sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Põe e Diz-Põe! #1

Fico com curiosidade em saber a reacção das pessoas mais próximas de ti ao facto de renunciares aos protocolos da medicina convencional. D.G.

As reacções foram diversas: os que ouviram e aceitaram, os que questionaram e aceitaram com reticências, os que questionaram e pouco ouviram, os que julgaram mais do que questionaram, os que não aceitaram embora achem que sim, mas os mais próximos compreendem que o mais importante é que esteja bem, mesmo não entendendo bem como é que isso acontece.

Em relação a este assunto, tenho-me apercebido de várias coisas:

1) A reacção das pessoas tem mais que ver com elas próprias do que comigo, ou seja, por mais que seja a preocupação com a minha saúde que as mova, estão a falar essencialmente das suas crenças e dos seus medos. "Estás a ser egoísta, não estás a pensar nas pessoas que gostam de ti." "Rita, TU estás doente!" "Nem penses em renunciar à procura de um dador!" "A decisão é tua e apoio o que decidires, mas..." "Vê lá o que é que fazes!" "E depois, se deixas o IPO, onde vais fazer os exames que tens de fazer?" "Por favor, volta para lá!" São comportamentos baseados nas suas crenças, não nas minhas. São os seus medos, não os meus. 

2) Na medida em que muitas destas crenças e medos também fazem parte da minha cultura, educação e crescimento, tiveram sempre impacto em mim e foram (são) um desafio à minha segurança/confiança naquilo que sou, sei e faço. Enquanto tremi, só ouvia conversas destas da primeira alínea e, quando fui mais assertiva, a resposta dos outros também era diferente, em consonância. Por isso as reacções ajudaram-me a perceber em que ponto me encontrava do processo. 

3) Os meus pais, apesar do medo, não interferiram na minha decisão - assistiram em primeira mão a todas as complicações por que passei e a minha mãe diz "não são eles (os que opinam) que estão deitados lá na cama do hospital" - mas o maior medo da minha mãe era que eu ficasse desamparada, sem assistência. Como boa filha da minha mãe, o meu maior medo também era o de abandono por parte da médica assistente. Por isso o que me angustiava era o confronto. Depois de assumido, tudo foi muito mais fácil do que o que o medo prometia, quando a médica me respondeu "se a Rita concordasse, gostava de a continuar a acompanhar." O crime de sermos nós próprios compensa. E se nos abandonarem é porque também não nos poderão ajudar naquele momento.  

4) Tirando os meus pais, enfermeiros e auxiliares, mais ninguém testemunhou a pior parte deste cenário, por isso as reacções dos outros são "artificiais". Por outro lado, poucas pessoas sabem toda a fundamentação que está na base na minha decisão, por isso é normal que duvidem. A dúvida é legítima.

5) Depois da minha decisão, coincidiu o "desaparecimento" de quase todas as pessoas que estiveram sempre em cima do acontecimento durante o protocolo convencional. Esta também foi uma reacção. É verdade que o aparato todo de fios e macas chama mais a atenção do que renunciar a isso, mas também é certo que, fazendo uma opção ou outra, o diagnóstico não muda e o desafio permanece. Este é o ano em que a cura se dá mais com os recursos internos do que externos, o que não quer dizer que não se precisa do exterior, muito pelo contrário. É preciso ter esta noção: a doença traz mais amor do que a saúde! Não se pode depender destas reacções! Amor é acção e não reacção. Este é um recado para quem está doente. (alínea polémica...)

6) As pessoas que não concordam e respeitam, ainda que duvidem, conciliam o seu direito de ser elas próprias com o meu direito de ser eu própria e de agir em coerência. Queira eu ter essa capacidade também.

7) Fazer escolhas diferentes da maioria mexe com crenças estabelecidas e enraizadas, o que pode ser perturbador e desorganizador. Mas há muita gente a desenhar histórias diferentes e muitas respostas disponíveis, desde que haja abertura para isso. 


Se a morte é a vida ao contrário, a doença é o amor ao contrário. 

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