sábado, 11 de abril de 2015

Não se pode ter tudo


O A. (o meu ex - ler ecx que tem mais impacto do que eix) dizia que eu era muito boa com as palavras (menos boa nas ações, queria ele dizer) - eu tinha um blog na altura, que lhe fazia alguma comichão porque, para ele, eu escrevia coisas "misteriosas", que aliás eu era demasiado misteriosa, uma Rita qualquer a que ele achava que não tinha acesso, apesar de "pública". Engraçado é que eu não veja mistério nenhum. Claro! Ponho sempre uns pozinhos naquilo que escrevo, de perlimpimpim, para a coisa ter arte, metáforas, emoções, personagens implícitas.  E, como tal, posso escrever tu, quando quero dizer eu, ele quando quero dizer tu, eles quando quero dizer nós, eu, quando quero dizer tu... o que me apetecer! Posso escrever tudo e ter tudo através das palavras! Sonhar, fantasiar, acreditar, dramatizar... Passaria horas a escrever se fosse preciso porque aqui tudo é possível. "Mas de quem é que estás a falar?" perguntava ele quando lá vinha um "tu" e um "ele" nos quais não se revia, tendo em conta que eu não escrevo histórias ou ficção. Ele não se lembrará disto porque ele tem uma borracha igual à minha, de apagar memórias da parte do cérebro de que precisamos para andar para a frente. A vida continuou. Na verdade, estou sempre a falar de mim, mesmo quando uso os outros, porque é sempre a minha forma de olhar para eles, é sempre o reflexo que têm em mim, é sempre o meu reflexo e que eles me devolvem, é sempre a parte deles idêntica à minha. 

Hoje acordei com um dilema: tenho um batizado e um workshop que queria fazer, no domingo, à mesma hora. Claro que isto não é um problema. Tenho a mania de que sou duas, mas não sou. É abdicar e pronto. É escolher e pronto. Mas, como eu tenho a mania de que sou duas, acho sempre que devia conseguir fazer tudo. A mania é uma coisa lixada, o outro lado da depressão. Escolher é sempre ficar triste e ficar contente. E a arte de estar triste e contente ao mesmo tempo não é fácil porque a tristeza cola-se muito; já o contentamento é mais livre, parece uma criança aos pulos num jardim. Cada vez me sinto mais assim, entre a criança aos pulos e a outra que chora porque aquela coca-cola é a última do deserto e o mundo vai acabar se não for para ela. 

Dou sempre poucos ouvidos ao meu lado birrento porque me compromete, mas um puto quando faz uma birra está só a testar os limites da pessoa mais importante para si e a atestar a sua importância no mundo. É muito mais simples do que aquilo que parece. A pessoa que leva com a birra deve sentir-se privilegiada. No meu caso ainda mais, porque faço poucas (uma competência minha a desenvolver). A verdade é que vamos fazer birras a vida toda, de formas rebuscadas, porque as birras à séria só moram nos 3 anos (uma pena!).  Cada vez sou mais honesta com o que sinto, não tanto para os outros - às vezes sinto-me mesmo uma impostora dos afetos - mas para mim, o que já é um princípio. 

Não se pode ter tudo, é uma merda que me lixa na vida real. A vida é mesmo uma sequência de escolhas, um quadradinho depois do outro nesta história, um story board que nos obriga a parar em cada momento e a seguir em frente em cada outro, até à palavra FIM. Um drama esta vida! (escrever na fase TPM do ciclo menstrual é divertido...)

Por que não se pode ter tudo? Tem de se poder ter tudo! Vou ser sempre inconformada, uma falsa aceitante do destino. Mas, se não fosse assim, tinha aceitado, por exemplo, a condição de doente crónica que a mim não me serve. Vão chamar doente a outro! 

Moram pelo menos 9 pessoas neste post, só de conversas/situações desta semana, mas a verdade é que só estou a falar de mim. Sei que querer tudo é o mesmo que não querer nada, não arriscar escolher, não arriscar perder, não arriscar ganhar. Mas querer tudo é também fazer uma grande ginástica para acreditar em coisas impossíveis. E qual a piada de acreditar em coisas possíveis?

Se o que é um dia, no outro pode deixar de ser, o que não é num dia, no outro também poderá vir a ser. Não se conformem. É essa a luta de que o mundo precisa. Noutro dia logo venho aqui falar em aceitação. Hoje não. 


Que seca!!!! #asérioRita?? #voualiserfeliz

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