Hoje não vou falar das experiências que podemos ter por si
só, mas do significado que lhes damos, porque acredito que aí reside uma grande
diferença, não só na forma como assimilamos, elaboramos e integramos a
experiência mas também nas posições, escolhas e decisões que assumimos.
Quando alguém me conta de uma pessoa a quem foi
diagnosticada uma doença grave, a primeira coisa que pergunto é como é que essa
pessoa está, física e animicamente. E ao dizer doença “grave” já estou a
qualificar e a atribuir-lhe uma carga subjetiva que traz consigo atreladas crenças,
emoções e, sobretudo, um trauma psicológico com repercussões físicas.
Ter cancro, por exemplo, não é só ter um cancro. Para uma
pessoa, pode ser “estar a morrer”, para outra pode ser “ter células más dentro de si”, “ter um bicho que tem
de ser controlado”, “ter o inimigo dentro de si”, “ter toxicidade a mais no
corpo”, “ter demasiadas mágoas e ressentimentos” etc… Para Andreas
Moritz, o cancro é um mecanismo de sobrevivência do corpo. Para mim constituiu
uma manifestação do meu corpo ou uma necessidade do mesmo se manifestar que tinha
de validar, aceitar e permitir. Para deixar vir e deixar ir, como todas as experiências da vida!
Mas, muito embora, por todos os livros que já tinha lido
sobre o assunto, tivesse já uma perspetiva não convencional, a verdade é que as
crenças partilhadas pelo mainstream
da medicina atual bem como pela sociedade em geral também estão no meu
inconsciente e, como tal, atrás do diagnóstico veio o medo, porque o
significado implica um juízo de valor: é grave, é mau, é fatal… Se é isto
que nos vendem, como dar-lhe outro significado? Ou fazer outro julgamento da
situação significa estar em negação ou em estado de não aceitação?
O que quero hoje dizer é que atrás do significado, vem o
medo ou a esperança, a impotência ou a confiança e todas as respostas
fisiológicas que correspondem às mais variadas emoções. Para Alain Jezequel, o
diagnóstico constitui 70% da doença (ou da gravidade da mesma) porque, por si
só, constitui um trauma.
Na minha opinião, quanto mais natural for a nossa forma de
lidar com os sintomas e as manifestações do nosso corpo, menor o risco de
ficarmos “presos” de uma forma crónica e permanente a esses sintomas. Se nos
vendem que é para sempre ou que é incurável, tenhamos em conta que há várias
perspetivas e que a convencional é apenas uma delas. Cabe a cada um decidir a
forma como quer encarar a experiência e o que quer para si. Mas ter este poder
também implica ser responsável, quando nos ensinam a ser, como se diz na gíria, “vítima de uma doença”. Não é fácil mudar o subtexto.
Durante o processo também percebi que os médicos são
pessoas, com medos, crenças, esperanças e motivações e que, por vezes, naquilo
que nos dizem, por trás da capa da ciência, estão precisamente medos, crenças e
convicções que podem ser diferentes dos nossos.
O que pretendo acrescentar com este post é: até que ponto é
que à objetividade dos diagnósticos, com gravidade, estadiamentos e
prognósticos não correspondem a subjetividade de crenças, emoções e vivências
de um indivíduo, de uma classe e de uma sociedade? E até que ponto isso não nos
deveria levar a relativizar um pouco as coisas? Pergunto...
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