terça-feira, 17 de setembro de 2013

SelAção de Livros Inspiradores: A Fada Íris (Cláudia Sofia Vieira)


Antes de ser carequinha, o cabelo fazia parte da Rita; nem a Rita existiria sem ele, não como eu a conhecia. Lembro-me de pelo menos três pessoas durante a minha vida que referiram o meu cabelo como parte fundamental da Rita-mulher, sem o qual não seria tão atraente. Claro que não o diriam se algum dia sonhassem que ia ficar sem ele. E claro que foi assim que interpretei as suas palavras que já nem me lembro quais foram. Foi assim que as senti. No fundo era assim que sentia. Não há cabelo sem rita nem rita sem cabelo! Temos ideia da nossa beleza física pelo feedback que vamos tendo da parte dos outros, até porque a beleza está mesmo nos olhos do observador. Quando o observador aparece no espelho, habitua-se a uma certa ideia de beleza... e a rita-observadora considerava o cabelo da rita-observada o maior trunfo da sua beleza. O cabelo e as pestanas, logo, cabelos!

Quando me levaram o cabelo, na casa-de-banho da enfermaria do piso de hematologia, nem pestanejei (ainda tinha pestanas, que caíram umas semanas depois)! Era assim que tinha de ser e tinha mais com que me preocupar, como por exemplo sobreviver à primeira sessão de quimioterapia, que me destruiu as mucosas do princípio ao fim do sistema digestivo e me deixou sem comer nem beber, de fraldas e completamente dependente. Só quando saí do hibernamento, 5 meses depois, e voltei à vida real é que comecei a ter saudades do cabelo, mas já numa fase em que a careca já fazia parte e havia muito mais para celebrar.

Isto para dizer que, na vida real, voltei a recuperar a minha preocupação com a aparência e a querer sentir-me feminina e atraente. O cabelo passou a ser encarado como um acessório, como uma mala, uns sapatos, uma pulseira, uns brincos. Pode enriquecer a minha imagem mas não é imprescindível. Se gosto de me ver careca? Não. Se quero voltar a ter cabelo comprido ou meio comprido? Sim, mas a rita-mulher não depende disso. Não é preciso, com tantos truques e formas de redescobrir os nossos pontos fortes. Há sempre a criatividade. Ainda assim, aguardo com expectativa o crescimento do bebé capilar, com direito a todas as suas fases. Acredito que já gatinhou e começa agora a dar os primeiros passos...


A Cláudia Sofia Vieira é ex-carequinha e fez este livro infantil "A Fada Íris". Como eu considero que muitos dos livros infantis deviam ser lidos por adultos, deixo aqui esta página! 

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