sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O meu novo Eu (só que não)


Quando a minha vida começou de novo, senti a excitação de quem tem todo um mundo de possibilidades pela frente. A estaca 0 traz a oportunidade de fazer tudo melhor do que um dia se fez, de fazer boas escolhas e de cumprir com o que... e parei aqui... cumprir com o que... o que se espera e é suposto. Quero dizer... cumprir com o que projetei e que por isso é suposto para mim. Tenho dúvidas de que haja grandes diferenças.

Imaginava uma vida saudável, com uma alimentação regrada, tranquila e disciplinada, noites de sono em dia, dias cheios de criatividade, um corpo esbelto e forte, de volta ao ginásio e à dança, uma casa limpinha e arrumadinha, cheia de boas energias, uma vida profissional em reconstrução mas direcionada por determinadas prioridades, a vida pessoal e social entregue ao que o destino me trouxesse, mas cheia de assertividade e confiança. E a longo prazo o dinheiro a fluir para poder viajar e fazer formação.

Porquê? Porque eu tive um diagnóstico de uma doença num último estadio e recusei metade dos tratamentos. Ou seja, estaria nas minhas mãos fazer tudo BEM, ser uma menina bem comportada para não voltar a adoecer. Fazer tudo bem pela minha "rica saúde"!

Pois bem, não fui perfeita. Estou longe de o ser. A casa está de pernas para o ar, eu tenho mais 13 kg, mal meto os pés no ginásio e a dança vai as solavancos entre dias inspirados e dias frustrados. Tenho uma lista de coisas para fazer, há dias em que paro para dormir, esqueço-me de algumas coisas, lembro-me todos os dias de ainda mais coisas que ficam sempre para o dia seguinte. Quando o cansaço aperta, nada como um comando na mão e um prato de comida à frente. Mais vezes o que apetece do que o que é suposto fazer bem.

Num ano e meio, consegui recuperar a minha autonomia, voltar a viver sozinha, pagar contas, trabalhar e frequentar eventos e formações que me enriquecem pessoal e profissionalmente. Voltei a ter menstruação e hormonas ao rubro, a afastar o cabelo da frente dos olhos, a não dar conta dos pelos das pernas, a lamentar-me dos homens (ou da falta deles) e a irritar-me com... o que sempre me irritou.

Se eu fosse um "case study", diria que a única variável "controlada" é o CurAção. Mesmo que tudo vá imperfeito, vai com esta intenção. Mesmo que eu deixe de responder a duas ou três mensagens em tempo útil ou razoável, é com gratidão. Mesmo quando não me perdoo, não te perdoo e me irrito, é em consciência. E no final do dia agradeço e reforço os votos de confiança na vida, no caminho e no sentido da cura, que, para mim, mais não é do que evolução e crescimento.

O tempo não voa, nós é que voamos sobre o tempo e aterramos no dia seguinte.

Que bem que me sabe escrever às 2h da manhã... Se me deitasse antes da meia-noite para dormir 8 horas, não tinha escrito metade deste blog... O crime perfeito e a cura imperfeita. Sou eu.

2 comentários:

INSTAGRAM