sexta-feira, 24 de abril de 2015

Responsabilidades


Já estou para escrever este post há muito tempo e quase todos os dias sou bombardeada com sinais que me pedem para o escrever. 

Já disse muitas vezes que responsabilidade é liberdade. Digo e repito porque nos vendem a responsabilidade como uma mochila pesada que temos de levar às costas e que bom mesmo é não ter nada à perna. 

Vivi muitos anos a sentir que a vida era uma coisa difícil e pesada, uma luta diária, sozinha contra tudo e contra todos. O A. dizia-me tantas vezes "Rita, eu não estou contra ti, eu estou contigo!" E quando ele dizia Rita, o caso estava mal parado. 

Vivi muito tempo a sentir que os encargos da vida a tornavam pesada, a não renunciar a trabalho porque a vida não era facilitada, a pensar 50 vezes antes de me meter em compromissos para não criar expetativas e não desiludir ninguém. Todos os partos a ferros. 

Crescer não é uma perspetiva animadora há muito tempo. As crianças e os adolescentes não estão rodeados de muitos adultos felizes e entusiasmados com a vida e as suas opções. Crescer só dá chatices, ser adulto é uma seca: pagar contas e cumprir obrigações. Crescer para quê? Ainda mais com a crise e os tempos que estão cada vez mais difíceis, o melhor é mesmo retroceder, à Benjamin Burton. 

Por outro lado, as crianças e os adolescentes não têm de lutar por nada, está tudo à distância de um clique, apesar de lhes pintarem um futuro negro sem emprego ou futuro.

Hoje perguntaram-me: "Onde estão os príncipes? Caíram do cavalo?" Não respondi, mas pensei "E onde estão as princesas?" Onde estão os sonhos, os desejos, as paixões e os encantos enquanto não se desencantam? A bela adormeceu para sempre? O sapo será para sempre verde e peganhento? A crise também chegou ao País das Maravilhas? A Cinderela será apenas borralheira?

Por outro lado, há toda uma nova onda de pessoas que, contra a maré, ou na boleia das ondas, se inspiram depois de se expirarem e querem ser responsáveis pela sua vida, porque é a única hipótese de não fazerem depender a sua felicidade dos outros, ainda que os outros façam parte de uma vida feliz.   

Para mim, ter a minha casa ("Orgulha-te!" dizia-me a D.), trabalho e contas para pagar é um privilégio que me dá a oportunidade de ter a vida que escolhi e escolho todos os dias. Não tem sido um caminho linear mas responsabilidade é liberdade. Não pode ser outra coisa. Prisão é não poder ter as minhas coisas, o meu espaço, as pessoas que escolho para estarem ao meu lado, a capacidade de me expressar, a capacidade de pensar pela minha cabeça e de sentir com todas as células do meu corpo. 

Neste caminho em que escolhi ser feliz e agradecer cada momento - também tenho os meus momentos de ingratidão - tenho alguma dificuldade em saber o que quero para a minha vida porque sei que não me encaixo nos moldes supostos e esperados. Por outro lado, resolvi que a vida tem de ser o que cada um quiser que seja para si. 

Há muitos casais e casamentos que são tudo o que não quero para mim, há famílias que não me inspiram minimamente, há pessoas que vão todos os dias trabalhar como se fossem para a forca, há carreiras e sucessos profissionais que me passam completamente ao lado, há todos os dias coisas que faço que não são propriamente esperadas para a minha idade, há toda uma vida que era suposto ter aos 30 que me passou ao lado... 

Não quero nada de diferente dos outros: sucesso pessoal, afetivo, social, financeiro, profissional e afins, mas o formato para lá chegar é que quero escolher todos os dias e não propriamente encaixar em formatos pré-estabelecidos porque, esses, já percebi há muito tempo que não me servem; inspiram-me as pessoas felizes, não me interessa se são o que e como é suposto serem. E a fórmula da felicidade para mim é: coleccionar momentos bons, vivê-los em pleno, agradecer, aceitar o que se é e fazer escolhas de acordo com o que se pensa e o que se sente. E liberdade é escolher. E escolher é assumir responsabilidades. 

Digo sempre que o melhor que os pais têm a fazer pelos filhos é serem felizes, cada um deles. Mais amor, por favor. Por quem são, pela vida que escolhem todos os dias e pelas pessoas que escolhem para vos acompanhar.

Hoje o meu chip é outro, apesar dos velhos padrões me revisitarem muitas vezes: a vida não tem de ser pesada, as contas para pagar são a prova de que sou capaz de tomar conta de mim, o trabalho permite-me cumprir a minha missão e manifestar o melhor de mim, crescer é evoluir e poder cumprir-me cada vez melhor e em pleno, as pessoas que estão comigo são as pessoas que escolhi para a minha vida e com quem quero estar neste momento e, sim, "somos responsáveis por quem cativamos", mas também somos responsáveis por nos deixarmos cativar, entusiasmar, inspirar e sonhar.

Vamos construir um mundo que inspire as nossas crianças para que queiram crescer e ser adultos responsáveis e felizes!

P.S. Agradeço ao cancro ter-me mostrado que eu não tenho de lutar contra nada e que eu estava era a precisar de tréguas. 

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