Nos hospitais públicos, não há quartos particulares. Temos de levar com os ais e os uis dos outros, como se não bastassem os nossos! Ainda levamos com a neura de um ou a boa disposição inusitada ou ainda o humor duvidoso de outros... Se isto (de estar doente) é uma treta, é uma treta! Ser inteligente, ter capacidade de adaptação e tirar partido do melhor das situações é muito giro, mas não tira a treta do filme! Por que não me dão um quartito para curtir a desgraça sozinha? Ah, é a crise!
Não. Errado. Está tudo pensado! Se estivesse sozinha num quarto, não teria conhecido um mundo de possibilidades com o mesmo nome: linfoma. Não teria percebido que cada história é uma história e que não há como comparar, mas apenas partilhar, inspirar e ser inspirado. Entrar em comparações é quase faltar ao respeito que merece a individualidade de cada um, no seu caminho, no seu processo. Em contrapartida, se estivesse sozinha num quarto, não me tinha apercebido de muitas das regras do jogo. Os médicos, a medicação, dizer que sim, dizer que não, enfermeiros, auxiliares, senhoras da limpeza, ter direitos e exigi-los, desconfiar, confiar, comparar (sim, comparar!), decidir, ouvir, conversar... Há regras, umas mais explícitas e outras mais implícitas, e tornam-se mais claras com termos de comparação. Portanto, não entremos em comparações mas não percamos as referências. São orientadoras. E se estivesse sozinha num quarto, não teria convivido com as linfobabes, todas diferentes na igualdade e às vezes iguais na diferença.
Sim, temos amigos maravilhosos, mas quem entende melhor o nosso ui, quem afina melhor no coro de ais e quem nos dá a mão ou às vezes o empurrão de que necessitamos, com maior legitimidade? As linfobabes! Somos três, porque é a conta que Deus fez e convém estar perto Dele nestas horas. É que a linfoteam cansa-se muito depressa, não faz horas extra nem está para conveniências! Também precisa de mais folgas e dias de férias porque há uma vida para lá do trabalho de estar doente. E quem mais entende a rebeldia e o chuto nas regras que com todo o direito por vezes quebramos - o direito de nos cansarmos deste jogo? Batotas à parte, queremos todas o mesmo: liberdade! Liberdade para dentro da cabeça, como diz a música, mas também para dentro das nossas veias, das nossas pernas, das nossas vísceras, das nossas ancas (sacode, sacode, Dani!), do nosso coração que às vezes fica apertadito de preocupação (não é, Sarocas?), do nosso espírito... A linfoteam não quer saber da crise, quer saber da vida! E já sabe um bocadinho mais porque "o que não nos mata torna-nos mais fortes"! Ó pá, o povo diz com cada coisa! Eu tenho para mim que, se não morremos, é porque afinal somos é bué da fortes, pá! E estamos aqui para as curvas! Não passamos é dos 50km/h, que é por causa das tosses...
(to be continued...)
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