Sábado, 24 de Maio de 2014
Este foi o texto que me deu o 2º lugar na 2ª jornada, em 118 concorrentes.
Desafio
Escreva um texto com 20 vírgulas - nem mais uma nem menos uma.
(máximo: 400 palavras)
Tudo o que cabe num chapéu
Dava
um euro pelos teus pensamentos mas acredito que seja pouco. Nas esmolas que te
peço, encho-te o chapéu de sonhos. O que vais fazer com eles é da tua história
e não da minha. De mão ou chapéu estendidos, andamos todos de tempos a tempos.
E agora pinga. E agora não pinga. E agora chove. E agora faz sol. Sentados ou
de pé, no metro ou na rua, a amargura do pedinte é a miséria de quem se
abandona, mas o doce de quem tenta um abraço na volta. Pinga, pinga. Preciso
dele a pingar.
Escondo-me
no chapéu que me guarda da chuva dos parvos. Mal escondida, porque chapéu é
tecto mas não é parede. Se quem anda à chuva se molha, eu molho-me às vezes,
porque, se bem guardadinhos andarmos, não há quem se entregue. Mas os invernos são assim: guardamo-nos ou molhamo-nos e choramos depois. Não tivesse eu casa e
dentro da casa um coração e andaria aí de chapéu pelas ruas, sem-abrigando-me
da emoção.
Não
sei quem teve a ideia de virar o chapéu ao contrário, mas algum génio no meio
da aflição. Não há criatividade sem fonte de inspiração, necessidade ou ilusão.
Chapéu é tecto mas também é chão. É assim um “queres vir comigo?” e um “não me
digas que não!” Adivinha-me: quantas cabeças cabem debaixo de um chapéu, se uma
é pouco e três são demais?
Chapéus
são do inverno emprestados ao verão, podem ser estilo e causar sensação. Não te
queimes, não te exponhas, não te molhes, não te vivas!
Chapéus
há muitos! Se não me queres, chapéu!
Sem comentários:
Enviar um comentário