sábado, 14 de dezembro de 2013

Dia 13

Porto Madeira, onde tudo começou há dois anos, quando cheguei a CV
Uma aldeia no interior da ilha de Santiago, no cimo da montanha, com vista para o mar


a caminho, na Variante, vinda de Praia-Baixo, à espera da segunda Hiace

iniciando a subida da montanha, da estrada até Porto Madeira

paisagem durante a subida

chegada

casa onde vivi dois meses, a da porta amarela. nunca mais esteve lá ninguém


escola de Belém

meninos da escola a brincar

Nha Ilda

com a professora

senhores a jogar cartas


almoço na casa da Dulce, que mora ao lado da minha antiga casa e que cuidou sempre de mim durante o tempo que lá estive

vista de Porto Madeira para a ilha do Maio e o mar entre as duas ilhas

Ro

Leisa

Leila

Mireila, mana nova da Leila e da Leisa, que eu apenas tinha visto recém-nascida

vista para as montanhas

obra da artista Thais Lino


Eliane




Aninha, outra das minhas mães de Porto Madeira, onde eu fazia as refeições diariamente

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Dia 11

Ida ao Hospital Agostinho Neto conhecer a Oncologia e a Dra. Hirondina, oncologista. Aqui fazem-se os protocolos mais simples de quimioterapia. No caso de indicação para protocolos mais complexos ou outro tipo de tratamentos, os doentes são evacuados

Vista do Plateau, centro da cidade da Praia

Vista do Plateau para o bairro da Achada Grande Frente, à esquerda

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Visita à Associação Caboverdiana de Luta contra o Cancro, onde conheci o Dr. Vera-Cruz, responsável por este projecto

À tarde fui até ao Centro Cultural Português, onde estava a dar uma formação quando me vim embora, para o Instituto Camões. Reencontrei algumas formandas e assinei um documento para fins fiscais, assuntos pendentes

Outra vez nos estúdios de ensaio da companhia de dança Raiz de Polón, aqui na escola de dança, na aula do prof. Cacá

Na Casa da Música da Universidade de Cabo Verde, onde dei aulas - faltava-me apenas uma para finalizar a disciplina quando me fui embora. Reencontrei alguns alunos.

Dia 12

Viagem até a Praia-Baixo. Retiro da cidade







Encontrei este grupo de brasileiros, missionários a evangelizar esta aldeia. No Cabo Verde profundo, encontrar um bocadinho do Brasil e de Jesus cantado e dançado é algo inusitado. Não consigo publicar aqui o vídeo...






Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2013


Ontem estive na festa de Natal das crianças do IPO. Aliás, só ontem conheci o auditório, que fica no Pavilhão Central. O auditório tinha poucas crianças, eram mais adultos, tanto na assistência como no palco, mas a festa era transmitida em directo para os televisores das crianças que estavam uns andares de cima, na enfermaria, no piso da Pediatria. Foram vários os artistas, só vi uma parte, mas destaco aqui os Doutores Palhaços, da Operação Nariz Vermelho, na foto acima. Gostei particularmente da doutora e do menino que estava atrás de mim a rir-se às gargalhadas.
Depois fui até à Pediatria - pela primeira vez - visitar a Nonô (do projecto "Os Aprendizes da Nonô"), onde também encontrei música nos corredores, corredores bastante mais simpáticos do que os dos adultos - de um turquesa relaxante - com cartazes a anunciar o WI-FI, outra coisa que me surpreendeu - por que as crianças têm wi-fi e os adultos não? Conclusão: cores, animação, brinquedos, prendas, música, internet, "tudo o que possa minimizar o impacto do internamento nas crianças" - palavras da mãe Vanessa - são aplicáveis apenas às crianças.

Do ponto de vista de quem esteve praticamente 5 meses a morar na enfermaria do piso de Hematologia do Pavilhão de Medicina - um dos pisos melhores desse edifício, pelo que dizem e pelas obras recentes - e de quem passou o Natal e o Ano Novo na cama 7 da Sala 2, não entendo por que investimos tanto tempo a colorir o mundo infantil, que já tem cores por si só, e deixamos o mundo dos adultos preto no branco ou no cinzento (mesmo que as paredes até sejam azuis). Eu tive uma festa montada na cama 7, com direito a árvore de Natal, presépio, anjinhos, prendas, postais, frigorífico com a minha comida, ceia de Natal com os meus pais, mas porque eu tenho uns amigos suficientemente malucos, que se estão nas tintas para protocolos e decoraram todo o parapeito e a "minha" janela (num quarto de 4 doentes), mas posso dizer que não vi nem ouvi falar em festas ou celebrações. E eu que até gosto dessas paródias! A partir da Consoada, os efeitos da quimio começaram a manifestar-se, veio a morfina e a vida não dava para grandes festas - e é verdade que muitos dos doentes não estão em condições nem com paciência para isso - mas acredito que haja um grande preconceito neste mundo relativamente aos adultos. Vamos para a/o primeira classe/ano e acabou-se a brincadeira, não vá a vida achar que não a levamos a sério... Ainda assim, e contrariando isto, era ver na festa das crianças, feita por adultos, profissionais do IPO, tanto no palco como na plateia, a rirem-se das figuras/personagens uns dos outros, porque aquele era o seu tempo de diversão. Afinal de contas, as crianças merecem. Ou não serão eles próprios a precisar disto?

Em relação ao WI-FI, na época em que vivemos, continuo a não entender por que não fornecem a password aos pacientes adultos. Claro que, quanto mais desconfortável for um hospital, menos tempo queremos lá estar, o que é positivo! Se eu tivesse tido a sala de espera que está lá agora, depois das obras, não tinha passado sempre 3 horas deitada no carro à espera de consulta, mas se calhar também não tinha a necessidade de fugir de lá tão "depressa". De qualquer forma, que a qualidade do tempo e do espaço que ocupamos nos hospitais seja tida em conta, porque sempre ouvi dizer da boca dos técnicos que o doente é a prioridade daquele espaço.

P.S. Eu sei que há o "Natal dos Hospitais" para os adultos, mas falo apenas da minha experiência.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013



Novembro 2012



Dezembro 2013

Nota: Quando, depois de um ano, parte do qual acamada, parte do qual em recuperação, o Djam me desafia para fazer este "Candy Shop" ou algo semelhante, a primeira coisa que lhe disse foi "Não estás a ver bem o filme! Aliás, não estamos a ver o mesmo filme!" É que a verdade é que, por mais que as pessoas saibam do meu processo, parece que estão sempre à espera que eu esteja no ponto em que estava no vídeo de cima, porque é essa a imagem que guardam. Claro que, vendo o resultado, eu sei o que já progredi desde que saí do hospital e sei que vou continuar a recuperar, mas acho que o verdadeiro desafio foi recuperar a Rita-que-também-é-mulher-e-pode-ser-sensual depois de um ano onde isso foi relegado para 5º plano! Lollipop? A sério? Independentemente de gostos e afinidades com o estilo musical e de dança, este vídeo constitui mais um passo no regresso à normalidade e por isso o celebro aqui hoje. E a evolução dos Kriol Dance Movement, pois, no primeiro vídeo, eu era a representante feminina e, hoje, elas são 3! This one's for the girls!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013


Se um dia precisei que me iluminasses o caminho
Foi para ter a certeza de não estar sozinho
Podes ir, porque eu sei que estás aí
Eu vou, porque eu sei que estás aqui

Raio-X-Y-Z, ABC da vida como ela se vê…

If I ever needed you to illuminate the way
It was only for me to know I was not alone
You can go, because I know you're there
I will, because I know you're here

X-Y-Z-Rays, ABC of life as it allow us to see it...


Boomerang #4
Boomerang #3

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Maria Clara Callil, brasileira, 24 anos, é diagnosticada em Agosto 2012 com linfoma não-hodkin, seguindo-se seis meses de quimioterapia com internamentos sucessivos. Partilhou toda a experiência no seu blog, inclusive a recuperação, a qual decidiu viver a viajar, com o seu marido, durante um ano. Expondo o seu processo, chegaram-lhe várias reacções, desde pessoas que se inspiraram e que retiraram o melhor da sua experiência a outras que a julgaram e atacaram com juízos de valor. Hoje ela decide continuar, mantendo a sua vida na esfera privada.
“Quanta futilidade. Acompanhava seu blog durante seu tratamento, pois na época meu filho também estava em tratamento. Ele não teve tanta sorte quanto você. Hoje tenho certeza que está no céu, levando a alegria para todos. Penso que você deveria dedicar sua vida a coisas mais úteis, agradecer a Deus e a seu dinheiro por estar viva e nunca se esquecer que a coisa mais comum numa pessoa que já teve câncer é a recidiva. Portanto bola prá frente, mas pés no chão, afinal a vida é curta e sempre dá para ajudar os outros de forma positiva e dentro da realidade brasileira, ou seja sem muita frescura. Boa sorte.” (uma leitora do seu blog)

Abrir-nos ao mundo é escolher receber o que vier, o bom e o mau. No meu caminho, com todas as opções que fiz, não tem sido fácil manter-me focada e alinhada, com tanta gente que supostamente quer o melhor para mim a tentar desviar-me para aquilo que seria ou é eventualmente o seu caminho, de medo e “juízo” (que não significa necessariamente consciência), porque afinal de contas tenho uma doença “grave”, “sem cura”, “crónica” e que me deixa mais "vulnerável"… Pois, mas estes preconceitos estão na cabeça e no inconsciente de todos nós e determinam a nossa realidade. Eu escolhi ser saudável e não aceitar o estigma da doença depois da doença porque, afinal de contas, já não me sinto doente e as contas são minhas, não dos outros. Não quero mais sofrimento, mais dor, não mereço, nem tenho de voltar a passar pelo mesmo só porque já lá estive. Se decidir isso e escolher viver isto é mal entendido pelo mundo dos incapazes da felicidade, é problema dessas pessoas, e essas frustrações – atiradas para cima de nós – devem ser devolvidas ao seu lugar: a senhora está a dizer que não consegue ser feliz e não aguenta ver ninguém feliz se o seu mundo acabou com a morte do seu filho. Como podes andar a viajar e a celebrar o amor e a vida quando devias estar a viver no medo e na sombra da doença ou até mesmo ter o mesmo destino que o seu filho? Como ser feliz depois de ter tido um cancro – ou até durante o mesmo, quando anda meio mundo infeliz? Espero que essa senhora consiga recuperar a alegria de viver e aceite o caminho do seu filho, como dele, pessoal e intransmissível. E espero que nós consigamos manter-nos íntegras e saudáveis, devolvendo à origem todas as energias negativas que nos enviam, resultado de medos, invejas, rancores e inconsciência. Mas temos de aceitar que isso faz parte da vida e de nós. A exposição não nos traz só o amor e o carinho, mas tudo o que por aí anda. A “boa vida” faz comichão a muita gente que não se permite ter uma vida boa.

Sobre essa ideia de fazer "coisas úteis" ou "dedicar a vida a coisas úteis"... De que utilidade estamos a falar? Não é essa utilidade a verdadeira futilidade? Faço porque é "útil" e não porque o sinto verdadeiramente... E se aquilo que preciso de sentir verdadeiramente é a sensação da areia nas mãos ou a água do mar no corpo, a essência da matéria? Que utilidade isso tem? Posso dizer que a nossa cura é a coisa menos fútil e superficial deste mundo e ai de quem diga que não, mas só quem ousa fazer uma viagem para dentro sabe do que falo! E o dinheiro, se for utilizado em nosso benefício, é sinónimo de futilidade? Não é essa a sua utilidade? Em que parte desta história inventaram que a vida deve ser vivida em prol dos outros e em que parte da história nos habituámos a ser os outros da nossa própria vida? Amor pelos outros sem amor próprio é amor de mentira! É desespero, à espera de retorno...

Essa história da utilidade é uma tanga. Se a vida deixar de fazer sentido sem emprego, sem saúde, sem marido e filhos e sem dinheiro, ou seja, se não for uma cidadã produtiva e rentável, literalmente contribuinte, e não cumprir com o que se espera de uma pessoa bem sucedida, dou já um tiro na cabeça, uma vez que nem o cancro foi lá muito eficiente nesse sentido…  Não será útil ser feliz? Ou será (f)útil ser feliz? Sim, queremos sentir-nos úteis mas a utilidade não há-de ser um fim por si só porque ser útil por si só, para mim, é inteiramente fútil.

P.S. Ainda assim, ainda aspiro a alguma utilidade nestas palavras… e afins... nem teria este blog senão fosse útil, mas não vamos discutir o que a sociedade considera útil e/ou fútil...



domingo, 8 de dezembro de 2013


E hoje viajo até ao dia 25 de Maio de 2013, ao primeiro mês fora do hospital, uns dias antes do último ciclo de quimioterapia que realizei. Viajei até Sintra a convite destes meus amigos, até a esta feira de "alternativas" e encontrei a Ana Martins Proença, que pediu para nos tirar uma fotografia com o símbolo ou do amor ou da paz, no âmbito do seu projecto fotográfico "Love And Peace", que agora foi publicado no facebook.




E aqui estamos nós, meses antes do lançamento do CurAção, mas já ligadas a esta energia. E hoje relembro, olhando para esta fotografia, sem sobrancelhas e pestanas, o caminho já percorrido. 

E que os caminhos alternativos se tornem cada vez mais acessíveis porque, no fundo, sonhamos todos com o mesmo... Love. Peace. 

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