Uma das vantagens de estar doente é a aproximação entre as pessoas. No meu caso, a doença trouxe-me a separação e a reaproximação, separação das pessoas que fizeram o meu ano de 2012 e reaproximação a pessoas que fizeram parte dos 32 primeiros anos da minha vida. Indiretamente, aproxima também essas mesmas pessoas entre elas e até outras que não conhecemos mas a quem a nossa história chega.
No dia 2 de Dezembro de 2012, depois de um ano e quinze dias em Cabo Verde, fui obrigada a viajar sem pré-aviso da Praia para Lisboa, de Lisboa para Cascais e de Cascais para o hospital. Tudo no mesmo dia. Para trás ficaram as sementinhas, espalhadas por todos os terrenos em que plantei, sem saber que não ia poder acompanhar o seu crescimento. E ficaram amigos. E os amigos não conhecem fronteiras. São alguns. Uns usaram o avião para me visitar e outros usaram a imaginação. Fotografias, textos, vídeos, desenhos, música, dança... E este post hoje é para estes últimos, os artísticos além-fronteiras que não puderam marcar presença no IPO, o Bruno, a Sära, o Marcos, os KDM... E todos os meus meninos, miúdos e graúdos, que me desejaram as melhoras no meu natal dos hospitais, porque todos são - um bocadinho ou muito - artísticos...
Recordo o dia 8 de Fevereiro de 2013, o momento em que estava na cama do hospital a olhar para o relógio à hora do 1º espetáculo KDM, associação e companhia de danças urbanas Kriol Dance Movement, das quais eu fazia parte, sabendo que eu estava lá de outra forma, com o coração, mas também sob a forma como escolheram representar-me. Lá na cidade da Praia, no Auditório Nacional. Num vídeo que passou durante o espetáculo e no corpo do Marcos que recriou a minha performance do casting em que participei, no dia 13 de Outubro de 2012. "What's love got to do with it?" dizia a música... Tudo... Porque só o amor permite estas magias. (E a imaginação do Djam, presidente do KDM!)
Hélio e Marcos "Rogo" a cortarem o cabelo em palco durante o espetáculo "AKTUS"
Por falar em pessoas que nos adivinham - dizia eu no post de ontem - os artísticos são aqueles que nos adivinham sem palavras. A vantagem de ter amigos artísticos é que a sua sensibilidade comunica com a nossa, sem ordem ou conjugação. E é aqui que só conta a intenção, porque o resto acontece sozinho. Se eu pedir ao Bruno "Djam" para dançar a minha dor, sai isto; se eu pedir à Sära para cantar "because we all have scuffed knees and need a band-aid sometimes", sai isto e se eu precisar de uma força extra, sai isto:
Pedro, Sílvia, António e Sära, praia di mar de Quebra Canela, Praia
Não posso postar todas os movimentos artísticos que contribuíram para a minha cura, nem nomear todos os amigos, mas estão todos bem guardadinhos. O que conta é a intenção. Este post também é representativo e simbólico e vai direitinho ao vosso coração, mesmo que não o saibam. É o meu lado artístico... E dizem os da "alma cara" que "o amor é mágico"... e eu acrescento que cura...
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