domingo, 13 de julho de 2014

Escrita Criativa #6


Quinta-feira, 10 de Julho de 2014

Desafio
E se ninguém conseguisse mentir?
Desenvolva o tema, usando não mais de 400 palavras.


Era uma vez um menino que gostava de brincar às escondidas. Gostava de desaparecer de vez em quando para que pudessem procurar por ele. Será que o vão apanhar? Será que vão à sua procura? O menino sabia – sem saber – que os livros se vendem fechados para que possam ser abertos. E desfolhados. Ensinaram-lhe que era feio mentir e, pelo que pôde perceber, só aos adultos é permitido mentir. E à descarada. Ele desculpa-os porque sabe que precisam de inventar algumas histórias para não se zangarem uns com os outros ou andarem tristes dentro deles – embora andem na mesma. Ele não precisa de mentir porque inventa histórias de encantar e de grandes heróis para manter viva a sua verdade. São de faz-de-conta, o que é diferente de mentir. Os crescidos deixam de brincar e começam a mentir. Mas ele também tem alguns amiguinhos que às vezes mentem porque têm medo. Ele mentiu uma vez para a mãe não ficar zangada e triste.

Batota. Batoteiros. Não sei por que chamaram um coxo para falar de mentiras mas talvez porque, enquanto houver vida, há de haver mancos, imperfeições e mentiras. Piedosas ou cobardes, corajosas ou maldosas, escondem-nos ou mostram-nos para não haver dúvidas de que somos reais. Deixasse de conseguir mentir, disfarçar, fingir ou omitir – farinhas do mesmo saco - e achar-me-ia no céu - quiçá no inferno - no Júlio de Matos ou simplesmente noutro planeta. Posso não te mentir, mas não posso não te poder mentir, ok? É a fuga, o crime perfeito!

 As minhas mãos não marcariam compasso na mesa para resistir dançar com as tuas, os meus olhos não fugiriam dos teus intermitentemente, a minha boca não diria as coisas certas, os meus pés não se manteriam timidamente no seu cantinho… Não teria desligado a chamada, não te teria dito que está tudo bem, nem sequer teria desistido de ti. Talvez o meu pecado não seja a mentira, mas a omissão. Escondo-te a alma, a que brilha nos olhos quando encontram os teus e vibra no corpo quando te sente por perto ou mesmo a caminho. Não, prefiro mentir-me a ver-me louca.

Era uma vez um menino que gostava de brincar às escondidas porque sabia que podia sempre afastar-se e voltar a casa. Era uma vez um menino que não precisava de mentir nem fugir nem fingir porque o seu coração ainda tinha asas. 

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