Hoje a minha ação é pensar. Bom, hoje as ações até foram muitas, mas como isto não é um diário, refiro-me à curAção que partilho diariamente. Estava a pensar nos pressupostos da minha curAção, que são três:
1. Os doentes (também aplicável a pessoas em situação de crise e, em última análise, a toda a gente), ou melhor, os doentes físicos, mentais, emocionais, espirituais, sociais e/ou afins têm um papel ativo e responsável na sua vida, pelo que são responsáveis na doença e na cura (na pobreza e na riqueza, na vida e na morte, até que esta os separe de nós. E deles próprios.).
1.1. Aqui distinguimos responsabilidade de culpa. Também não há injustiças, porque não vejo a vida como uma sequência de prémios e/ou castigos decorrentes de bons e/ou maus comportamentos. Há, sim, escolhas e consequências. Não é verdade ou consequência. É verdade e consequência! (Responsabilidade aqui é diferente de imputabilidade!)
1.2. Quem se responsabiliza não depende dos outros para se curar. Pode precisar dos outros - e precisa! -, mas não está propriamente pendurado neles à espera de milagres. Responsabilidade é Poder. E é aqui que se dá o verdadeiro milagre.
1.3. Parte das escolhas dirá respeito a processos inconscientes. O facto de parte das escolhas serem feitas de forma inconsciente não nos retira a responsabilidade. Vou dizer outra vez. O facto de parte das escolhas serem feitas de forma inconsciente não nos retira a responsabilidade. Não é culpa, é responsabilidade.
1.4. Parte das escolhas dirá respeito a processos conscientes. Queremos aumentar esta taxa, principalmente no caminho de regresso ao estado saudável e equilibrado. (Não queremos eliminar os processos inconscientes, pois estes são responsáveis por grande parte das nossas criações. Queremos é aumentar a taxa de criações construtivas, em oposição às destrutivas. Deixemos o inconsciente continuar a fazer o seu trabalho, assim numa de artista, mas em bom!)
1.4.1. Se estivermos em silêncio, interno e externo, conseguimos ouvir o nosso inconsciente, voz interior, intuição, essência, eu superior, deus, universo, guias ou outro nome que queiramos dar, conforme formação, credo, cultura ou dia da semana (!). É melhor escolher o nome que consideramos mais forte, que nos inspira mais confiança, porque, nas alturas de maior aperto, não se brinca!
2. A criatividade tem uma função terapêutica OU ser criativo/criador corresponde ao nosso estado natural/inicial/essencial/saudável.
2.1. É da relação única entre indíviduo, neste caso, doente, e evento, materiais, pessoas ou contexto, neste caso, doença, que resulta o produto criativo, novo, original, que vem mudar a condição presente, transformando-a em algo superior. (Uma vez que acredito que estamos aqui para evoluir, só posso admitir que a condição anterior será inferior e a nova superior.)
2.2. Também criámos a doença, certo? Quem cria o bom também cria o mal! A boa notícia então é que também criamos a cura!
2.2.1. Vou baralhar isto tudo - mais um bocado - e acrescentar que entendo que o que chamamos de doença faz parte dos mecanismos de cura do nosso próprio corpo. Mas esqueçam isto por agora, para já... até ao ponto 3.
2.3. Criatividade e expressão. Pois, é que ser criativo não é para todos. É de todos, mas não é para todos. É só para os livres. Livres de espírito. E aqui entra a liberdade de expressão. E aqui ainda entram todos os meios de expressão que conheçam (armas de fogo não contam!). E também entram as artes. Mas também entram as soluções. E sobretudo os idiotas! E os loucos, claro!
2.3.1 Esta é mais fácil transcrever, que já é tarde: Liberdade Psicológica. (...) Nem em todas as circunstâncias é libertador o faCto de se exprimirem no comportamento todos os sentimentos, impulsos e formas. O comportamento pode ser limitado em determinadas circunstâncias pela sociedade e assim deve ser. Mas a expressão simbólica não tem necessidade de ser limitada. (Rogers, 2009) Expressão simbólica, senão vai tudo para a choldra! Podem-se matar uns aos outros, mas em sonhos! Ou a dançar, a representar, a pintar, a falar...
2.4. "Ah, eu faço isto por ti!" Errado. Ninguém faz nada por mim e eu não faço nada por ninguém. Quando crio, é por mim, para me satisfazer na minha missão de ser EU. Mas aceito que me acompanhem ou acompanhar-vos. Isto sozinho também não tem piada!
3. A doença tem uma função terapêutica, ainda que patológica. Confusos? A doença tem uma função! Alguém se mantém num estado se este não serve para nada, se não se tira ganhos da situação e se ainda por cima não se merece? No one no one no oooooone... (melodia da Alicia Keys, mas em baixinho, por favor).
3.1. Cada um vai refletir nisto se quiser porque já é tarde.
3.2. Na doença, o corpo é um mediador emoção-expressão e o sintoma o símbolo através do qual nos permitimos expressar. Voltem à alínea 1.3. É preciso interpretar, descodificar ou ouvir. E sentir. Voltem à alínea 1.4.1.
3.3. Alguma coisa grave - leia-se "percecionada como grave" - terá acontecido para passarmos a fatura ao corpo! É a cabeça que não tem juízo, já dizia o Variações! Ninguém se põe doente por dá cá aquela palha!
E regressem ao ponto 1., principalmente o 1.2.!
E duas citações oportunas, de Carl Rogers (2009), para terminar, porque isto afinal era apenas para pensar:
Numa época em que o conhecimento construtivo e destrutivo avança a passos gigantescos para uma era atómica fantástica, a adaptação autenticamente criadora parece representar a única possibilidade que o homem tem de se manter ao nível das mutações caleidoscópicas do nosso mundo. Perante as descobertas e as invenções que crescem em progressão geométrica, um povo passivo e tradicional não pode fazer face às múltiplas questões e problemas. A menos que os indivíduos, os grupos e as nações sejam capazes de imaginar, de construir e de rever de uma forma criadora as novas formas de estabelecer relações com essas complexas mutações, as sombras irão crescendo. (...) Não serão apenas as desadaptações pessoais ou as tensões de grupo que representarão o preço que teremos de pagar por essa ausência de criatividade, mas a aniquilação das nações.
Nenhum contemporâneo pode apreciar satisfatoriamente um produto da criação no tempo em que ele se formou e esta afirmação é tanto mais verdadeira quanto maior é a novidade da criação.
Inventem, mas pouco.
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