domingo, 17 de novembro de 2013


Hoje carpo. Não só por ter sabido de mais uma morte, desta feita de uma menina cabo-verdiana de 16 anos, que eu pus a dançar funaná na enfermaria do piso de hematologia do IPO e que saía da sua cama e do seu quarto para se ir sentar ao lado da minha cama até as enfermeiras a expulsarem de lá, não fosse ela tentar fugir novamente do prédio. Tratavam-na como uma criança, mas duvido que algum dia o tenha deixado de ser. E ali no meio dos velhos, era. Ainda não me acredito muito nisto, porque parece que ainda a estou a ver a enrolar o lenço na cabeça, fazendo jus à sua origem, e a inspirar-me para fazer o mesmo e lançar a moda.

Hoje carpo. Se calhar é mais fácil enganar a vida do que a morte, embora eu acredite que podemos enganar a morte se agarrarmos a vida. Carpe diem. Todos os dias. E prometo dançar um funaná com toda a alegria que se lhe impõe. E prometo ser feliz na tua terra. E prometo fazer tudo o que tem de ser. Carpo diem. Carpo vitam.

Relembrando "As Centenárias", peça a que fui assistir na última 4ª feira e que terminou hoje, no Teatro Meridional, em Lisboa... Com a brilhante interpretação das 3 actrizes em palco, homenagearam as carpideiras que tanto vivem perto da morte por não a querer ver de perto, em modo de manter o inimigo sob vigilância, conhecer-lhe os truques todos para poder passar-lhe uma rasteira sempre que este se apresentar. Acho que nunca vi a morte de frente. Passou-me ao lado. Mas não há morte que não nos remeta para a vida. Por isso, sim, vamos carpir e lamentar o que tem de ser carpido e lamentado, para depois continuar a carpir mas cada dia, um depois do outro, e em bom. Carpo mais o dia do que a noite. Pelo menos pretendo.

Obrigada Flávia (Gusmão) pelo MoMo - outra peça muito especial - e pela tua carpideira brilhante. Cá te espero na também tua terra, para um funaná sem manha...



Carpir. Do latim carpo, carpere.
http://www.os-sinonimos.com/sinonimo-de-carpir

sábado, 16 de novembro de 2013

Em Cabo Verde, dia #2

Quem é que não gosta de viajar? Já conheci algumas pessoas que não gostam de sair de casa, com medo de se perderem, mas também conheço outras viciadas em viagens para se encontrarem. De uma forma ou de outra, não queremos todos o mesmo? Até gostamos de perder se depois for para ganhar. É quase a briga que compramos para podermos fazer as pazes. E é de pazes que quero falar. Encontro-me na terra onde adoeci, Cabo Verde. Faz hoje dois anos viajei para cá, exactamente um ano depois regressei doente e exactamente outro ano depois estou de volta, desta vez de passagem. As datas não foram planeadas, mas aconteceram assim. Hoje percebi que esta era uma viagem importante a fazer, mas uma viagem sobretudo para dentro de mim, apesar de tudo o que se passar cá fora. E como as viagens nos ajudam a viajar para dentro, no espaço e no tempo! Mudamos de espaço exterior e adaptamos o interior a novas realidades e diferentes códigos. Não há como fugir à viagem interna, se nos dispusermos de facto à vivência da diferença que, de passagem, é divertida, mas em mais do que uma simples passagem, constitui um verdadeiro desafio a valores, preconceitos, estereótipos e memórias que transportamos connosco. Toda a gente devia ter a oportunidade de viajar, nem que seja até à casa do vizinho do lado. Do vizinho feio, porque o bonito já está a bater-vos à porta, claro! Não há como não crescer a viajar, embora também se possa fugir muito da viagem, dentro da própria viagem.

Este é o meu minutinho do dia para pensar, porque tenho mais que fazer nestes 21 dias! :)

21 dias foi imposição da TAP para poder usufruir das tarifas mais baixas, mas a verdade é que 21 é um número utilizado muitas vezes nos rituais que pressupõem mudança ou manutenção da mesma. Parece que é o tempo mínimo de que o cérebro necessita para criar novos hábitos, novas ligações neuronais que resultem em mudanças duradouras. "Algumas teorias dizem que se repetirmos uma acção por 21 dias seguidos vamos criar um novo hábito." Assim, encontro-me no meu ritual de limpeza... Para além do neurológico, do ponto de vista energético, 21 dias para 7 chakras, dá 3 dias para cada um deles, o tempo necessário para reequilibrar e repor tudo no seu sítio.

P.S. A explicação das duas abordagens, neurológica e energética, neste site: http://animamundhy.com.br/blog/por-que-21-dias-perguntas-e-respostas

sexta-feira, 15 de novembro de 2013


Por vezes o equilíbrio é difícil porque, entre passado e futuro, não queremos tocar no presente que se passeia à nossa volta e no chão que se apresenta debaixo dos nossos pés... Entre o fim e o início. Rumo à Primavera. Nos bicos da alma para não estragar. Lufada de ar fresco para recomeçar.

 

Sometimes balance is hard to achieve because, between past and future, we don't want to touch the present that walks around us nor the ground right beneath our feet... between end and beginning. Towards Spring time. Tiptoeing soul, don't want to ruin it. A breath of fresh air to start it all over. Again.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013


Post inspirado na peça "Feio" da companhia Palco 13, em exibição até ao final do mês de Novembro, no Auditório F. Lopes Graça/Parque Palmela, em Cascais. 

Hoje não estou muito para elogios... muito menos a feios! E assim se começa a dissertar sobre o que o feio ou o bonito acrescenta a uma vida... 

...acrescenta reacções, comentários, críticas, elogios, abre caminhos, fecha portas? Bonitos desta vida, como teria sido a vossa vida se tivessem nascido feios? Mas vamos ainda mais longe. Como teria sido a vossa vida se a vossa cara fosse outra? A nossa cara traz muita informação sobre nós, os nossos genes, a nossa família, antepassados, de onde vimos... Mas, até que ponto pode determinar para onde vamos? Como reagem os outros a toda essa informação alojada nos nossos traços, alargada à nossa linguagem corporal? E se de repente mudamos de cara, corpo e "comportamento corporal"? 

Não há como dissociar identidade de corpo, até porque o nosso cartão de visita, de identidade ou do cidadão, tem de ter a nossa cara chapada. Esta sou eu, mais ninguém!

Claro que não pretendo cair no determinismo da coisa - se é loira, é burra, olhos verdes são traição e azuis ciúme, como nas canções - até porque, por detrás do olho está toda uma intenção que espelha a alma e essa tem muito mais cores do que aquela que aparece. Mas a verdade é que eu sou esta, vim com esta embalagem e não sou a outra. Este ano perdi o cabelo. Tive a sorte de ter sofrido uma mudança relativamente aceitável no que toca à identidade: não nasci com ele por isso continuo a ser sempre eu! Mas podem crer que às vezes sinto traços de personalidade distintos em mim, que estão relacionados com o meu estereótipo de mulheres de cabelo curto que sem querer incorporei. Inconscientemente ou não, associando o cabelo curto se calhar a uma energia mais masculina, sinto-me mais determinada. Não posso atirar os cabelos para o alto e esperar que caiam sensualmente ou enrolar graciosamente uma madeixa de cabelo. Nem dançar com o cabelo, caraças! É isto e pronto. Sem rodeios. Googlando sobre personalidade e estilos de cabelo:

“Geralmente quem corta o cabelo curto deseja ser menos sensível e sofrer menos interferências na vida." O cabelo comprido está associado a "pessoas mais sensíveis e bem mais flexíveis." E podia continuar a citar o que se diz por aí, mas o interessante é perceber que existem estereótipos e expectativas agidos a um nível inconsciente que nos levam a ter um determinado comportamento quando temos determinados traços ou perante alguém que tenha uma fisionomia específica. 

Mais do que apelar à anulação destes fenómenos - o que importa é a beleza interior porque, afinal de contas, o intestino é bem mais importante na nossa sobrevivência do que o feitio das orelhas - o mais interessante e relevante é tomar consciência de que isto acontece e faz parte, para depois perceber o quão injustos estamos a ser se não equacionamos todas as variáveis. A linguagem corporal não traz legendas, mas estão lá, subentendidas. Subentenda-se portanto.

Fotografia das costas dos Feios, para não ferir susceptibilidades (Alfredo Matos Fotografia)

Elogio ao FEIO #2
Elogio ao FEIO #1

quarta-feira, 13 de novembro de 2013


O 75º dia deste blog, que há de ter 365, merece uma celebração. Ou várias. Este espaço foi criado, como referi no primeiro post, com o objectivo primeiro e último de me manter feliz. Porquê escrever? Porquê todos os dias? Porque mantém a minha atenção na cura, no ser saudável, no meu SER. Ah e tal inspirar e ajudar outras pessoas... Sim, é verdade que a ideia do blog surgiu da constatação de que a partilha da minha experiência tinha um impacto positivo na vida dos outros, mas não posso dizer que este projecto é um acto altruísta  e voluntarioso da minha parte, porque eu preciso mais dele do que vocês que o lêem. A parte da inspiração que pode ter para algumas pessoas pode ser uma consequência mas nunca o fim deste projecto.

Qual a importância do outro - vocês - neste processo? É o papel de interlocutor, questionador, apoiante e amigo. Tudo isto ganha mais força e sentido dentro de mim se houver interlocutores, perguntadores, palavras amigas e de apoio. Por isso, hoje celebro dois meses de sucesso, que se traduzem em saúde no resultado das análises que fiz hoje no IPO (Instituto Português de Oncologia) de Lisboa.

Este blog começou no dia 1 de Setembro e as análises do dia 5 do mesmo mês mostravam um fígado muito afectado pelos tratamentos, com valores ainda alterados. Fiz a opção de não fazer tratamento nenhum no espaço destes 2 meses, nem químico nem natural, e resumir-me à parte mental - até na alimentação quebrei as regras - mantendo o foco naquilo que acredito ser a maior fonte de saúde e de doença. Hoje, 13 de Novembro, os valores do fígado já normalizaram e as análises estão "óptimas".

Este espaço mantém-me no caminho, não permite que me distraia com tanta gente a tentar travar-me sob a desculpa de querer o melhor para mim. O discurso dessas pessoas não me pode distrair. Já me basta lidar com os meus medos, não preciso que me incentivem a bloquear ainda mais o curso das minhas coisas, o regresso à saúde e à vida real. Se esperavam outra coisa ou era suposto outra coisa por me ter sido diagnosticada uma doença grave e supostamente terminal? Pois, se os meus pre-supostos são outros, os meus supostos também o são.

Ter uma doença não significa necessariamente ser doente. Querem liberdade? Libertem-se!

Para celebrar fui ao teatro ver "As Centenárias", uma peça sobre a Morte para celebrar a Vida! (No Teatro Meridional até Domingo, 17/11)

"E era uma vez... lá vem a morte, outra vez" (Natália Luiza, encenadora da peça)

segunda-feira, 11 de novembro de 2013


Hoje vou iniciar uma categoria aqui no blog destinada a revisitar a Rita de há uns anos atrás, porque percebi que há coisas que não mudaram nem com doses elevadas de quimioterapia e também porque tenho saudades tuas, A. - que nesta secção vai aparecer sempre como Ela!

16/Abril/2007


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