terça-feira, 10 de março de 2015

Humor como Atitude - Marine Antunes


Em comum nos blogs e nos projetos que vão surgindo no âmbito da oncologia, por parte de doentes e ex-doentes oncológicos, há a criatividade, o otimismo, a visão construtiva, o amor e tudo o que está nos antípodas da dor, ainda que de mãos dadas com a mesma. Todos queremos cor, boa-disposição, energias positivas e esperança à nossa volta, excepto nos dias em que não queremos nada disso. Excepto esses, até porque a dor vem para doer (e não há dor que deixe de doer sem doer). Mas... e rir, será o melhor remédio?

No passado dia 18 de Fevereiro, conheci a Marine Antunes do Cancro com Humor - ou o Cancro com Humor é que é da Marine Antunes, não sei muito bem - uma mulher pro-cri-ativa e arrebatadora, que já acompanho virtualmente desde 2013. Tenho sempre algumas reticências relativamente a discursos todos-positivos, porque muitas vezes constituem uma negação do que de mais doloroso existe em nós e isso simplesmente não corresponde à verdade. Com a Marine sempre senti verdade. E humanidade.

De uma forma muito simplista, para mim o humor pode ser ódio e pode ser amor; pode destruir, mas também pode desarmar; pode ser destrutivo ou criativo; pode ser o que se quiser que seja. Brincar com coisas sérias tem de ter a rebeldia do menino que quer partir tudo, principalmente quando já tudo o partiu, juntamente com a bondade do mesmo menino que só quer ser feliz. Por isso disse simplista. Porque a fronteira se dilui. 

Foi no espaço Atmosfera M, entrevistada pela jornalista Fernanda Freitas, que a Marine partilhou connosco um bocadinho da sua receita. Juntamente com ela, a ilustradora Cristiana Costa, para apresentarem o cancro aos quadradinhos. Não, não é o cancro atrás das grades, mas, sim, banda desenhada com uma Careca Power como protagonista, uma senhora toda-muito-ela que, se um dia encontrar o cancro outra vez, vai perguntar: "Quantos são??"

Quando brincamos com o cancro - eu também o faço - nós não brincamos com o fulano cancro (eu só brinco com pessoas de quem gosto), nós brincamos com o cancro-em-nós, que é o mesmo que dizer com uma parte nossa, connosco, ainda que nos possamos referir a ele como um intruso. Mas toda a gente sabe que todas as nossas partes desagradáveis são intrusas porque nós nascemos lindas! E a celulite é voodoo! 

Por outro lado, com os inimigos não se brinca; goza-se à grande! Muito embora eu não sinta o cancro como inimigo - sinto-me assim para o cancro como talvez as vítimas para os raptores, meia ligada, bonded - a verdade é que o humor negro e o sarcasmo são excelentes veículos de expressão da raiva que partiria 3 tijolos juntos, com uma só mão, e de uma vez só! E que ninguém nos retire esse direito! Riam-se mais e matem-se menos!

O humor é uma atitude que se vai desenvolvendo ao longo do tempo.
Uso o humor porque quero ser feliz.
Só posso brincar porque já estou resolvida.
(Marine Antunes)




A Cristiana, eu e a Marine, com a Careca Power a espreitar atrás de nós!

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