"A luta social contra o cancro é relativamente recente. (...) A doença cancerosa, a partir do início do século XX, mais especificamente a partir da I Guerra Mundial, transforma-se em flagelo (...). As representações da doença reflectem, ainda, as condições de guerra em que emerge, prefigurando as desordens sociais e a retórica de combate que vai caracterizar a actividade terapêutica e a organização da luta contra a doença. (...) A referência ao conflito será permanente, para se conseguir dinheiro, arranjar "armas e munições" (equipamentos e meios terapêuticos) (...)
"a doença mediatiza a desordem social que, inscrita no corpo, se transforma em desordem orgânica" (Pinnel, 1992)
(in A organização da luta social contra o cancro em Portugal. Abordagem sócio-histórica. Aurora Martins)
Se
1. o cancro, depois da 1ª Guerra Mundial, se transforma em bode expiatório para os fantasmas da guerra que perduram até hoje - combate, luta, inimigo, guerra, guerreiros - dando origem à utilização citotóxicos para aniquilar o inimigo (a partir da utilização do gás mostarda nas grandes guerras mundiais e que depois começou a ser utilizado no tratamento/ataque ao cancro) e a organizações e campanhas de combate ao mal do século;
e se
2. "a sociedade estabelece a correspondência entre os seus males clínicos e as suas crises psicológicas, como se fosse o protótipo do doente psicossomático" (Mukherjee, 2012),
podemos falar de sociossomática?
E se estamos a falar de sociossomática, que febre é esta agora com o Ébola? Ouvia eu hoje na televisão: "Ninguém estava a contar com esta crise..." Pensei que o senhor estava a falar de economia mas estava a falar de saúde. Anda tudo doido com a crise, mas agora pára tudo para panicar com o Ébola que vem aí para arrasar com a Europa?
"Produção de medo, de uma forma ou de outra, é um elemento padrão em exercer o controlo de cima para baixo sobre a população. Quando as pessoas estão com medo, elas são compatíveis, elas são obedientes à autoridade." in http://prisaoplanetaria.com/2014/08/01/ebola-ou-guerra-psicologica/
E o mal vem sempre de África? Senhores, já está na hora de mudar o disco... Até na saúde os preconceitos sociais imperam...
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