas fizeram-Te Senhor e não Senhora e por isso não percebes que Te peço muitas vezes o que na verdade não quero e que quero muitas vezes o que não tenho coragem de Te pedir e que, entre o que sinto, digo e faço, existem estradas, cruzamentos, rotundas, pontes, rios e tempestades, e o resultado por vezes é desastroso, ainda que no dia seguinte possa ser maravilhoso. Ou ao contrário. Percebes?

Acho que não e foi por isso que criaste o Dia Internacional da Mulher porque Tu, Senhor Intergaláctico, és um cavalheiro! Glória a Deus, Senhor, e bendita seja eu entre as Mulheres!

Amén!




sexta-feira, 7 de março de 2014

*tema sugerido
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Amar é deixar ir porque amor é liberdade e, como tal, de livre e espontânea vontade. Amar também é ficar porque amor é coragem, aceitação e liberdade outra vez. Aqui está a minha definição de compromisso: o equilíbrio entre deixar ir e ficar. Ou será esta a minha definição de amor? Desamar, que é um amar ao contrário, é não deixar ir e não ficar. 

Quarta-feira, 5 de Março de 2014

Em algum momento sentiste que ias morrer? (V.F.) 

Viajei até ao tempo em que a morte alegadamente esteve por perto para me recordar das noites em que tive medo ou em que estive realmente com o medo. E para falar de medo, tenho de falar também de amor, porque creio ser o antídoto e a energia que impera no outro extremo. Numa dessas noites de medo, escrevi sobre o medo, quis desmontá-lo, escrutiná-lo e libertá-lo de mim. E surpreendentemente tive dificuldades em descobrir do que tinha medo. 

Cheguei a escrever que tinha medo de morrer porque, em última análise, é o medo maior e, sofrendo de uma doença que mata, deveria ser esse o meu medo. A verdade é que nunca senti que fosse morrer daquele mal, mas estava cansada de sofrer. Um medo da dor, talvez. E continuava a minha busca pelo objecto do meu medo. 

E a minha questão de hoje é: existe o medo sem objecto? O medo sozinho, sem alvo ou bode expiatório? O medo existe por si só? Acredito que sim. Acredito que vamos tendo vários medos ao longo da vida, uns mais justificáveis do que outros, embora o medo constitua, ele próprio, uma lista de desculpas; uns medos mais nossos, outros menos, mas quase todos emprestados ou roubados à família, aos pares, à sociedade. O medo vai tendo vários objectos, mas, quando essa energia se vai acumulando nas nossas células, já pouco interessa de que medo estamos a falar, porque ganha proporções que nos ocupam independentemente do objecto. E o objecto é tão somente uma desculpa que legimitiza as crenças que alimentamos na nossa mente. Não quero cair nas teorias que defendem que o medo não existe, que é a nossa mente que o cria, porque, a partir da altura em que o inventamos na nossa vida, ele existe e o nosso corpo responde-lhe.

Por que precisamos de um objecto para o medo? Para o pôr fora de nós, no exterior. Se eu tenho medo de aranhas, o medo fica circunscrito à aranha. Se projecto o medo na morte, na doença e na dor causada pelos tratamentos, encontro aqui muitos culpados e desresponsabilizo-me.  Eu vi o Medo sem objecto, apenas com um sujeito que era EU. EU. MEDO. SEM TU. SEM ELE.

Recorri ao método da Louise Hay e comecei a repetir para mim mesma “Eu sou Amor.” Sem objecto. EU. AMOR. SEM TU. SEM ELE. Quando dei por mim, o medo saíu de cena. E dormi tranquila.

Também é difícil conceber o amor sem objecto. Amamos sempre alguém, alguma coisa e passamos a vida a pôr o amor no exterior, procurando alguém que aceite ser depósito do que trazemos connosco ou, pior, que nos diminua o défice em tempos de crise. Até o amor-próprio nos tem como objecto. De mim para mim. A verdade é que, quando temos medo, SOMOS MEDO e, quando amamos, SOMOS AMOR. Somos. Presente do Indicativo. Não nos define porque não somos os nossos sentimentos, as nossas emoções e as nossas relações, mas define um momento e a vida como ela se nos apresenta. No agora.

Insisto em dizer que “sou amor” porque esse é o estado que me apraz e em que quero estar. Sem objecto. Não me define como pessoa, mas define o meu momento presente, o único que existe, o que estou a ser, por isso o que SOU.  O medo? Mora aqui porque já paga renda há muitos anos e não o posso pôr na rua, mas eu ainda sou a dona do meu EUpartamento.


P.S. Não quero com isto dizer que não há medos legítimos como o da morte – que digam as mães que têm filhos doentes – mas hoje em dia acredito que o último mal deste mundo é o medo e sobretudo o medo de perder o poder/controlo. Também o sinto em mim. E devíamos todos procurar o poder/liberdade. Fica para outro texto.
Terça-feira, 4 de Março de 2014

Hoje é dia de Carnaval e fui investigar o que acontecia no Carnaval de 2013 e no Carnaval de 1982. Em 2013, tinha terminado o segundo ciclo de quimio, fui passar essa noite a casa e voltei para o IPO no dia seguinte com febre. Maior Carnaval do que este não podia haver! Tinha o circo todo montado! Em 1982, era uma saloi-inha de palmo e meio!

2013:

(post do dia de Carnaval de 2013)


 
1982:
 

segunda-feira, 3 de março de 2014


Ser curAção é manter-me intencionalmente no caminho da cura, agir em consonância – abraçando os momentos dissonantes – e observar a minha ressonância nos outros, que me mostram todos os dias como sou.

Ler-me é sempre aceder a uma parte da história mas essencialmente reter a parte que te serve.

Ouvires-me é sempre um abraço.

Falar-te é sempre amor.


Assim espero. 

domingo, 2 de março de 2014


De vez em quando saímos da linha e é preciso reconectar. Durante mais uma sessão de cura reconectiva, fizemos o ponto da situação - de Junho até agora - e relembrámos alguns pontos fundamentais para que continue focada e consiga dar o salto nas questões que ainda me prendem ao passado e me condicionam as escolhas presentes.

TPC:

1. Perdoar;
2. Meditar;
3. Não sair do caminho, manter o foco;
4. Aceitar;
5. Guiar-me mais pelo espírito do que pela mente;
Etc...

É importante encontrarmos mecanismos e ferramentas que nos ajudem no caminho da cura, física, mental e/ou espíritual. Não há novidades, há recordAções que se transformam em acções de mudança e cura.

sábado, 1 de março de 2014

Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014

Porque na base do CurAção está a cri-actividade ao serviço da cura, partilho com vocês, no dia em que este projecto - vertente pessoal - completa o sexto mês, algumas fotografias que fiz na minha última viagem a Cabo Verde. Esta sessão. realizada no dia 2 de Dezembro, marca simbolicamente o meu regresso ao local onde adoeci, já recuperada. 

Durante processos de crise, é importante ter objectivos, sonhos e metas bem concretas que nos guiem e nos motivem para passar os tempos difíceis. Esta viagem era a primeira coisa que tinha de fazer, assim que pudesse. Voltar ao local do crime, encarar, devolver o que não me pertencia e retirar o que me beneficiasse... Foi essa a viagem interna que fiz a par da externa. 

No dia 2 de Dezembro de 2012 estava a voar para Lisboa para ser internada. No dia 2 de Dezembro de 2013 estava na Prainha, na cidade da Praia, aproveitando o que Cabo Verde tem de melhor, na companhia do meu black-BFF, Marcos Semedo, do projecto Young Filo Presents, a celebrar neste cenário. Aqui ficam alguns registos.











Créditos: Marcos Semedo (Young Filo Presents)

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