domingo, 8 de maio de 2016

O pai vai fazer quimio


Dois meses sem escrever... Várias vezes me surge um ímpeto para o fazer, com temas que urgem de situações com que me confronto diariamente, mas não passa do impulso. Se calhar, por não saber em que ponta pegar. São várias as causas que me movem mas cada vez me apercebo mais da importância da relação terapêutica na saúde e essa é um dos temas que me toca mais, nesta história da humanização dos serviços, da humanização dos doentes e da humanização dos médicos e dos técnicos de saúde. Parece uma questão óbvia. Mas não é. Mais recentemente, vou aprendendo sobre isto com o meu pai, que resolveu que isto do cancro ainda tinha cartuchos para queimar... Pois é, o meu pai tem um linfoma não-hodgkin, de nome: Macroglobulinemia de Waldenström. Parece mentira, mas é verdade

A doença do meu pai remonta aos tempos em que fui internada (2012) - não é uma coisa nova - mas o diagnóstico concreto tem apenas um ano e os tratamentos só foram iniciados no passado dia 1 de Abril, o dia da mentira que não era mentira! Anticorpos no hospital de dia e quimioterapia oral. Eu resolvi que era boa ideia lesionar-me na véspera, num ensaio de dança, e fiz um entorse do tornozelo com rotura de ligamentos. Resultado: lá fomos os dois, ele para o tratamento e eu, coxa, para o acompanhar. Valha-me o Tramadol em SOS (mas não façam isto em casa!)! (Mania do protagonismo!) 

Não acho que seja azar ter-nos calhado dois cancros em três pessoinhas (família nuclear) porque considero sempre que há ligações escondidas nas coincidências que nos acontecem. Quando se diz "Logo havia de acontecer...", eu digo "Só podia acontecer..." Não deixa de ser um azar dos diabos, mas o azar é um conjunto de circunstâncias, mais conscientes ou menos, que se reúnem para um resultado... Tal como a sorte.

Continua a ser um bocadinho macabro este filme mas certo é que estamos cá para fazer o caminho, seja qual for a história de dor, o resgate de amor e a aprendizagem que encerre. Mas, principalmente, a oportunidade que se abra. 

Portanto, o cancro continua a estar na ordem do dia e deste blog, com os devidos timings para integrar tudo isto, no meio da vida que continua...


Dançaterapia - CRID

3 comentários:

  1. :( A minha estória(história) também é idêntica um pai e uma mãe, primeiro o mau querido pai, com um CANCRO colo rectal, operação rádio e muito sofrimento dele e meu. Partida, e eu a pensar não quero mais entrar neste Hospital (hospital de dia do Amadora Sintra). "ELE" deu-me mais uma lição, nunca devemos dizer "nunca" pois 15 dias depois da partida do meu querido pai, descobre-se que a minha querida mãe tinha um linfoma não-hodgkin dos mais agressivos, continuei agora com quimio 5 horas X 2 vezes por semana lá estávamos as duas a fazer (eu sempre a acompanhar, daí eu dizer que fizemos as duas) no mesmo hospital, só que a história anterior tinha o nome : PAI, depois o nome alterou e chamou-se MÃE. :( Vários médicos amigos, disseram-me que o linfoma a minha querida e saudosa mãe já o tinha com certeza desde sempre só que adormecido, com a carga emocional (doença do meu querido pai) o dito acordou em força. Também não penso que seja (....) [não gosto de escrever nem dizer a palavra, desculpe]. Tinha que ser, na caminhada da vida, temos que ser fortes ou não, e saber leva-la com a calma que cada situação merece, mas principalmente com muito AMOR. Beijinhos minha querida filha, muita força que vais conseguir.

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    1. Agradeço muito a sua partilha e, sobretudo, o amor na sua partilha. Na verdade, estamos ligados por laços afectivos que também são "afectados" na sua vitalidade quando os nossos adoecem e/ou nos deixam. E as cargas emocionais reflectem-se no corpo. À mãe, como doente de um linfoma e filha de um doente de linfoma e amiga de vários doentes de linfoma, eu diria que se reconstrua depois das situações mais agressivas da vida que a fizeram sentir-se impotente, desamparada, sem forças para se defender e proteger os seus. Fez tudo o que estava ao seu alcance. E o seu sistema imunitário vai levantar-se. À Isabel como filha, um grande abraço nesta viagem meio louca que só se leva com muito amor e muita alma!

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