Há dias em que sinto vontade de espreitar os próximos
capítulos da minha vida, como quando leio um livro e espreito as últimas
páginas. Sim, às vezes faço isso, mas a verdade é que não quero saber na
realidade o que vai acontecer ou como o livro vai acabar porque é o suspense
que me mantém interessada. É quase uma curiosidade infantil de querer saber mas
não querer que me digam o final porque a diversão está na reviravolta, no não
saber, nas surpresas que cada virar de página tem para oferecer.
Cada nova história, cada novo princípio me deixa inquieta
porque não preenche a minha necessidade de controlo – do passado, do presente e
do futuro – mas essa inquietação mantém-me o metabolismo emocional acelerado e
contribui para o meu não adormecimento no caminho. Sim, só o presente existe. E
dizem os mais exigentes que nem o presente existe, só o agora. Imagine-se! Que
me interessa saber o que vai acontecer amanhã, um dia que não existe na verdade,
mas que temos a fé de que vá existir, por sorte?
Paradoxalmente, não gosto que me perguntem o que vai
acontecer, o que vou fazer ou que planos tenho. Aprendi que não posso deixar
tudo em aberto, que é preciso ter objectivos, sob pena de ir parar a destino
incerto e perigoso. Encontrar o equilíbrio entre ter objectivos, fechando-me um
bocadinho, e manter a receptividade e a abertura perante as oportunidades e os
novos caminhos que a vida me pode apresentar é o que quero alcançar. Nem tanto
ao mar nem tanto à terra.
Será que vou conseguir exercer Psicologia em Portugal, será
que o projecto CurAção vai ganhar asas, será que a Associação Princesa Leonor
vai ser uma realidade com tecto, paredes e sonhos concretizados, será que vou
voltar a fazer a espargata, será que vou poder ser mãe, será que vou
reencontrar um equilíbrio emocional e afectivo, será que a minha curação se vai
estender à minha família, será que vou ter o meu espaço e a minha independência
financeira de volta, será que vou conseguir escrever o meu livro, será que vou estender
a força da minha natureza por todas as dimensões da minha vida e por muito
tempo, será que vou ser sempre feliz independentemente de quem me acompanha, do
que me acontece e do que ganho ou perco na vida? Será o que eu quiser. Mas
será?
Sem comentários:
Enviar um comentário