Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014
A paixão é um dos ingredientes da felicidade. Eu diria que o
amor é o ingrediente principal mas, dado a que possui por si só uma natureza
mais elevada, comecemos pelo princípio. E onde começa qualquer história de
amor? Pela paixão… Então, para mim, uma vida plena e feliz é uma história de
amor, apimentada por paixões que nos conduzem e nos mantêm vivos e saudáveis.
Como reconhecer a paixão? O brilho nos olhos, as mãos a
tremelicar, as borboletas no estômago, a pele arrepiada? Sim, a paixão é sensorial
e autónoma; não tem uma fórmula exacta, mas percorre-nos. Às vezes é discreta,
outras vezes mais assolapada, mas acredito que a paixão certa é aquela que nos
permite sentir em casa e felizes por
regressar a casa, daí que todos os
receptores nervosos respondam em consonância. Há um re-conhecimento. É isto. Ou
será isto o amor?
A paixão não existe sem alegria e entusiasmo. São
primos-irmãos, emparelhados. Nem a felicidade. O que na vida te dá alegria? Quando
te vês entusiasmado? O que te permite manifestar o melhor de ti? O que te surge
das entranhas? Não há paixão que não se entranhe ou desentranhe! Não há paixão
que não seja visceral! Não há paixão que não seja orgânica! A paixão mora no sistema nervoso autónomo e não no central. É tão periférica que nos abraça e nos leva a abraçar o mundo.
Acredito que o principal problema dos desapaixonados pela
vida que andam deprimidos pelos cantos – sempre têm as paredes para os amparar
caso aconteça alguma coisa – é a perda dessa ligação com o mais simples e
barato da vida: o que lhes dá PRAZER, o toque, o cheiro, o sabor, o som, a
imagem, a intuição, exponenciadas em múltiplas experiências. Está tudo na Mãe-Natureza e na nossa natureza e está ao
nosso alcance diariamente! O que te desperta para além de um balde de água
fria? (nada contra os baldes de água fria nas alturas certas, quando nada mais
funciona.)
Vivemos numa sociedade desapaixonada que acredita que viver
é trabalhar para pagar as contas, fazer acontecer para agradar e corresponder a
determinados padrões e expectativas, procurar alcançar objectivos que são
coisas que ainda não existem para perderem o que vai existindo pelo caminho,
ganhar dinheiro, ter títulos universitários e pós-universitários, ter e ter.
Depois anda meio mundo, senão o mundo todo, à procura do que já foi mas não se
lembra do que é.
Saber o que se é implica saber do que se gosta e vice-versa
e só a paixão pela vida e as borboletas intraviscerais podem guiar-nos pelo
caminho certo, sendo que é preciso sair do casulo para se reaprender a voar.
Não esperem grandes alaridos e montanhas-russas, mas calem-se porque a voz é
silenciosa e não se faz gritar. Sem silêncio não se sente, não se ouve, não se
saboreia, não se vê, não se vive. Deixem o silêncio manifestar-se e o bichinho
falar.
P.S. Não falo da paixão prima do medo, aquela que faz o mundo acabar; falo da paixão prima do amor, aquela que faz o mundo começar.
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