domingo, 25 de maio de 2014

Escrita Criativa #2


Sábado, 24 de Maio de 2014

Este foi o texto que me deu o 2º lugar na 2ª jornada, em 118 concorrentes.

Desafio

Escreva um texto com 20 vírgulas - nem mais uma nem menos uma.
(máximo: 400 palavras)


Tudo o que cabe num chapéu

Dava um euro pelos teus pensamentos mas acredito que seja pouco. Nas esmolas que te peço, encho-te o chapéu de sonhos. O que vais fazer com eles é da tua história e não da minha. De mão ou chapéu estendidos, andamos todos de tempos a tempos. E agora pinga. E agora não pinga. E agora chove. E agora faz sol. Sentados ou de pé, no metro ou na rua, a amargura do pedinte é a miséria de quem se abandona, mas o doce de quem tenta um abraço na volta. Pinga, pinga. Preciso dele a pingar.

Escondo-me no chapéu que me guarda da chuva dos parvos. Mal escondida, porque chapéu é tecto mas não é parede. Se quem anda à chuva se molha, eu molho-me às vezes, porque, se bem guardadinhos andarmos, não há quem se entregue. Mas os invernos são assim: guardamo-nos ou molhamo-nos e choramos depois. Não tivesse eu casa e dentro da casa um coração e andaria aí de chapéu pelas ruas, sem-abrigando-me da emoção.

Não sei quem teve a ideia de virar o chapéu ao contrário, mas algum génio no meio da aflição. Não há criatividade sem fonte de inspiração, necessidade ou ilusão. Chapéu é tecto mas também é chão. É assim um “queres vir comigo?” e um “não me digas que não!” Adivinha-me: quantas cabeças cabem debaixo de um chapéu, se uma é pouco e três são demais?

Chapéus são do inverno emprestados ao verão, podem ser estilo e causar sensação. Não te queimes, não te exponhas, não te molhes, não te vivas!


Chapéus há muitos! Se não me queres, chapéu! 

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