segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estabilidade


Sou professora de Pilates e gosto de metáforas e linguagem simbólica, às vezes como ferramenta de transformação e intervenção, outras vezes como fuga. Às vezes para aproximar, outras para afastar. Há sempre dois bicos. 

Um dos princípios do Pilates é o de oposição. Tem de haver sempre oposição, um ponto fixo, enquanto o outro se afasta ou aproxima, tanto no trabalho de força como no de flexibilidade. Mesmo no trabalho isométrico, com as duas pontas à mesma distância, com a respiração, conseguimos criar oposição, não no sentido do desequilíbrio, mas precisamente do equilíbrio, dois pratos da balança alinhados, com o centro forte. 

É precisamente a instabilidade que desafia o centro, que desafia os músculos internos/estabilizadores e os fortalece, uma instabilidade de alguma forma sustentada (q.b.), para não haver lesão. Um centro forte - CORE (do latim cor - coração) - é um centro estável, para lá de todos os desafios que venham destabilizar. 

A estabilidade era o reto principal da geração dos meus pais. E eu cresci muito resistente às mudanças, como boa taurina. Não sei em que ponto da minha vida mudei o disco, mas acho que sempre tive as duas necessidades (sou orfã de irmã gémea, sinto sempre duas em mim, que ainda por cima falam uma com a outra; depois do cancro, assumi esta esquizofrenia. E nasci no mês 5, número da mudança.).

Durante algum tempo, achava que estava errada, que o meu cv era uma manta de retalhos, que estou sempre com um pé de fora das coisas e das relações, que não me deixo pertencer a nada, que não consigo estar muito tempo num sítio, que devia ter um percurso "sólido". Sou péssima em equilíbrios e pirouettes, mas passo a vida à procura do equilíbrio e a ajudar os outros, no alinhamento, na colocação (postura), estabilidade, força e flexibilidade (contração e expansão), no corpo e na alma. 

A minha mãe diz que não termino as coisas que começo, que estou sempre entusiasmada e me perco no caminho. A Dani diz-me o mesmo e só me conhece há dois anos. A verdade é que tem de haver sempre um fio condutor e EU, pelos vistos, já nasci com o chip para enfrentar a crise, que não é mais do que uma proposta de mudança! Não impede o medo, não impede a queda, não impede que doa, mas permite que seja coerente na incoerência (uma "instabilidade estável", como dizia o meu terapeuta) e que, em determinados momentos, só queira voltar a casa, em segurança, no conforto e no quentinho - tem dias - dos meus lençóis. Pés no chão e cabeça no ar. EU. 

Por isso é que este blog é uma casa tão especial, o fio condutor da minha cura, um compromisso com fidelização, que me mantém alinhada, focada e me sossega (sobretudo me sossega). Era para ser um ano, já fez 1 ano e 7 meses. Sei que sou capaz de ficar, de estabilizar, de construir e que é bom. Sei que preciso deste compromisso e que estejam comigo. E sei que a estabilidade, como no corpo, deve ser dinâmica e não rígida, porque só assim nos tornamos fortes e flexíveis ao mesmo tempo, como eu passo a vida a dizer nas aulas de Pilates. Se há desafios, desconstruimos, mas a contrução essa é para sempre. Já não me crucifico, sou como sou e acredito que como o mundo precisa que seja.

E chegaram as amêndoas!
Boa Páscoa!

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