sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um ano de liberdade


(faltavam quatro dias para o meu aniversário)

E, como já devem ter percebido, os números e as datas são importantes neste meu caminho. No dia 7 de Dezembro de 2013, soube que tinha cancro. A cama onde tive o primeiro mês no IPO tinha o número 7. Sete era o meu número na escola, o meu telemóvel tem 07 no meio e, em numerologia, 7 é o meu número de vida. Fez anteontem, 7 de Maio, exactamente um ano que saí daquele que seria o meu último internamento.

Fui internada em Abril para mais um ciclo de quimio, mas as dormências nas pernas e nos pés tinham uma intensidade tal que eu não quis arriscar outro ciclo igual ao anterior para ficar pior. Durante duas semanas estive internada, por conta dos efeitos secundários dos tratamentos anteriores, até ser possível administrarem-me então o a 4ª quimioterapia, diferente do protocolo previsto, tendo em conta as minhas reacções de toxicidade. Qual o preço que queremos pagar pela cura? Qualquer um? Para mim não é qualquer um. É tudo pensado, ponderado e sentido, antes de decidido. Assim sendo, foram três semanas neste último internamento, contando os dias para o meu 33º aniversário.

À medida que a administração do tratamento era atrasada, mais eu previa que não iria conseguir festejar os meus anos em casa, mas eis que saio no dia 7 de Maio de 2013 e nunca mais voltei a ficar internada. Até hoje. Na altura não fazia ideia.

Muito enjoada nos dias seguintes, com algum comprimido para as dores no meu dia de anos (11), coisa que eu quase nunca tomava por opção, mas consegui ter um dia de anos fantástico e inverter todo o cenário dali para a frente. Depois de todos os tratamentos, tinha ido uns dias a casa mas voltado logo para outro internamento na semana seguinte quando os valores desciam. Desta última vez conseguimos controlar os valores e seguir o acompanhamento sempre em ambulatório.

Um ano de liberdade! Um ano de saúde! Um ano de vida real!

Segundo os médicos, não era suposto ter sido assim. Teria sido um ano de transplante (alo-transplante de medula), que pressupõe um internamento de alguns meses. Teria sido tudo muito diferente.

Mas eu sabia que a minha vida tinha passado por ali, mas não era ali.

Um ano de liberdade!

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