segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Da mesquinhice



A mesquinhice é a arte de dar importância a coisas relativamente relevantes, que naquele momento escolhemos ver como apocalípticas porque temos a visão limitada. 

Ser mesquinho é ter medo de perder: o dinheiro, o amor dos outros, o tempo, o autocarro, a razão, a vida, o sentido, o controlo, o poder, a cabeça; é não saber esperar para ver mais além; é estar muito triste; é invejar o mundo dos outros que não está a acabar (será que não está?); é ser pequeno e querer que o mundo caiba na palma da sua minúscula mão; é ser esquecido porque não importa lembrar o que se tem ou o que já se é (é ser-se ingrato, portanto). 

Ser mesquinho é querer ser perfeito e não perdoar um cêntimo no troco; é sentir-se imperfeito e chorar a imperfeição dos outros; reclamar da justiça divina e do árbitro do jogo, que é o mesmo.  




Quando estava internada, na fase mais complicada, recebi a visita de uma amiga que me disse: 

"Rita, olha para isto tudo como se fosse um filme!"

Não é uma competência fácil, a de nos distanciarmos de nós mesmos e do que estamos a viver. Também não é fácil ter uma visão abrangente quando estamos no aqui e agora. Se calhar nem é suposto. Acho mesmo que não é suposto. Mas a tendência para a mesquinhice advém do apego ao que sentimos que temos, porque o que temos nos dá uma segurança sem a qual não podemos viver. E é tudo ilusão. Conseguimos sobreviver à diferença, às mudanças e ao caos. Há vida depois da "morte". Se pode ser o inferno, também pode ser o paraíso! 

Para contrariar a mesquinhice, só a fé: acreditar sem garantias, confiar sem saber. Não nos queixemos de barriga cheia. 

Não discutas trocos, não compares a tua dor à dos outros, não te queixes da falta de tempo, não sejas impaciente, não julgues cada comportamento, não negligencies cada passo que dás, não subestimes a inteligência terrena, divina ou qualquer uma que esteja subjacente à vida. Não te esqueças. Sobretudo não tenhas a memória curta.

De repente, senti-me a Alexandra Solnado, a canalizar a mensagem de Jesus. Não, não baixou em mim nenhuma entidade superior (ou se calhar, estou mesmo possuída e não sei porque isto são tudo vozes que habitam a minha cabeça! Não se manifestem mais do que isto, seres do além-Terra, que eu não tenho saúde para essas aventuras...). 

É exactamente quando reconheço a mesquinhice, para comigo, para com os meus ou em mim que digo para mim mesma: "Não te esqueças!" E esqueço-me todos os dias de muita coisa, mas não do mais importante: está tudo certo!

Não há coisas urgentes a não ser mesmo viver, dizer a alguém que é importante para nós ou socorrer outro alguém de um enfarte (e mesmo assim, deixem lá o senhor que se calhar está só enfartado disto tudo!). Tudo se resolve. Tudo vai para onde tem de ir. Anda tudo com pressa não sei do quê. Eu às vezes também penso nos meus 35 anos e questiono o que ainda não vivi ou conquistei, mas depois pergunto-me "para quê? estou com pressa mesmo do quê?".

Acontece-nos aquilo que somos, à medida que vamos sendo exactamente o que podemos ser em determinado momento.  

Dou um passo atrás, dou um passo à frente, olho para o lado, dou uma volta inteira e dou por mim a dançar. Vá, tudo começa por respirar





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