segunda-feira, 7 de outubro de 2013

do livro "Practical Chinese Medicine" de Penelope Ody

Hoje resolvi investigar por que me é difícil deitar cedo e cedo erguer, sabendo que quero saúde e quero crescer. 
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, o nosso Qi (Energia) passeia-se pelo nosso corpo a um ritmo bem definido. Distúrbios do sono podem revelar desequilíbrios num determinado órgão e vice-versa, por isso convém respeitar os horários em que o corpo realiza processos de desintoxicação, dando-lhe descanso às respectivas horas. 
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa (link), o sono depende do estado do Coração (Xin) e do Fígado (Gan).  O coração é o monarca, o fígado o general.
O sangue é o fluido do coraçãos. Quando o sangue não é abundante, entende-se que as funções do coração enfraquecem, o seu ritmo fica desregulado, levando à agitação e é essa agitação que perturba o sono. Dentro da visão chinesa, o Coração também abriga a Mente (Shen) que rege a consciência do indivíduo. E o coração abriga também os sentimentos, dessa forma precisa de tranquilidade, qualquer sentimento muito forte vai afetar perturbar o coração, a consciência e mente e contudo ficaremos perturbados. Portanto, desordens físicas no coração desencadeiam ansiedade e o sentimento de ansiedade lesa as funções do coração.
Enquanto o Coração rege a circulação de sangue, o Fígado dá o direcionamento para o sangue enquanto estamos em atividade. Para que você faça qualquer movimento é importante usar as articulações e os tendões, essa nutrição é responsabilidade do Fígado. Quando não há sangue suficiente, a nutrição fica acometida, o Fígado fica sem direção, as suas funções perdem-se e a mente vaga durante a noite. Por isso, quanto mais estimulados ficamos no período da noite, menos temos vontade de dormir. Se o cérebro é estimulado vai requerer sangue e energia, dando mais trabalho para o Fígado num momento em que a energia deveria ser recolhida e que ele pudesse trabalhar em paz, libertando enzimas para o metabolismo por exemplo. Assim, o hábito de deitar-se tarde lesa as funções do fígado, deixando-o hiperativo. 
Segundo o site http://muitomaissaude.wordpress.com/, é num estado de sono profundo que órgãos como a vesícula biliar, o fígado e os pulmões realizam as suas atividades de eliminação. A energia está concentrada, por exemplo, no intestino grosso, nas primeiras horas da manhã (entre as 5h e as 7h), pelo que essa é a hora indicada para evacuar, se nos levantamos cedo, como é suposto. Das 7h às 9h temos a hora do estômago e devemos então tomar o pequeno-almoço a essa hora. 
Seguindo esta lógica, às 21h já devíamos estar a descansar, uma vez que o sistema linfático realiza a sua desintoxicação. Às 23h devemos dormir para que a vesícula biliar faça o seu trabalho descansada. À 1h, é a vez do fígado e das 3h às 5h os pulmões. Assim que o sol nascer, estamos a acordar. 
No meu caso, sendo o fígado o órgão que tenho mais debilitado, entendo, à luz da MTC, que esteja agitada até às 3h, mas também que agitar-me até essa hora também não lhe traz saúde nem lhe permite cumprir a sua função. E eu que gosto de criar e escrever a essa hora! Quando era estudante, também estudava "fora de horas". Mas depois, temos maus fígados e ninguém me quer de mau humor!
Deve haver outras teorias que justifiquem o deitar cedo e o cedo erguer e não custa alinhar-nos com os ritmos da natureza, uma vez que fazemos parte dela. Ou tentar que essa seja a rotina e não a exceção. 
(Este artigo vale o que vale, resultado de pesquisas caseiras. Convém consultar um profissional de MTC para saber deste assunto com o devido rigor.)

sábado, 5 de outubro de 2013


Aceitar. Dizem que a aceitação faz parte do processo. Do qual? De viver? De adoecer? Aprendi muito sobre aceitação no último ano. Já vinha a aprender antes, mas este ano o teste foi deveras desafiante. "Fulano não aceita a doença." "Tens de aceitar." Aprendi muito disso de aceitar, principalmente reconhecendo o que ainda não tinha aceitado até então. O então antes da doença. E tenho a dizer que hoje aceito muita coisa, menos a doença. Até o cancro eu aceitei! Mas não a doença. Não a doença, a inevitabilidade, a fatalidade e a condição de ter uma doença crónica. Aceitei o cancro como hóspede, mas não como inquilino. Não. Eu sei que os médicos dizem coisas como "Vai ter isto para a vida toda." "Tem x tempo de vida." ou "Não tem hipóteses se não fizer isto." Mas essas são as suas crenças. Eu tenho as minhas. E aqui tenho de admitir que sou um bocadinho possessiva. São minhas. E como já alguém dizia: "Eu sou muito eu!" Careca, mas eu!

Aceitar é fundamental porque aceitar dá assim uma paz que deixa os outros mais descansados. Aceitei, não se preocupem, está tudo bem. Mas vamos lá agora falar a sério...

Aprendi muito sobre aceitar. Aceitar-me como sou, com as minhas convições e as minhas maluquices, fragilidades, qualidades e defeitos que são feitio. É que esta parte poupa-nos muita energia! É assim! Gira e boa, como o helicóptero!

Aprendi muito sobre aceitar. Quando me aceito como sou, irrito-me menos com as diferenças (ou igualdades) dos outros. E não há amor sem aceitação. Nem próprio nem nenhum!

Aprendi muito sobre aceitar, percebendo o que me era difícil aceitar nos outros e o que não tinha aceitado, de maneira nenhuma, até então.

No outro dia perguntavam-me: "Foste para Cabo Verde fazer o bem e depois acontece-te isto. Não achas que é uma injustiça?" Sim, fui fazer o que eu acho que é bem, mas alguém me pediu para ir lá tentar mudar alguma coisa? Também não gosto que me arrumem a casa sem que o peça, quando me entendo na minha desarrumação. Se é justo? Não sei... Incorporei muitas das feridas de uma cultura/terra que não é a minha, mas que tem muito da minha. Eu não sou os meus antepassados mas transporto uma herança. Não aceitei muito do que vi, entrei em confronto e irritei-me com as barreiras que me foram impostas. Comprei uma guerra que não podia vencer. Acabei ferida. Se é justo? Se calhar é, ainda que para mim não seja. Preferia ter sido premiada com umas férias no Sal do que com um cancro! Ainda assim, nunca me tinham ensinado tanto de força, resiliência e sobrevivência como ali. E hoje sei que a tristeza nesta história foi a força na história que se seguiu. Dizia o Lucas que a Rita ia ficar boa porque tinha a mural di guettu. E o que é um cancrozito para o pessoal di guettu?


Coleção de olhinhos fortes no coração da ilha de Santiago, Porto Madeira

E quem acha que eu devia ter aceitado a inevitabilidade de estar agora numa cama do IPO, pense bem nas inevitabilidades da sua vida que podiam ser diferentes se, por um dia, parasse de as aceitar... para se aceitar a si como quer ser (e é lá no fundo).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013




Há tempos mortos. São aqueles em que tudo continua a acontecer, mas ao contrário. A morte é a vida ao contrário. Sem roupas. Sem pele. Sem flores. Sem sorrisos. Atravessa-se o tempo no espaço vazio. Que encontras no caminho? Quem és tu quando estás sozinho? Sim, tu. Tu ao contrário. És sempre tu. Apenas saíste do armário. Morri em tempos. Renasci num segundo. São os contratempos desta travessia pelo mundo.




Coreografia de Paula Careto com música M.J.: "Thriller"


Mais um texto que escrevi para o espetáculo Crio da Academia de Artes Arte Move. Interpretado por Mariana Bandhold, Mariana Silva, Laura Borralho e Sofia Gusmão, dançado depois em Thriller (ver foto).

Atravessiamo, dizia a Julia Roberts no filme Eat, Pray, Love... Atravessei-me. Do avesso. E, avessa, voltei. 

Dizia ontem uma das enfermeiras que fui visitar ao IPO, quando soube que tinha feito uma opção contrária à que os médicos me propuseram: "Normalmente as pessoas com mau feitio dão-se bem!" Oi?

quinta-feira, 3 de outubro de 2013


Hoje a minha ação é pensar. Bom, hoje as ações até foram muitas, mas como isto não é um diário, refiro-me à curAção que partilho diariamente. Estava a pensar nos pressupostos da minha curAção, que são três:

1. Os doentes (também aplicável a pessoas em situação de crise e, em última análise, a toda a gente), ou melhor, os doentes físicos, mentais, emocionais, espirituais, sociais e/ou afins têm um papel ativo e responsável na sua vida, pelo que são responsáveis na doença e na cura (na pobreza e na riqueza, na vida e na morte, até que esta os separe de nós. E deles próprios.).

     1.1. Aqui distinguimos responsabilidade de culpa. Também não há injustiças, porque não vejo a vida como uma sequência de prémios e/ou castigos decorrentes de bons e/ou maus comportamentos. Há, sim, escolhas e consequências. Não é verdade ou consequência. É verdade e consequência! (Responsabilidade aqui é diferente de imputabilidade!)

     1.2. Quem se responsabiliza não depende dos outros para se curar. Pode precisar dos outros - e precisa! -, mas não está propriamente pendurado neles à espera de milagres. Responsabilidade é Poder. E é aqui que se dá o verdadeiro milagre.

     1.3. Parte das escolhas dirá respeito a processos inconscientes. O facto de parte das escolhas serem feitas de forma inconsciente não nos retira a responsabilidade. Vou dizer outra vez. O facto de parte das escolhas serem feitas de forma inconsciente não nos retira a responsabilidade. Não é culpa, é responsabilidade.

     1.4. Parte das escolhas dirá respeito a processos conscientes. Queremos aumentar esta taxa, principalmente no caminho de regresso ao estado saudável e equilibrado. (Não queremos eliminar os processos inconscientes, pois estes são responsáveis por grande parte das nossas criações. Queremos é aumentar a taxa de criações construtivas, em oposição às destrutivas. Deixemos o inconsciente continuar a fazer o seu trabalho, assim numa de artista, mas em bom!)

           1.4.1. Se estivermos em silêncio, interno e externo, conseguimos ouvir o nosso inconsciente, voz interior, intuição, essência, eu superior, deus, universo, guias ou outro nome que queiramos dar, conforme formação, credo, cultura ou dia da semana (!). É melhor escolher o nome que consideramos mais forte, que nos inspira mais confiança, porque, nas alturas de maior aperto, não se brinca!

2. A criatividade tem uma função terapêutica OU ser criativo/criador corresponde ao nosso estado natural/inicial/essencial/saudável.

     2.1. É da relação única entre indíviduo, neste caso, doente, e evento, materiais, pessoas ou contexto, neste caso, doença, que resulta o produto criativo, novo, original, que vem mudar a condição presente, transformando-a em algo superior. (Uma vez que acredito que estamos aqui para evoluir, só posso admitir que a condição anterior será inferior e a nova superior.)

     2.2. Também criámos a doença, certo? Quem cria o bom também cria o mal! A boa notícia então é que também criamos a cura!

           2.2.1. Vou baralhar isto tudo - mais um bocado - e acrescentar que entendo que o que chamamos de doença faz parte dos mecanismos de cura do nosso próprio corpo. Mas esqueçam isto por agora, para já... até ao ponto 3.

     2.3. Criatividade e expressão. Pois, é que ser criativo não é para todos. É de todos, mas não é para todos. É só para os livres. Livres de espírito. E aqui entra a liberdade de expressão. E aqui ainda entram todos os meios de expressão que conheçam (armas de fogo não contam!). E também entram as artes. Mas também entram as soluções. E sobretudo os idiotas! E os loucos, claro!

          2.3.1 Esta é mais fácil transcrever, que já é tarde: Liberdade Psicológica. (...) Nem em todas as circunstâncias é libertador o faCto de se exprimirem no comportamento todos os sentimentos, impulsos e formas. O comportamento pode ser limitado em determinadas circunstâncias pela sociedade e assim deve ser. Mas a expressão simbólica não tem necessidade de ser limitada. (Rogers, 2009) Expressão simbólica, senão vai tudo para a choldra! Podem-se matar uns aos outros, mas em sonhos! Ou a dançar, a representar, a pintar, a falar...

     2.4. "Ah, eu faço isto por ti!" Errado. Ninguém faz nada por mim e eu não faço nada por ninguém. Quando crio, é por mim, para me satisfazer na minha missão de ser EU. Mas aceito que me acompanhem ou acompanhar-vos. Isto sozinho também não tem piada!

3. A doença tem uma função terapêutica, ainda que patológica. Confusos? A doença tem uma função! Alguém se mantém num estado se este não serve para nada, se não se tira ganhos da situação e se ainda por cima não se merece? No one no one no oooooone... (melodia da Alicia Keys, mas em baixinho, por favor).

     3.1. Cada um vai refletir nisto se quiser porque já é tarde.

     3.2. Na doença, o corpo é um mediador emoção-expressão e o sintoma o símbolo através do qual nos permitimos expressar. Voltem à alínea 1.3. É preciso interpretar, descodificar ou ouvir. E sentir. Voltem à alínea 1.4.1.

     3.3. Alguma coisa grave - leia-se "percecionada como grave" - terá acontecido para passarmos a fatura ao corpo! É a cabeça que não tem juízo, já dizia o Variações! Ninguém se põe doente por dá cá aquela palha!

E regressem ao ponto 1., principalmente o 1.2.!

E duas citações oportunas, de Carl Rogers (2009), para terminar, porque isto afinal era apenas para pensar:

Numa época em que o conhecimento construtivo e destrutivo avança a passos gigantescos para uma era atómica fantástica, a adaptação autenticamente criadora parece representar a única possibilidade que o homem tem de se manter ao nível das mutações caleidoscópicas do nosso mundo. Perante as descobertas e as invenções que crescem em progressão geométrica, um povo passivo e tradicional não pode fazer face às múltiplas questões e problemas. A menos que os indivíduos, os grupos e as nações sejam capazes de imaginar, de construir e de rever de uma forma criadora as novas formas de estabelecer relações com essas complexas mutações, as sombras irão crescendo. (...) Não serão apenas as desadaptações pessoais ou as tensões de grupo que representarão o preço que teremos de pagar por essa ausência de criatividade, mas a aniquilação das nações.

Nenhum contemporâneo pode apreciar satisfatoriamente um produto da criação no tempo em que ele se formou e esta afirmação é tanto mais verdadeira quanto maior é a novidade da criação.

Inventem, mas pouco.






terça-feira, 1 de outubro de 2013


Hoje é dia de celebrações. Este blog faz um mês, o que signifca mais um mês no caminho da cura! E grão a grão, encho o papo! Mas sempre muito bem acompanhada. Como hoje é um dia especial, dedico-o a uma carequinha especial, a Leonor, de 4 anos, que há 3 meses transportava dois tumores gigantes, um em cada rim, mas que hoje já se encontra mais levezinha, porque o seu sorriso e a sua alegria - mais o amor da torcida toda dos aprendizes - levam todos os dias a melhor, todos os dias um bocadinho mais. E o caminho continua... Para mais informações, https://www.facebook.com/pages/Os-Aprendizes-da-Nono/465581613536074?fref=ts.

Este é um vídeo para a Leonor gravado nos bastidores do espetáculo Crio da Academia Arte Move, em Julho:


Julho 2013:



Setembro 2013:


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