terça-feira, 13 de dezembro de 2016


O facebook gosta de memórias que já não moram cá.




Aliás, há muita coisa de que não me lembro porque a memória é amiga. Era cliente do IPO havia 4 dias - já lá vão 4 anos de má pagadora, porque sou isenta e só dou despesas -  e já escrevia coisas aparentemente lúcidas. Eu tenho este registo S.O.S.-calma-que-o-teto-só-desabou-e-o-chão-desandou-mas-ainda-ninguém-morreu-e-se-morreu-ainda-estás-viva, que vem sempre em meu auxílio nos piores momentos. Por isso as reações vegetativas ou viscerais são sempre tardias. E inevitáveis. O nosso cérebro é tão assustador, como genial. Quantas vezes eu não me enganava para dizer "hotel" em vez de hospital? Na verdade, foi o hotel onde estive mais vezes e onde fiquei mais tempo. Era uma maravilha o serviço de quartos! Bom, estaria mais para hostel do que para hotel porque fiquei sempre em quartos de 4 e mistos... mas sempre em bom! O serviço de despertar funcionava muito bem e o pequeno-almoço era sempre na cama, luxos que duraram seis meses. Agora, 2017, também quero uma vida de luxo: sem "medos, merdinhas e paneleirices"! E, só isso, já faria de ti um grande ano!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Miúdas giras

Encontrei umas renas especiais. Já passei alguns natais esquisitos e posso recordar 3: o de 2001 cuja consoada passei fechada no quarto depois de uma discussão com a minha mãe (ainda vivia com os meus pais); o de 2011, que passei numa aldeia "perdida" nos confins da ilha de Santiago, em Cabo Verde, com uma família que conhecia havia um mês; o de 2012, numa enfermaria do IPO. Este Natal também tem um sabor agri-doce porque carrega os grandes desafios que 2016 trouxe, mas, em nenhum desses natais atípicos, o espírito se perdeu. Porque o espírito não se perde. Às vezes é o que nos faz precisamente reencontrar. Se o teu Natal este ano for diferente, entrega. Há tanta gente que está sempre numa situação mais difícil. Se ainda há sorrisos de crianças à nossa volta, ainda está tudo certo!



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016


Estava na dúvida entre ReanimAção, ReAnimação ou ReANIMAção. O que quero eu destacar? Ação, Animação ou Anima? A resposta está dada no título. Aviso que vou escrever isto sem saber bem o que vai sair, por isso é possível que saia bastante rebuscado. E que a minha cabeça seja uma seca. 

Hoje o meu carro não tinha sinais de vida, nem um som, nem uma luz - nem um sinal vital, portanto. Teve de ser reanimado; os fios foram condutores de energia eléctrica que passou da bateria de outro carro para o meu e pude vê-lo regressar à vida - o seu ânimo voltou. Não, não fiquei à espera que o meu carro renovasse a sua própria energia sozinho. Não ia acontecer!

Quando alguma coisa morre em nós ou na nossa vida, se os laços são fortes e se o investimento, a dedicação ou a expectativa foram significativos, segue-se, naturalmente, um desânimo. Depois de uma desilusão, uma perda ou um desgosto, "andamos desanimados",  É como se nos fosse retirada energia vital. Talvez a zanga e a revolta constituam estratégias para mantermos essa energia, essa animação que nos mantém no fluxo da vida. Não queremos desaparecer ou morrer com o que morreu. Tenho, aliás, algumas dúvidas de que seja possível sobreviver sem ânimo. A agressividade poderá ser, então, uma estratégia de sobrevivência.

Num relacionamento, vivemos muito da energia vital do outro, que mais não seja porque as duas energias se fundem. É muito difícil que os ânimos não se confundam porque estamos a falar, a um nível mais profundo, de uma ligação de almas. E é disto que falo: anima e animus, em latim, têm esse significado: alma, espírito. 

Também pode acontecer vivermos desanimados (desalmados) em várias áreas da nossa vida porque deixámos que a nossa alma se perdesse noutras ou porque vendemos a nossa alma em projetos/relações que não nos representam. Neste caso, uma separação/mudança pode ser o caminho para recuperar essa anima, a energia ou o chi que vem connosco quando somos dados "à luz", à vida. Acredito que as coisas certas nos animam, nos potenciam o ânimo, nos alimentam a alma. Se não nos anima, é porque nos rouba energia, em vez de nos dar.

Quando penso melhor em tudo isto, todas estas questões nem se deviam colocar se tivéssemos consciência de que as ligações de alma não respondem a questões como o tempo e o espaço. Num plano - digamos - mais espiritual, há tempo e espaço para todos: a energia, assim como o amor, é só uma, chega para todos e não temos de andar a competir por ela. As ligações de alma, literalmente animadas, vão sempre existir para além do tempo e do espaço. Então de onde vem o desânimo? O desânimo vem das guerras, das mágoas, das feridas, das expectativas e das exigências do ego. Vem do apego, da ilusão, da perda de controlo, da incompreensão, da sensação de injustiça, da frustração, de sentir algo como violento. Vem da tristeza que mora no fundo de quem se abandona ou se sente abandonado. 

Isto para mim é válido tanto quando perdemos alguém por morte, como quando perdemos alguém porque nos separamos em vida. A separação física precede sempre a separação das almas porque estas não obedecem a tempo e a espaço, mas a uma missão que têm para cumprir juntas. Comunicamos todos telepaticamente (a um nível inconsciente), daí que seja sempre muito mais demorado sentir que outra pessoa desabita esse espaço dentro de nós. Estamos tão longe e às vezes tão perto (e o inverso também acontece, numa tentativa de manter a individualidade). Tantas vezes continuamos à procura dessa energia, a anima que procuramos incessantemente no outro. Respeitar a separação física, os caminhos diferentes, aceitando a presença do espírito desse fantasma que ainda nos assombra ou desse anjo que ainda nos guia - por vezes, as duas coisas juntas - não é nada fácil. A separação a um nível mais profundo demora e não sei se chega mesmo a dar-se. Talvez, quando o que têm a fazer, a um nível superior, seja lá o que for, se cumpra.

Mas uma coisa é certa (esta é para a A.): uma dor mantém-nos presos, o amor mantém-nos livres. Enquanto doer, não há separação. A dor mantém por perto. E tantas vezes queremos que doa para não deixarmos ir, para não perdermos de vez. As memórias, ai as memórias! As saudades, ai as saudades! Tantas perguntas por responder... Deixemos que a vida nos mostre as suas manobras de reanimação sob a forma de oportunidades, lugares, sons, tempos ou pessoas porque, nisto dos primeiros socorros dos afetos, cada palavra amiga, cada sorriso, cada momento e cada lágrima valem a pena. Não há MESMO almas que sejam pequenas, ainda que habitem pessoas desanimadas ou desalmadas

Haja cabos para estabelecer ligações e vontade de, um dia, voltar a ser dia. 


Primeiros socorros, manobras de reanimação, boca-a-boca. Vale tudo menos morrer.

P.S. O meu dia acabou por ser uma animação entre carros, bancos e um agente da P.S.P. que me telefona a meio da tarde. "Desculpe... quem?" Era o que me faltava acabar o ano numa esquadra! 






quinta-feira, 8 de dezembro de 2016


Ainda a reportagem do espectáculo da Arte Move "Amor. Energia Criativa", de Julho de 2016. Vou partilhando textos e fotografias nesta secção.

Tudo começa na semente. Ou será na chuva? Ou será no sol? A semente que plantas é o amor que levantas, a semente que recebes o amor que alimentas. E, se te deixas semear, haverá sempre ir e voltar.

Semear é amar, é ainda mais do que acreditar... e em que acreditar. É sobretudo cuidar. É onde o amor começa, é onde o amor se funde, é onde o amor se multiplica. Nas pessoas, na natureza, nos animais e em qualquer um dos teus ideais. 

Um dia o sol aquece e voas para um mundo que te abraça. Um dia o vento arrasa e partes ferido na asa. Haverá sempre ir e voltar quando o amor mora na tua casa. Em cada casa. Omnipresente. Tudo começa na semente. 

Ensaios



Foto Instant Bulb


Bastidores









Palco



Foto Instant Bulb

Foto Instant Bulb







segunda-feira, 5 de dezembro de 2016



Quem fala muito do amor, não sabe muito dele porque amar é amar - não é falar.  Às vezes é tão bom encontrar quem pense por nós, quem sinta por nós. Como quem fica a olhar...

(...)

Náusea. Vontade de nada.
Sento-me à beira da estrada,
Cansado já no caminho
Passo pra o lugar vizinho.

Mas náusea. Nada me pesa
Senão a vontade presa
Do que deixei de pensar
Como quem fica a olhar...

(Fernando Pessoa)

"Passar para o lugar vizinho" é dos exercícios mais difíceis que a vida nos traz mas é tão fácil ires lá parar. O lugar vizinho é sempre também o teu lugar, de onde vens e para onde vais. Não se sabe sem lá passar, não se sabe sem experimentar, não se cresce sem tropeçar. 

Nunca se conhece bem o lugar vizinho sem lhe calçar os sapatos (do vizinho), mas pode ter-se a humildade, à partida, de assumir esse lugar vizinho em nós, aquele lugar que está tão perto como longe, tão acompanhado como só... é tão grande quanto pequeno, tão pouco e tão muito, tanto, tanto que não cabe na voz.

Cartaz da Residência Adaptada Boa Vontade, nas celebrações do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (Cascais)

Deixei de pensar. Como quem fica a olhar.


sábado, 3 de dezembro de 2016


Este ano pedi recursos decorativos de Natal aos amigos do facebook - sabendo que há sempre "tralha" nas arrecadações que não são aproveitadas - e o resultado foi este! Por questões de saúde, desde Julho que não estou a trabalhar "a full", o que me tem feito pensar em soluções viáveis que não me comprometam financeiramente, sem deixar de usufruir desta quadra. Por outro lado, é o primeiro ano depois da doença - e desde que tenho o blog - em que estou numa casa onde cabe uma árvore "à séria", por isso não tinha nenhuma desde 2010. A primeira árvore da minha nova vida tinha de ser especial!

Esta árvore foi "empoderada" pela Marta Reprezas (e a sua Stella), a Rita Pires e os meus pais. A mãe refilava por estar a reaproveitar bolas que deitaria fora e o pai ajudava a reabilitá-las. Peguei em tudo o que me deram e que já não queriam e saíu qualquer coisa assim, nos tons da bandeira francesa. Por mais liberdade, igualdade e fraternidade neste Natal. Por menos consumismo e mais criatividade. Agradeço aos patrocinadores da árvore CurAção! Já está plantada na minha sala! 

Obrigada, obrigada, obrigada!!! Obrigada também à Maria Barroso que me disponibilizou uma árvore mas era demasiado grande para a minha sala! Estou aqui para o que precisarem! :) 


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016


Eu tenho alguma resistência quando chega à parte de passar à ação. Talvez por isso este projeto se chame CurAção, para puxar por esse lado meu e por reconhecer que há muitas formas de agir. Uma das aprendizagens que tenho feito, também pelo meu caminho de auto-conhecimento (ou de auto-reconhecimento), é a de que eu avanço muito por "epifanias", momentos criativos que se desenrolam por si só. É quase uma porta que se abre. Isto exige um respeito pela minha intuição difícil de conseguir, porque posso passar 300 e tal dias do ano a pensar que "devia estar a fazer isto" ou "devia estar a fazer aquilo". Uma epifania só pode ser sempre o resultado do trabalho desses dias todos em que não estamos a concretizar, mas exige o respeito pelo tempo, pelo momento certo. Se esse momento não chega, há muito caminho ainda a percorrer. Quando um projeto vem das entranhas e quando o material de trabalho é a própria história - mesmo que se cruze com competências profissionais - há que respeitar esse caminho e esse tempo em que tantas outras coisas ainda estão a acontecer. 

No dia 2 de Dezembro de 2012, voei da cidade da Praia, em Cabo Verde, para a cidade de Lisboa. O vôo foi de madrugada por isso fui para o aeroporto ainda no dia 1, cheguei a Lisboa por volta das 6h do dia 2 e fui internada, nesse mesmo dia, no Hospital de Cascais. Um ano depois, fiz uma sessão fotográfica na "Prainha", na minha viagem de regresso ao país onde adoeci; dois anos depois estava a mudar, pela primeira vez, o layout do blog e este ano, 4 anos depois, estou focada no projeto "Saúde & Criatividade", que tem de sair de mim: faz parte de mim mas pode vir a fazer parte de quem assim o sentir. 

Talvez seja esta a importância das efemérides: chamar-nos a atenção para coisas importantes que, se tiverem impacto em nós no momento presente, vão desencadear algum processo criativo. Até mesmo um ritual, na sua repetição, encerra em si algum material criativo porque nos mantêm em contacto com alguma essência, uma raíz, uma ponte entre passado, presente e futuro. 

Seja este um ritual para manter a celebração e potenciar a mudança que não é mais do que a continuação do caminho. Porque uma mudança não é mais do que seguir caminho. 

Foto Instant Bulb - Espectáculo "Amor. Energia Criativa" - Arte Move

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