sexta-feira, 7 de novembro de 2014

16th World Congress of Psycho-Oncology


Entre os passados dias 20 e 24 de Outubro, realizou-se em Lisboa o 16º Congresso Mundial de Psico-Oncologia pela IPOS - International Psycho-Oncology Society, que celebrou também o seu 30º aniversário.

Tendo em conta a relevância que a oncologia tem vindo a assumir no panorama da saúde nacional, bem como a diferença que os cuidados psicossociais podem trazer para pacientes, famílias e técnicos de saúde*, estranho que um evento que possibilitou que profissionais de mais de 60 países do mundo inteiro se juntassem em Portugal para falar de Psico-Oncologia não tenha maior destaque na comunicação social. Bom, congressos há todas as semanas, mas este elevou a Psico-Oncologia e o nome de Portugal, pelos conteúdos apresentados e pela organização.

Muito caro para a realidade portuguesa, consegui frequentar um workshop e um dia de congresso, uma vez que não queria perder a oportunidade de me inteirar sobre o que se passa no mundo e, em particular, no mundo da psicologia, no que diz respeito ao acompanhamento psicoterapêutico e/ou psicossocial dos intervenientes e protagonistas do cancro. O que tem a Psicologia a acrescentar sobre a vivência do cancro? Terá ressonância em mim depois de ter passado para o lado do paciente?

Entendi que a Psicologia caminha a par da Medicina por isso a visão é convencional, A mesma representação do cancro, os mesmos medos e as mesmas esperanças. Ainda assim, há abordagens psicoterapêuticas para muitos gostos, com uma visão mais clássica ou menos clássica. Se a medicina caminha a passos tímidos para uma visão integrativa, também a Psicologia e a saúde em geral.

Fiquei a saber mais de EFT (Emotion Focused Therapy), Meaning-Centered Psychotherapy e Mindfulness aplicados ao paciente com cancro, mas o difícil mesmo era escolher a que formações e comunicações assistir, com os melhores profissionais da área.

Senti-me um bocadinho deslocada, não pelos outros, mas porque me encontro a meio do caminho entre a paciente e a terapeuta. Ainda não voltei a trabalhar como psicóloga depois do cancro e ainda estou na fase da "Survivorship" com todas as suas cores e dissabores. E, entre colegas, as perguntas haveriam de ser: "então onde trabalhas? que tipo de trabalho fazes?"

Estou muito grata a alguns colegas que conheci que me acolhereram e me fizeram sentir integrada e aqui o destaque vai para a Austrália, a Suiça e as Maurícias! Colegas de Marrocos, China, Japão, todos os continentes e diversas culturas representadas. Cada um a trabalhar em oncologia nos seus países, porque o cancro é universal.

Ainda assim, se não percebi mal, questiono: por que lutamos pela integração da psico-oncologia nos cuidados oncológicos no mundo inteiro, pelo bem-estar emocional e mental dos doentes e dos cuidadores. e não se põe a hipótese desses mesmos cuidados serem determinantes na evolução da condição física - não só psicológica - do próprio doente? Uns cuidam do corpo, outros cuidam da cabeça. Espero que esta rede potenciada pela IPOS represente mais um passo para a integração, porque só com a aproximação das diversas áreas se pode descobrir a receita para um tratamento que reconstrua pessoas sem as mutilar em sonhos e em vida. Sem medo. Com amor.


Dr. Margaret Ross from Australia representing love and care around the Tejo Hall area those days! Thank you so much!

*Acredito que o crescente aparecimento de associações, movimentos e projetos de apoio ao doente oncológico, em todas as suas valências (bio-psico-sociais), muitos dos quais levados a cabo pelos protagonistas** do cancro, seja suficiente para justificar a premência do cuidado psico-social e da psico-oncologia em Portugal e no mundo.

**Uns são protagonistas, outros vítimas (do cancro) - uns dias mais uma coisa, outros dias mais a outra - mas todos querem o mesmo: SER FELIZ.


Foto: Marcos Semedo
Moldura "Eu quero é ser feliz" que morou na mesinha de cabeceira da minha cama no IPO, oferecida por Ana Santos

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