sexta-feira, 7 de março de 2014

Põe e Diz-Põe #4


Quarta-feira, 5 de Março de 2014

Em algum momento sentiste que ias morrer? (V.F.) 

Viajei até ao tempo em que a morte alegadamente esteve por perto para me recordar das noites em que tive medo ou em que estive realmente com o medo. E para falar de medo, tenho de falar também de amor, porque creio ser o antídoto e a energia que impera no outro extremo. Numa dessas noites de medo, escrevi sobre o medo, quis desmontá-lo, escrutiná-lo e libertá-lo de mim. E surpreendentemente tive dificuldades em descobrir do que tinha medo. 

Cheguei a escrever que tinha medo de morrer porque, em última análise, é o medo maior e, sofrendo de uma doença que mata, deveria ser esse o meu medo. A verdade é que nunca senti que fosse morrer daquele mal, mas estava cansada de sofrer. Um medo da dor, talvez. E continuava a minha busca pelo objecto do meu medo. 

E a minha questão de hoje é: existe o medo sem objecto? O medo sozinho, sem alvo ou bode expiatório? O medo existe por si só? Acredito que sim. Acredito que vamos tendo vários medos ao longo da vida, uns mais justificáveis do que outros, embora o medo constitua, ele próprio, uma lista de desculpas; uns medos mais nossos, outros menos, mas quase todos emprestados ou roubados à família, aos pares, à sociedade. O medo vai tendo vários objectos, mas, quando essa energia se vai acumulando nas nossas células, já pouco interessa de que medo estamos a falar, porque ganha proporções que nos ocupam independentemente do objecto. E o objecto é tão somente uma desculpa que legimitiza as crenças que alimentamos na nossa mente. Não quero cair nas teorias que defendem que o medo não existe, que é a nossa mente que o cria, porque, a partir da altura em que o inventamos na nossa vida, ele existe e o nosso corpo responde-lhe.

Por que precisamos de um objecto para o medo? Para o pôr fora de nós, no exterior. Se eu tenho medo de aranhas, o medo fica circunscrito à aranha. Se projecto o medo na morte, na doença e na dor causada pelos tratamentos, encontro aqui muitos culpados e desresponsabilizo-me.  Eu vi o Medo sem objecto, apenas com um sujeito que era EU. EU. MEDO. SEM TU. SEM ELE.

Recorri ao método da Louise Hay e comecei a repetir para mim mesma “Eu sou Amor.” Sem objecto. EU. AMOR. SEM TU. SEM ELE. Quando dei por mim, o medo saíu de cena. E dormi tranquila.

Também é difícil conceber o amor sem objecto. Amamos sempre alguém, alguma coisa e passamos a vida a pôr o amor no exterior, procurando alguém que aceite ser depósito do que trazemos connosco ou, pior, que nos diminua o défice em tempos de crise. Até o amor-próprio nos tem como objecto. De mim para mim. A verdade é que, quando temos medo, SOMOS MEDO e, quando amamos, SOMOS AMOR. Somos. Presente do Indicativo. Não nos define porque não somos os nossos sentimentos, as nossas emoções e as nossas relações, mas define um momento e a vida como ela se nos apresenta. No agora.

Insisto em dizer que “sou amor” porque esse é o estado que me apraz e em que quero estar. Sem objecto. Não me define como pessoa, mas define o meu momento presente, o único que existe, o que estou a ser, por isso o que SOU.  O medo? Mora aqui porque já paga renda há muitos anos e não o posso pôr na rua, mas eu ainda sou a dona do meu EUpartamento.


P.S. Não quero com isto dizer que não há medos legítimos como o da morte – que digam as mães que têm filhos doentes – mas hoje em dia acredito que o último mal deste mundo é o medo e sobretudo o medo de perder o poder/controlo. Também o sinto em mim. E devíamos todos procurar o poder/liberdade. Fica para outro texto.

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