sábado, 12 de outubro de 2013



No outro dia encontrei o Juca no IPO. O Juca é caboverdiano e estava em Portugal há 4 anos, quando adoeceu com leucemia. Apenas tínhamos falado ao telefone, depois de me terem falado nele e na situação em que se encontrava, a aguardar dador compatível para transplante. O seu irmão Ja-ja, que veio há 6 meses de CV, pergunta-me:

"Tu não eras dos KDM? Do videoclip do cais?"

Opah, qual é a probabilidade de ser reconhecida praticamente careca, num hospital de Lisboa, por um trabalho feito com uma grande cabeleira na cidade da Praia, há um ano atrás? A verdade é que já estava de baixa, doente, quando fiz estas fotografias e este vídeo e, duas ou três semanas depois, estava carequíssima, bem longe desta realidade, a não ser pela presença dos KDM continuar a seguir-me durante todo o hibernamento. E aqui está a prova!! Energia KDM para me manter bem conetada, do primeiro ao último dia!


Esta seringa, por exemplo, era utilizada quando tomava o Aciclovir em xarope, nas alturas em que não podia comer e engolir comprimidos por causa da mucosite. E os ciclos repetem-se... Neste caso, a vantagem de alguns símbolos e sinais se repetirem é a de, nas alturas piores, nos manterem sempre recordados da vida como ela era e poderá voltar a ser, embora numa versão mais recente, em upgrade permanente. Kriol Dance Movement é empowerment, criatividade e (im)permanência. Assim é. Assim sou.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013


Uma das ações desta minha caminhada foi a criação de um grupo privado no facebook para informar a família e os amigos do meu estado clínico enquanto estava em "retiro hospitalar" e pouco disponível para os outros. Nasceu no dia 29/12/12, quando me comecei a sentir incapaz de receber visitas, depois do primeiro ciclo de quimioterapia. Este clube foi MUITO importante, todos fazem parte da minha cura! Já estou a arquitetar a minha devolução de carinho... Entretanto, ficam aqui algumas coisas que escrevi: 

1. passagem de ano com a moca da morfina

 2. moca da morfina continua, mas sempre inspirada

3. 35 dias depois, primeira ida a casa

 4. tic tac tic tac...

quinta-feira, 10 de outubro de 2013


Hoje ocorre-me falar um bocado sobre esta questão de estarmos todos no combate ao inimigo, ao mau da fita, o bicho-papão, na batalha pela sobrevivência. Tempo de guerra, aquela em que se dá e também obviamente se leva, porque são estas as regras do jogo. Queremos armar-nos até ao pescoço e entrar a matar! Estamos em estado de sítio! Guerra, guerreiros, combate, batalha, luta... E se isto fosse o Dragon Ball e eu fosse o Son Goku, no fim das contas, já se sabia que só os bons poderiam ganhar! E os heróis! Só que calha que o inimigo está dentro de nós e não fora... e entre mortos e feridos queremos sobreviver... e desatar aos tiros é capaz de correr mal...

Pois se o inimigo esta cá dentro, se calhar o melhor é pensarmos em tréguas e em paz. Aliás, os inimigos há que manter por perto para não nos apanharem de surpresa! Pois, na minha versão das coisas, entendo que devemos procurar a paz e não a guerra, ainda mais quando o inimigo está aqui pelas estradas do nosso corpo! Nem camuflada me valho! Estão a ver o discurso das candidatas a Miss Mundo ou Universo? É isso! World peace, é o que eu quero! Nada mais, nada menos!

Como é que isso se consegue? Ouvindo as vozinhas internas. De que se queixam? De que se queixavam antes da catástrofe? Que medos tens? Consegues perdoar? Consegues perdoar-te? E o stress? Não te atropelas a ti próprio? Não serás o teu maior inimigo? Qual é o melhor caminho para ti, o da guerra ou o da paz?  É verdade que a vida nos desafia e que, de alguma forma, temos de ter um quê de Marte para avançar para o outro nível, mas, se calhar, Vénus tem aqui alguma coisa a dizer, com o seu jeitinho conciliador.

primeiro passeio do ano (28 Fev '13) - meia taliban meia tibetana...


Não acredito que o corpo seja nosso inimigo, porque é feito de material que tem sempre razão, mas a mente, essa sim, pode ser muito mazinha - e burra, desculpem que vos diga... Escolham Paz e o corpo vai atrás. Por isso para mim a cura representa o fim dos conflitos (destes conflitos; outros virão), a paz! Esta é a razão pela qual não há caminhos certos, que possam ser a solução para todos os males. A solução está mais dentro do que fora. Convivo com pessoas que fazem escolhas diferentes das minhas, porque esse é o caminho da sua paz. E só cada um sabe de si. A escolha certa é aquela que te custa menos sofrimento interno - mesmo que sofras para lá chegar -, aquela onde está a tua fé e aquela que te leva a acreditar em ti mais do que qualquer outra! De certeza que não é a minha. É só tua! E depois, sim, temos homem/mulher! Mas esta é só a minha opinião...


quarta-feira, 9 de outubro de 2013



comboio de massagens

É um lugar comum dizer que o voluntariado, a solidariedade e ajudar os outros traz ainda mais benefícios a quem se envolve nessas ações, tanto ou mais do que aos beneficiários. Neste dia do evento "Sim Tu Podes! Leonor", foi mais evidente essa troca de mimos, a começar pelo organizador. O pai Jorge Coutinho oferece-nos a sua mais-valia como profissional e pessoa do coaching, do desenvolvimento pessoal e da Vida, a Leonor oferece a sua presença de princesa e as suas mãozinhas mágicas nos meus ombros (como podem ver na foto) e os participantes dão o seu contributo para que a Leonor possa otimizar o seu tratamento a um tumor de Wilms bilateral (rins) com metástases nos pulmões, estadio V.

Espaço de reflexão, partilha, celebração, comunicação e amor. Já conhecia a Nonô e os pais Jorge e Vanessa, que nos ensinam a humildade e a aprendizagem que a vida nos propõe, mesmo que o desafio seja proposto por palmo e meio de altura, com 4 anos de idade, mas ainda conheci a Mafalda, o Jorge, o Carlos, a Catarina, a Marta, o Luís...Testemunhos humanos com características sobrehumanas ou talvez apenas de Amor.

A Leonor está na Alemanha em tratamentos e continua a contar com todos os pozinhos de perlimpimpim, porque no mundo das princesas, todos podemos ser fadas-madrinhas, que mais não seja com a varinha de condão desse tal amor. A união faz a cura. Também a minha, claro...

E aqui está ela!

terça-feira, 8 de outubro de 2013






Não sei se isto acontece com todos os doentes oncológicos, mas li algumas histórias de "colegas", neste trabalho temporário que é o cancro, à procura de sentimentos semelhantes, testemunhos inspiradores e respostas criativas, mas sobretudo finais felizes, como aquele em que somos despedidos desta função de doente oncológico, que numa primeira fase fomos a tempo inteiro, depois a tempo parcial, como avençados, até que mudamos de vez de vida. 

Para vos dizer que o primeiro blog que encontrei na net pertencia a uma mulher que entretanto faleceu e que, por isso, dei de caras com um post do marido que dava essa mesma informação aos leitores, completamente consternado, como podem imaginar. Tudo o que precisava para me motivar! Mas pesquisar na net tem destas coisas! Há de tudo! E as histórias com finais infelizes também me foram imprescindíveis nas minhas decisões.

Com o testemunho da Fernanda Serrano, aprendi algumas coisas que me foram úteis:

- Esta história do conhecimento científico garantir infalibilidade, previsibilidade e resposta única é uma fantasia. Há ciência e cientistas, uma coisa é uma coisa e outra coisa são várias coisas. O que quero dizer é que a medicina não é exata, até porque as pessoas não vêm nos manuais nem são protoculáveis e a medicina também é feita por pessoas como nós, pacientes. Opiniões e pareceres há muitos e diferentes. É legítimo pedir vários pareceres e tomar uma decisão consciente, mas pessoal e intransmissível.

- Não só de consentimentos informados é feita a história de um paciente. O corpo é seu, é só ele que o sente e só ele conhece as suas leis mais do que outra pessoa qualquer, mesmo que esta se apresente como o suprasumo da matéria. Ou seja, em todo o processo, é importante estarmos ligados aos sinais, às sensações e à intuição, o sexto sentido que tem a informação mais valiosa e decisiva, quando nos encontramos numa encruzilhada.

- Não julgar os outros e as suas decisões e comportamentos, porque cada história é diferente da outra e cada doença aparece numa pessoa diferente, que vem de um sítio particular e que tem um caminho único. 

- Há finais felizes. E cá estamos nós para contar a história!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

do livro "Practical Chinese Medicine" de Penelope Ody

Hoje resolvi investigar por que me é difícil deitar cedo e cedo erguer, sabendo que quero saúde e quero crescer. 
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, o nosso Qi (Energia) passeia-se pelo nosso corpo a um ritmo bem definido. Distúrbios do sono podem revelar desequilíbrios num determinado órgão e vice-versa, por isso convém respeitar os horários em que o corpo realiza processos de desintoxicação, dando-lhe descanso às respectivas horas. 
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa (link), o sono depende do estado do Coração (Xin) e do Fígado (Gan).  O coração é o monarca, o fígado o general.
O sangue é o fluido do coraçãos. Quando o sangue não é abundante, entende-se que as funções do coração enfraquecem, o seu ritmo fica desregulado, levando à agitação e é essa agitação que perturba o sono. Dentro da visão chinesa, o Coração também abriga a Mente (Shen) que rege a consciência do indivíduo. E o coração abriga também os sentimentos, dessa forma precisa de tranquilidade, qualquer sentimento muito forte vai afetar perturbar o coração, a consciência e mente e contudo ficaremos perturbados. Portanto, desordens físicas no coração desencadeiam ansiedade e o sentimento de ansiedade lesa as funções do coração.
Enquanto o Coração rege a circulação de sangue, o Fígado dá o direcionamento para o sangue enquanto estamos em atividade. Para que você faça qualquer movimento é importante usar as articulações e os tendões, essa nutrição é responsabilidade do Fígado. Quando não há sangue suficiente, a nutrição fica acometida, o Fígado fica sem direção, as suas funções perdem-se e a mente vaga durante a noite. Por isso, quanto mais estimulados ficamos no período da noite, menos temos vontade de dormir. Se o cérebro é estimulado vai requerer sangue e energia, dando mais trabalho para o Fígado num momento em que a energia deveria ser recolhida e que ele pudesse trabalhar em paz, libertando enzimas para o metabolismo por exemplo. Assim, o hábito de deitar-se tarde lesa as funções do fígado, deixando-o hiperativo. 
Segundo o site http://muitomaissaude.wordpress.com/, é num estado de sono profundo que órgãos como a vesícula biliar, o fígado e os pulmões realizam as suas atividades de eliminação. A energia está concentrada, por exemplo, no intestino grosso, nas primeiras horas da manhã (entre as 5h e as 7h), pelo que essa é a hora indicada para evacuar, se nos levantamos cedo, como é suposto. Das 7h às 9h temos a hora do estômago e devemos então tomar o pequeno-almoço a essa hora. 
Seguindo esta lógica, às 21h já devíamos estar a descansar, uma vez que o sistema linfático realiza a sua desintoxicação. Às 23h devemos dormir para que a vesícula biliar faça o seu trabalho descansada. À 1h, é a vez do fígado e das 3h às 5h os pulmões. Assim que o sol nascer, estamos a acordar. 
No meu caso, sendo o fígado o órgão que tenho mais debilitado, entendo, à luz da MTC, que esteja agitada até às 3h, mas também que agitar-me até essa hora também não lhe traz saúde nem lhe permite cumprir a sua função. E eu que gosto de criar e escrever a essa hora! Quando era estudante, também estudava "fora de horas". Mas depois, temos maus fígados e ninguém me quer de mau humor!
Deve haver outras teorias que justifiquem o deitar cedo e o cedo erguer e não custa alinhar-nos com os ritmos da natureza, uma vez que fazemos parte dela. Ou tentar que essa seja a rotina e não a exceção. 
(Este artigo vale o que vale, resultado de pesquisas caseiras. Convém consultar um profissional de MTC para saber deste assunto com o devido rigor.)

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