Quarta-feira, 25 de Junho de 2014
Desafio
O contrato estava assinado.
Explore o enredo, usando no máximo 400 palavras.
Era um dia como o de hoje…
Cinzento, com raios de luz que timidamente nos tocavam, uma brisa fria que
combinava com o nervoso miudinho que se impunha… e a tua expressão,
indecifrável, cinzenta para não descortinar e fria para não aquecer os ânimos.
Sempre disseste que o papel reduziria o sonho e que, amarrado, não conseguirias
amar. Sempre te disse que o papel legitimaria o sonho e que nos permitiria
voar. Juntos. Há dias cinzentos que nos permitem pensar e há dias cinzentos que
nos param o pensamento. É assim uma terra do meio, onde impera o talvez. Talvez
para sempre. Penso eu. Talvez nunca. Pensas tu. Também tenho esta estranha
mania de achar que sei o que tu pensas ou, pior, de achar que pensas muito para
além do que dizes, como eu, como se soubesses o que é esconder as palavras
atrás das nuvens, à espera da tempestade.
Acordei cansada. Já sabia que não
teria energia para te argumentar. A tempestade já fora, mas o sol ainda não
chegara. Há dias assim, em que a mudança fica suspensa e o ar preso na inspiração.
Falta uma assinatura. Falta um papel. E o sonho acabará para a vida poder
continuar. O fim dos sonhos não é triste, é só um acordar, e aprendi contigo
que se fecha os olhos para se poder amar. Fechei os olhos aos sinais, não
queria ver nem saber demais.
Chegaste primeiro, esperavas
sentado e recto no banco corrido. Se a tristeza é fria, estavas triste, mas
ainda hoje não sei. De fato cinzento, sem cor nem dor. Nem amor. Cruzei-me
contigo, mas deixámos a boa educação de parte – há alturas em que de nada
serve, a não ser mentir. E o silêncio não sabe mentir.
Usaste a esferográfica que te
ofereci, com o teu M (de maldição?), como que a dizer que vou contigo, ainda
que não. A mesma do dia dos votos. A mesma para a separação. O contrato, um dia
assinado, foi neste dia desfeito. Disseste que não havia outro jeito.
Sem contratos, a vida é
simplificada ao ponto da experiência. Não me poderia apegar sem assinar. Ele não
se poderia apegar assinando. Ainda hoje os dias cinzentos me obrigam a chorar o
que as nuvens seguram. Parece que o mundo se cala para ouvir. E o silêncio não
sabe mentir.
(silêncio)
O contrato estava assinado,
porra!
(chove lá fora… finalmente)
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