terça-feira, 8 de setembro de 2015

Quarto Minguante

(este artigo não é científico, é apenas uma reflexão pessoal)

Acredito que o medo seja o grande mal da humanidade, o medo de perder o controlo, a ilusão do controlo. Os grandes desafios da vida vêm mostrar-nos que não controlamos tudo, para não dizer nada, mas a percepção de controlo é imprescindível para a saúde mental. Isto parece-me válido a vários níveis, do micro ao macro, incluindo o intrapessoal, o interpessoal e o internações. A par do medo, a projeção: vemos nos outros a sua parte que se identifica connosco, não gostamos nos outros do que não gostamos em nós e temos medo que os outros nos devolvam o pior que há em nós, que em última análise é o pior que há no ser humano.

Antes que me saltem para cima por poder estar a acusar alguém de ser igual ao seu maior inimigo, a verdade é que todos temos em nós emoções mais díficeis, sentimentos ditos negativos e impulsos destrutivos. (Podemos não entender um fundamentalista e concordamos que sentir é diferente de passar à ação, mas toda a gente sabe o que é sentir ódio ou defender alguma opinião com unhas e dentes.) Até certa medida, estes sentimentos em nós são adaptativos, constituem reações que preveem a sobrevivência, a seleção natural, mas antes demais a proteção.

Por último, a teoria do Darwin da seleção natural leva-nos à competição. Se ganha o mais forte, é bom que dominemos o outro, que exerçamos o nosso poder e controlemos o que se passa e o que não se passa mas pode vir a passar-se.

Neste pacote, em letras mais pequenas, podemos incluir a inveja, a raiva, a paranóia, a incompetência para o perdão, a incompetência para o amor, a agressividade latente em comportamentos pouco empáticos, a irritabilidade, a não aceitação da diferença (que pode não ser assim tão diferente), a impaciência, o isolamento, os muros e as fronteiras psicológicas (numa escala maior, os muros e as fronteiras que tantas vezes se materializam em conflitos armados, entre paredes ou entre países).

Podemos procurar a raíz de crenças e comportamentos que resultam nestes padrões e dizer que têm origem na sociedade patriarcal, mas talvez seja tempo de questionar e de pôr em causa esta verdade. Talvez a verdade não seja esta, talvez a receita para a sobrevivência não seja ser o mais forte e o melhor do grupo. Talvez a sobrevivência nos tempos em que vivemos hoje resida no oposto disto tudo, sem negar tudo isto em nós.

O medo e a competição estão a levar-nos à destruição, desde a destruição da auto-estima de crianças na escola que têm de ter as melhores notas e o melhor comportamento, à destruição de casamentos onde a liberdade do outro não é respeitada, à destruição de povos inteiros que são subjugados e posteriormente julgados e inferiorizados por quem teme a diferença e a mudança.

Acredito que quem me leia fique indignado com a minha indiferenciação porque meto-nos a todos dentro do mesmo saco e estou a comparar vivências pessoais a questões políticas. E o que tem uma coisa a ver com a outra? Haverá um Hitler em cada um de nós?

Hoje só quero dizer que por vezes me vejo sozinha com estas emoções mais complexas de digerir, que olho para o pior que há em mim, para o meu lado lunar, para o meu lado menos amoroso. Não gosto, tenho dificuldade em aceitá-lo e dificuldade muito maior em expressá-lo.

Não é justo promover o amor sem olhar para o medo e o ódio. Não é justo vender a nossa capacidade de colaboração sem olhar para a nossa necessidade de continuar a competir - porque os perigos espreitam (assumam estes a forma de doenças, acontecimentos, pesadelos ou pessoas). Não é justo olhar para a lua cheia (de luz) e não abraçar a lua vazia (de amor).  Por alguma razão, temos de olhar todos os dias, através das notícias e das redes sociais, para o pior de ser-se humano. Por alguma razão não posso negar a dor que existe no meu mundo e no nosso mundo. Por alguma razão, não posso dizer que na "nova era" só existe amor. Mas, por alguma razão maior, a lua escura é a NOVA, um recomeço, uma oportunidade para voltar a crescer e escolher o que queremos alimentar no novo mundo. Sou mais feliz quando abro fronteiras, quando sou capaz de abraçar e de amar, quando confio e entrego o que tenho e o que não tenho, quando substituo a competição pela capacidade de dar as mãos, unir forças e colaborar, porque a diferença tem de ser exactamente aquilo que nos falta. Nem sempre consigo, nem sempre vou conseguir, mas nos dias em que o medo impera, sei que o sol vai voltar a brilhar. E, pasme-se, o sol - quando nasce - é para todos! E esta é a melhor das democracias. Dixit.


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