quarta-feira, 24 de maio de 2017

Livre Trânsito



Um dia vou imprimir os quase 600 posts aqui do blog para me organizar e não me repetir. Tenho a noção de que, muitas vezes, me repito e, por vezes, não tenho mesmo noção do que já disse ou pensei mas não cheguei a escrever. Tenho algum orgulho neste caminho, de onde vem e onde está. O nome do projeto nasce num momento de epifania na cozinha da casa dos meus pais, onde vivi nos meses que se seguiram aos internamentos no IPO, até voltar a alugar uma casa. Surge quase como uma visão ou revelação na minha cabeça. A Inês, na Arte Move, foi a primeira pessoa a quem contei a minha ideia. Posso dizer que algumas colaborações se foram concretizando de uma forma natural e informal, sempre com o princípio de que juntar recursos, valências, competências e pessoas multiplica o potencial de todos os intervenientes, bem como da mensagem que está implícita em cada ação porque acaba por chegar a muito mais gente. No que ao blog diz respeito, estou numa fase one woman show, mas sei que isso pouco me acrescenta e não tem grande alcance. Coisas novas virão. Quando me perguntam o que é o projeto, eu respondo que é o projeto da minha cura. Pessoal e transmissível, como disse desde o primeiro dia. Não conto tudo o que faço na minha vida, não conto todas as consultas a que vou, não revelo muito da minha intimidade, mas vou-me mostrando. Em Dezembro de 2012, fui diagnosticada com um Linfoma non-hodgkin grandes células B, estadio IVB (o último). Em Julho de 2013, interrompi os tratamentos, foi-me dito que não tinha hipóteses de cura se não continuasse a quimioterapia e se não fizesse o transplante de medula e, voilá, em 2017, aqui estou eu, com alguns baixos e algumas fases difíceis mas a fazer a minha vida, a ir à minha praia, a dar as minhas aulas, a dançar o que posso e com o meu cabelo de volta. Demasiados possessivos na mesma frase? É verdade, é a minha vontade de agarrar o que sinto que me pertence ou, pelo menos, o que quero para mim, mesmo que as coisas nunca nos pertençam verdadeiramente, mesmo que viver seja apenas estar em trânsito. Que seja livre trânsito.

E o quer dizer estar aqui depois de tudo o que me foi dito? Quer apenas dizer que não existe só uma perspectiva, que não existe uma verdade absoluta, que existem muitos dogmas e muitas crenças enraizadas na ciência e na medicina, que o paradigma está a mudar, que respondemos às crenças e aos medos das próprias pessoas que constituem as equipas médicas e os amigos que nos acompanham e querem o melhor para nós. Quer apenas dizer que é possível e que é possível fazer diferente, que somos um mundo e O mundo, assim o queiramos descobrir. Quer dizer que a intuição é a p*** madre de todos os sentidos, porque é aquele que nos ensina a confiar em nós e na nossa sabedoria natural (em todas as acepções da palavra natural). Quer dizer que, desde que somos concebidos até que morremos, nos metem medo. Quase por amor, para nos proteger. Mas, por favor, não assustem as pessoas que só querem crescer!



Sem comentários:

Enviar um comentário

INSTAGRAM