sábado, 2 de maio de 2015

Ir e Voltar


Hoje passei pela Boca do Inferno, em Cascais. Há lugares que revisito, sozinha ou acompanhada, que não me perdem o encanto, mesmo que o turismo os vulgarize. Consigo perder-me no mar, cheia de gente por todos os lados. Ainda assim prefiro-os - aos lugares - nus, para ouvir as ondas e sentir que, para a Natureza, tudo vale a pena, tudo se transforma, tudo está no lugar certo à hora certa. E aprender que há mar e mar, há ir e voltar, há marés, há o mar que enrola na areia e ninguém sabe o que ele diz, o que bate na areia e desmaia porque se sente feliz

Fui com o J. Conheci o J. há dois meses e meio e nunca mais o larguei. Em lume brando porque ele faz questão de me refrear. Em lume aceso porque me faz redescobrir uma Rita que ainda estou a conhecer e reconhecer. É como chegar ao Paraíso e chamar-lhe Inferno, é como entrar no Inferno e descobrir o Paraíso, é como perceber que não há um sem o outro e que nos privamos dos dois quando ficamos no meio, a meio caminho. 

Com o cancro a experiência com a dualidade foi gritante, primeiro muita dor, depois muito amor e, no final, a capacidade e a disponibilidade para sentir a vida em pleno, viesse o que viesse. Passados dois anos, mantém-se a esquizofrenia, o apego emocional que permite viver cada emoção como se fosse a última e como se fosse a primeira e o desapego emocional que permite deixar ir para deixar voltar o sorriso, o riso, a lágrima, o grito, o silêncio... Quando dou por mim já estou, quando dou por mim já fui, quando dou por mim já voltei... 

O J. foi muito desejado, daqueles desejos que devíamos pensar antes de os pedir porque: a vida realiza-se. Tem um sabor agri-doce, o que até casa bem com a Rita que pede sempre pipocas-doces-e-salgadas-misturadas, mas tem sobretudo uma leveza que me tira do sério da minha vida. Ele precisa de ir e eu preciso que ele volte. Com a força do mar que entra pela falésia. Com a firmeza das rochas que abraçam o mar. Aquela que tantas vezes me falta porque estou cansada de lutar






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