Há momentos na vida em que parece que levantamos vôo, nuns a sensação é muito boa, porque ficamos leves, a energia levita e de repente habitamos um jardim; noutros as sensações são tão más que parecem não encaixar no filme e na vida que continua a correr para os outros, mas desistiu de nós. E neste vôo o corpo perde as forças de tal forma que nem a gravidade lhe chega. Há dias em que sentimos "do chão não passo", porque afinal o que precisamos é de energias para nos levantar, esquecendo-nos de que podemos, sim, passar do chão, uns metros abaixo aliás! Mas, no meu filme, eu tive medo de passar do tecto! Alguém se preocupa com o tecto, a gravidade ao contrário? De repente, arrancaram-me os pés do chão e levaram-me para uma realidade paralela. "A vida não é assim, onde é que eu vim parar?"
Seja mais perto do chão ou mais perto do tecto, mais perto do céu ou mais perto do inferno, mais perto da paz ou mais perto da guerra, no limite queremos o meio, aquele onde a virtude se passeia, onde as qualidades convivem com os defeitos e onde o essencial convive com o acessório. É afinal por isso que os pés andam no chão e a cabeça nas nuvens. 50/50.
Nos momentos mais difíceis, os amigos e a família parecem crianças a passear com o seu balão de hélio nas mãos, autênticos fios condutores que nos mantêm ligados e não nos largam em momento algum. Ainda não.
Se perguntarem às enfermeiras e auxiliares do serviço de hematologia do IPO, vão saber que, mesmo cheia de fios daqueles para não voar, e tendo deixado a rita-mulher à porta do hospital, a rita-balão tinha sempre as suas unhas impecáveis, porque a mãe-balão nunca se distraía. E porque afinal o acessório também pode ser essencial, quando se trata de mais um fio que nos liga à vida. Não é de todo mau ser marioneta quando se tem as pessoas certas a agarrar nos fios.
Passados 5 meses, quando o sol voltou a brilhar de perto e o hospital passou a ser uma miragem, as unhas desfizeram-se todas de cansaço. Sabiam que já não eram... vitais.
Já descansaram o suficiente :)
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