"Via agora com clareza a verdadeira essência da condição humana no seu estado mais puro: na total e completa solidão. (...) Sozinho com o seu medo, porém, foi tomado por uma certa excitação. O que seria aquilo? Se não era masoquismo, só podia ser coragem." (Guilherme Fiuza no livro "Giane")
Confesso que quando ouvi o Reynaldo Gianecchini a primeira vez em entrevista pintando tudo tão cor-de-rosa, achei tudo muito... cor-de-rosa. Ninguém que está preso por um fiozinho ténue duas vezes, nos cuidados intensivos, pode ser imune à dor, física e psicológica - dor é dor! Mas a verdade é que a imunidade à dor tem outros contornos, a paleta de cores é diversa e o cor-de-rosa faz mesmo parte. A dor existe, mas não se sobrepõe ao amor, à paz de espírito, ao renascimento e à oportunidade que ficam quando a dor se vai embora, esgotada na sua existência, sem novas edições, porque já não há quem a compre. Não me canso de dizer que é uma escolha.
O livro "Giane" não é sobre cancro, é uma biografia de uma pessoa que se cruzou com um mestre chamado cancro, a certa altura da sua vida, e que ganhou mais uma ficha para o carroussel dos felizes.
Ler, saber, conversar e ouvir testemunhos é reconfortante. Mesmo quando nos deparamos nas pesquisas, ouvimos histórias ou conhecemos "colegas" que entretanto morreram, todas as experiências nos ajudam a situar; no meu caso, as outras histórias reforçaram a minha posição perante a doença: responsabilidade, escolhas e ação.
Entretanto, estava eu a ler o livro do Gianecchini e a ocorrer-me nas entrelinhas as tantas
coisas que lhe podia dizer... Era bom poder trocar com ele os cromos desta caderneta da vida, mas seria uma no meio da multidão, pensava eu. Estava quase no fim do livro, quando decido voltar ao início. Abro a capa e voilá... um abraço do Giane!
Livro autografado por Guilherme Fiuza, o autor, e Reynaldo Gianecchini e dedicado ao Jefferson
Qual a probabilidade de irem à Fnac - neste caso a minha querida prima - comprar um livro e trazerem um que foi "abraçado" pelos autores, autografado, para vir parar às minhas mãos, estando eu a passar por um processo semelhante? Afinal não sou mais uma no meio da multidão.
Um abraço do Giane! Não é preciso mais. Já lhe disse tudo o que tinha para lhe dizer e ele já me disse tudo o que tinha para dizer.
E, sim, é verdade que dar um pontapé no medo pode ser muito excitante. "Estava pronto para a travessia - para qualquer uma."
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