segunda-feira, 28 de julho de 2014

InCURAvel


Penso já ter escrito sobre isto... A verdade é que este blog é muito espontâneo e não é propriamente organizado ou planeado. Hoje impera reforçar esta questão.

Quando os médicos dizem "A sua doença NÃO TEM CURA", o que eles querem dizer é: "Nós, os médicos, não conhecemos uma solução efectiva para o seu problema, o que não quer dizer que ela não exista."

É que quando uma pessoa a quem se atribui o conhecimento/poder absoluto sobre a saúde de outra lhe diz que a sua doença é INCURÁVEL devia ter noção do que isso provoca no outro e na sua própria saúde/doença (psico-somática). Para mim, funciona mais ou menos assim:


E eu levanto esta questão: Se o nosso corpo percorre o caminho da saúde até à doença, por que não será capaz de fazer o caminho de volta? Tenho dificuldade em entender o conceito de incurável e de doente "para sempre", vulgo crónico. Mas mais me preocupa as consequências da interiorização e a incorporação (somatização) dos mesmos por parte do doente (e eu trabalho com algumas pessoas com doenças crónicas). 



Quando entrei no hospital, decidi que estaria de passagem e que não queria repetir-me "para sempre" como muitas das pessoas que por fui conhecendo. Passados seis meses, quando a minha médica me tentou, numa última tentativa, convencer a fazer o transplante de medula, disse-me que era a única hipótese que teria de cura e relembrou-me que o meu diagnóstico reportava a uma situação muito grave, com valores de sobrevida de 9 meses. Saí de lá a chorar, de rastos, mas sobretudo o sentimento era de impotência sobre os argumentos que me apresentava. Impotência! E impotência não gera saúde! Faz-me recordar o termo da Psicologia Learned Helplessness ou Desamparo Aprendido. Resumidamente, diz respeito a uma pessoa que aprende a dar uma resposta de impotência perante determinada situação e não consegue dar uma resposta diferente mesmo que tenha oportunidade para tal porque foi aquela a aprendizagem que fez com estímulos anteriores. (procurem o termo e o autor, Seligman, no google)

Naquele dia senti-me tão pequenina e impotente que a minha resposta foi essa mesma, por repetição, por estar integrada num sistema que me leva a aceitar aquela inevitabilidade da verdade médico-científica.

Mas, exactamente por ter um espírito irritantemente cientístico (para lá de científico), e com a devida distância, fui recuperar-me e pensar no assunto, recorrendo aos dois lados do conhecimento, o intuitivo e o científico (da minha literatura e da minha formação). Aquele medo não era meu. A impotência não era minha. Eu acreditava no que vos descrevi no início deste post. A minha médica, sim, sentir-se-ia eventualmente impotente perante a minha escolha "suicida" (dentro do seu paradigma e do seu conhecimento). Foi a sua tentativa desesperada que fez ressonãncia no meu próprio desespero. E foi assim, com esta tomada de consciência, que acordei da dormência emocional e recuperei a minha "potência" e capacidade de agir e assumi a minha escolha e o meu caminho. Ainda penei bastante para percorrer este caminho que vai da escolha dos outros até à minha. Mas é tão libertador!

Já passaram 12 meses - quase 13 - desde que renunciei a mais um ano de internamentos e doença e escolhi a saúde. Provavelmente ainda estaria porque o processo de um alo-transplante (para receber a medula de um dador compatível) é muito moroso. A mensagem que quero passar é a de que: os médicos são humanos e tudo o que nos dizem não é apenas resultado de uma verdade inquestionável. Tudo na ciência é questionável porque fazer ciência é questionar. Todas as ciências e todos nós - cientistas, juízes e loucos em causa própria - temos visões reducionistas, ou seja, temos o nosso ponto de vista. A medicina também.

Cuidado com o fantasma chamado "Não tem cura!" e outro chamado "Doença crónica" ou outro também que tem o nome de "Estado terminal" ou ainda o "estável, controlado (mas doente para sempre)". Se há tantos rótulos por aí, escolham um positivo e que vos represente! E sejam felizes!

1 comentário:

  1. Obrigada por este post Rita, tão necessário por quem passa por isso e sobretudo, para quem é menos positivo (conheço um). Questionemos tudo e acreditemos sim que tudo é possível e que a resposta está muitas vezes em nós e nos nossos pensamentos. Vamos então percorrer o caminho da saúde, rodeando-nos de boas energias (acredito muito nas energias positivas e que precisamos de nos rodear delas).

    Beijinho com amizade!

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