sábado, 2 de maio de 2015

Rumo a Leiria #1


No Sábado passado, acordei com uma vozinha dentro de mim a chamar-me para Leiria para ir dar um abraço real e apertado à Marine, daqueles onde não moram palavras. Já sabia que ela ia estar à conversa com a Sofia Lisboa na livraria Arquivo e era uma oportunidade para conhecer também a Sofia, cujo livro me levou a fazer toda uma viagem intensa por tudo o que eu passei com os tratamentos e por tudo o que escolhi não passar. A capa do livro da Sofia ("Não desistas de viver") tem uma fotografia dela abraçada a um coração gigante. E eu, mais do que nunca, como diz a escritora Susana Tammaro, vou aonde me leva o coração. E hoje, mais do que sempre, quero estar onde está o meu coração. E é só assim que não se desiste de viver. 

A Marine e a Sofia fizeram uma entrevista de 5 perguntas, uma à outra e tocaram em questões que também me assaltam o espírito, entre elas:

1. A exposição da intimidade nos seus livros e textos: não é fácil mas pode ser uma mais valia porque, como diz a Sofia "Não contei só a minha história, contei a de outras pessoas." Cada vez mais sinto que não há identificação da parte do outro sem verdade e a verdade pede exposição, mas a verdade também tem zonas frágeis. Onde está a fronteira?

2. A identidade profissional. Tanto a Sofia como a Marine não têm uma profissão que tenha propriamente uma categoria prevista nas finanças. "Sou criativa." diz a Marine e eu adoro, porque é a melhor profissão do mundo, a que lhe permite ser o que ela quiser! Também quis ser santa... Hum... Afinal não é bem o que tu quiseres, porque gozar com o cancro é pecado! 

3. Saudades da vida A.C. (antes do cancro). Tantas vezes que eu tenho amoques e quero gritar para ter a Rita e a minha vida de volta! Com muito mais razões para celebrar do que para me queixar, mas há momentos desses! A Sofia está a aprender a viver com a Sofia de hoje, com o que tem hoje e com o que o presente lhe trás. Diria eu que é um processo de luto que, como todos, tem os seus dias. Aceitação e adaptação mas é, sem dúvida, o maior dos desafios. 

4. Estigma da palavra Cancro. É impossível esta palavra não trazer consigo crenças, preconceitos, fantasmas e todo um rol de tralha que vai muito além daquilo que se tem na realidade. Nunca se tem só um cancro. Tem-se um cancro e o mal do século, todo um karma que o século XX nos deixou para limpar no séc. XXI! 

5. Agradar a gregos e a troianos. Impossível. É preciso assumir posições, comprometer-se com aquilo em que se acredita. A reação dos outros não é da nossa responsabilidade, principalmente quando se faz o que se faz com respeito, generosidade e entrega. 

6. Morte. Falar de morte é falar do outro lado da vida. Uma das coisas que me conquistou na Marine e do seu Humor que ironiza o cancro é sentir nela a experiência da dualidade, os dois lados da moeda que a vida nos permite experimentar. Só temos de rir muito porque dói muito, só é urgente rir porque também há lágrimas para chorar, é urgente viver porque a morte nos espreita a cada esquina, é preciso exorcizar e esgotar os assuntos que nos perseguem. E depois encontrar o equilíbrio porque a vida está no meio e não nas pontas (mas também nas pontas).

As meninas dominaram e falaram com a boa disposição que não diz muito dos seus desafios, mas que diz principalmente do coração gigante que têm, aquele que sabe que, para se ser feliz, é preciso escolher ser-se feliz, independentemente das circunstâncias


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