Quarta-feira, 28 de Maio de 2014
Desafio
"Não é verdade que..."
Continue o texto, usando no máximo 400 palavras.
Não é verdade que gosto de
ti porque, se gostasse, não teria dúvidas de que é contigo que quero ficar,
muito menos certezas de tudo o que faz de ti o homem errado. Também não é
verdade que isto me preocupa porque, se me preocupasse, não procuraria em mim
as razões que fazem de ti a pessoa certa. Não dói. Mói. São lugares diferentes.
Qual água mole, eu quero ser dura. E o mais dura que consigo ser amolece-te
comigo. Às vezes. Poucas vezes.
Não é verdade que gosto de ti porque, se gostasse, gostava e
pronto. Não há pensamento que tenha lugar quando estou a gostar de estar
contigo. Os pensamentos saltam todos das gavetas e tenho de fugir de ti para me
querer reaproximar. Ou fugir para sempre.
Não é verdade que seja amor, mas pode ser ar-dor, se é que
me entendes. Nem sequer é verdade que precise de ti. Sou tão fingidora que
finjo a dor de estar longe de ti. Sou tão amadora que amo a dor de fazeres
parte de mim.
Será no entanto meia verdade a metade de ti que está comigo.
Aliás, há muitas meias verdades nisto porque nada é de facto mentira. Gosto um
bocadinho de ti, gostas um bocadinho de mim, gostamos um bocadinho disto e, daqui
a bocado, enfartamo-nos desta história. Mas há histórias assim, que falam a
verdade a mentir, que dizem a sua justiça a sorrir e que terminam como não começaram.
Sem problemas. Problemático.
Às vezes queremos que as coisas sejam o que simplesmente não
são. Às vezes até são mas temos medo que simplesmente sejam. Assim, as verdades
demoram a chegar porque entram numa corrida cheia de obstáculos, adversários e um
pódio onde nem sempre uma verdade chega. Ou chega tão tarde que parece mentira.
Não há pior verdade do que aquela que parece mentira. Não
acreditada, desprezada e menosprezada de tão desejada e ambicionada. Não digas
que gostas de mim porque é tudo o que quero ouvir. Não digas que me queres
porque é tudo o que quero sentir. Não posso com tudo se depois fico com nada.
Não posso com o nada disfarçado de tudo.
Por isso minto-te verdadeiramente. Não gosto de ti. Chega.
Não te chegues. Chega.
Não me chego. Chega.
Ai, chega-chega. Chega.
Título: Da agulha e do dedal
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