Post inspirado na peça "Feio" da companhia Palco 13, em exibição até ao final do mês de Novembro, no Auditório F. Lopes Graça/Parque Palmela, em Cascais.
Hoje não estou muito para elogios... muito menos a feios! E assim se começa a dissertar sobre o que o feio ou o bonito acrescenta a uma vida...
...acrescenta reacções, comentários, críticas, elogios, abre caminhos, fecha portas? Bonitos desta vida, como teria sido a vossa vida se tivessem nascido feios? Mas vamos ainda mais longe. Como teria sido a vossa vida se a vossa cara fosse outra? A nossa cara traz muita informação sobre nós, os nossos genes, a nossa família, antepassados, de onde vimos... Mas, até que ponto pode determinar para onde vamos? Como reagem os outros a toda essa informação alojada nos nossos traços, alargada à nossa linguagem corporal? E se de repente mudamos de cara, corpo e "comportamento corporal"?
Não há como dissociar identidade de corpo, até porque o nosso cartão de visita, de identidade ou do cidadão, tem de ter a nossa cara chapada. Esta sou eu, mais ninguém!
Claro que não pretendo cair no determinismo da coisa - se é loira, é burra, olhos verdes são traição e azuis ciúme, como nas canções - até porque, por detrás do olho está toda uma intenção que espelha a alma e essa tem muito mais cores do que aquela que aparece. Mas a verdade é que eu sou esta, vim com esta embalagem e não sou a outra. Este ano perdi o cabelo. Tive a sorte de ter sofrido uma mudança relativamente aceitável no que toca à identidade: não nasci com ele por isso continuo a ser sempre eu! Mas podem crer que às vezes sinto traços de personalidade distintos em mim, que estão relacionados com o meu estereótipo de mulheres de cabelo curto que sem querer incorporei. Inconscientemente ou não, associando o cabelo curto se calhar a uma energia mais masculina, sinto-me mais determinada. Não posso atirar os cabelos para o alto e esperar que caiam sensualmente ou enrolar graciosamente uma madeixa de cabelo. Nem dançar com o cabelo, caraças! É isto e pronto. Sem rodeios. Googlando sobre personalidade e estilos de cabelo:
“Geralmente quem corta o cabelo curto deseja ser menos sensível e sofrer menos interferências na vida." O cabelo comprido está associado a "pessoas mais sensíveis e bem mais flexíveis." E podia continuar a citar o que se diz por aí, mas o interessante é perceber que existem estereótipos e expectativas agidos a um nível inconsciente que nos levam a ter um determinado comportamento quando temos determinados traços ou perante alguém que tenha uma fisionomia específica.
Mais do que apelar à anulação destes fenómenos - o que importa é a beleza interior porque, afinal de contas, o intestino é bem mais importante na nossa sobrevivência do que o feitio das orelhas - o mais interessante e relevante é tomar consciência de que isto acontece e faz parte, para depois perceber o quão injustos estamos a ser se não equacionamos todas as variáveis. A linguagem corporal não traz legendas, mas estão lá, subentendidas. Subentenda-se portanto.
Fotografia das costas dos Feios, para não ferir susceptibilidades (Alfredo Matos Fotografia)
Elogio ao FEIO #2
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